Por Marcelo Henrique
Pense no trabalho que você realiza na Instituição Espírita com a qual mantém laços de afinidade. Recorde todos aqueles momentos em que, desinteressadamente, você deixou seus afazeres particulares, para realizar algo em prol dos outros – e, consequentemente, para si mesmo. Compute todas aquelas horas que você privou seus familiares e amigos mais diletos da convivência com você, por causa desta ou daquela atividade no Centro. Ainda assim, rememore quantas vezes você deixou seu bairro, sua cidade, e até seu estado ou país, para realizar alguma atividade espírita, a bem do ideal que abraçaste... Pois bem, foram vários os momentos de serviço, na messe do Senhor, não é mesmo? Quanta alegria experimentada, quanta gente nova que você conheceu, quantos “amigos” você cativou, não é assim?
Tão próximos... Você e os outros... Pareciam, até, uma família!
Agora, dedique alguns minutos de sua atenção para vislumbrar o cenário que vamos reproduzir aqui. Garantimos que ele é a mais pura expressão da verdade. A semelhança deste relato com os fatos e acontecimentos da vida real não terá sido mera coincidência.
A personagem de nossa história é uma senhora idosa, 70 e poucos anos. Depois de uma vida ativa, no serviço público, no intercâmbio familiar, onde criou seus filhos e netos, e do trabalho de algumas décadas nas instituições espíritas da região, em diversificadas atividades, adoeceu. Gravemente enferma, não pode mais se dirigir ao centro, para continuar fazendo com carinho o que sempre fez, atender àqueles a quem tanto consolou e amou. Dos amigos do centro, apenas uma vaga lembrança, porque nunca recebeu uma visita, nem daqueles que lhe eram mais próximos, com os quais nutria uma maior afinidade. Abandonada, até pelos entes mais próximos, está triste, deprimida, desconsolada...
Onde estão nossas tão decantadas fraternidade e solidariedade espíritas? Onde foram parar seus “amigos”? Até que ponto nós que ombreamos lado a lado as atividades da seara espírita prezamo-nos mutuamente, de modo que, entre nós, além do coleguismo do convívio, sejam formados laços reais de amizade e companheirismo?
Ou será que eles, os colegas de trabalho e atividade espírita não perceberam que aquela senhora, de repente, não apareceu mais? Que ela possa estar doente ou necessitada? Será que ela não estará precisando de alguma coisa? Ou, transmutando a situação para nós, que estamos “no centro”, será que nunca perguntamos onde os membros do nosso grupo moram, nem nunca fomos fazer-lhe uma visita, só para saber onde eles moram? Ou, ademais, nunca os recebemos em nossa casa, porque nos falta tempo, ou porque “não queremos misturar as coisas”?
Sentimo-nos muito tristes...
Decepcionados conosco mesmos...
E, ao vermos tanta perda de tempo no movimento dos espíritas, para discutir “o sexo dos anjos”, a “pureza doutrinária”, “o que é ou o que não é espiritismo”, se “é ou não é religião”, se Cristo “foi isto ou aquilo”, se aquela casa, que realiza a atividade “x”, “é ou não é genuinamente espírita”, que deixamos de lado a “poesia” da mensagem espírita, que consola e esclarece, que levanta e acaricia, que intui e liberta, fique presa aos condicionamentos e às exterioridades dos rótulos, da presunção, da arrogância, da prepotência, da “seleção espiritual” conforme nossos requisitos (pessoais) de conveniência e oportunidade.
Choramos... Ao visitá-la, porque seu carinho para com o trabalho de imprensa espírita que realizamos, e o seu receio de que ela estivesse atrasada no pagamento da assinatura do periódico a levou a telefonar para nós, percebemos o quanto necessitamos uns dos outros, e como somos duros e rudes com nossos semelhantes...
Decepcionados – conosco e com os outros – nos vimos naquela irmã, imaginando o que nos pode acontecer daqui há algumas décadas... Será que também padeceremos do abandono, da solidão, da falta de carinho? Será que também mendigaremos uma visita, um atendimento, uma conversa, ou ficaremos, sós, à espera da morte? O que aconteceu com aquele grupo grande, com muita alegria e conversa, que se reunia semanalmente no centro? Com certeza, não sentiram a falta da velha senhora, ou porque nos achamos melhores do que os outros, ou porque ela era mais um número de nossas estatísticas, já tendo sido substituída por alguém mais jovem, mais atuante, mais risonho...
Então, meu amigo, minha amiga, o que você acha que lhe espera, daqui a alguns anos?
Tão próximos e tão distantes... Eu, você e os demais “trabalhadores” espíritas se preocupam tanto com o “caráter” do trabalho, com os “resultados”, com o “cumprimento de obrigações e regulamentos”, que esquecemos de ser gente...
Que pena!
Mas, ainda é tempo de mudar este quadro... Hoje, amanhã, na próxima vez que você voltar ao centro. Conte aos seus “colegas” esta história, e proporcione um debate e uma reflexão, no cenário da casa em que você trabalha... Mude paradigmas, empreste mais “humanidade” às tarefas, transformando o convívio maquinal e obrigatório em uma relação de sólida amizade e bem-querência...
Humanize sua Instituição!
Amanhã, poderá ser tarde, muito tarde...
COMENTÁRIO ELABORADO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - IA (GEMINI)
ResponderExcluirO texto confronta o leitor, trabalhador da seara espírita, com a discrepância dolorosa entre o ideal de amor e união pregado pela Doutrina e a fria realidade do abandono de uma colega idosa e enferma.
A narrativa da senhora esquecida pelos "amigos" do Centro — após décadas de serviço dedicado — serve como um espelho chocante. Ela questiona a profundidade dos laços estabelecidos: seriam eles amizades reais ou apenas coleguismo maquinal e condicional, limitado ao espaço e tempo da atividade?
O autor critica o foco excessivo em debates doutrinários estéreis ("o sexo dos anjos", "pureza doutrinária") em detrimento da essência humanizadora da mensagem espírita: o carinho, a visita, o companheirismo nas horas de necessidade.
A mensagem final é um apelo urgente à mudança de paradigma: transformar o convívio obrigatório em relações de sólida amizade e bem-querença, humanizando as instituições antes que o leitor se encontre na mesma situação de solidão.
Em suma, é um alerta severo para que os trabalhadores não se esqueçam de "ser gente" e pratiquem a caridade não apenas no discurso ou na atividade, mas na vida real e no acolhimento mútuo.