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AS CASAS ESPÍRITAS NÃO SE ENVOLVEM EM POLÍTICA PARTIDÁRIA

 

 Por Wilson Garcia

“É, pois, necessária a união da Inteligência e da moralidade para haver legítima preponderância, a que a massa se submeterá, confiada em suas luzes. Esta será a última aristocracia, sinal do advento do reino do bem na Terra”. Esta previsão é da Allan Kardec e está contida em Obras Póstumas. Apesar de haver mais de um século que foi feita, pode-se notar que a oportunidade do brasileiro ser dirigido por uma aristocracia intelecto-moral, resultado da união da inteligência com a moralidade, como quis o Codificador, está ainda bastante distante. Desejar estar sob a direção de homens inteligentes e moralizados é ainda um sonho nos nossos dias.

No entanto, as eleições estão aí. A cada dois anos os cidadãos deste País se encontram diante da oportunidade de votar e renovar, manter, modificar, fortalecer ou excluir políticos. E o quem tem a ver o espírita com isso? E a casa espírita, como se porta nestes instantes graves? Ambos, diríamos, com naturalidade e participação, guardados os limites de cada um.

Para que serve o cidadão espírita, se não for para participar ativamente da sociedade e ajudar a transformá-la para melhor? Ora, o Espiritismo não cria parasitas, homens inertes, para que se portem alheios ao que se passa em seu redor. Pelo contrário, a Doutrina Espírita os quer participativos, integrados ao meio, agentes do bem social. Assim sendo, sua ação neste momento quem que o povo deve ir às urnas é tão necessária quanto a de qualquer outro cidadão.

O que se espera de um cidadão espírita é um comportamento diferenciado, onde prepondere a inteligência e a moral, seja ele um cidadão comum seja um candidato a cargo público. No momento do voto, pela inteligência saberá discernir entre os enganadores e interesseiros e os políticos sérios, bem intencionados e corajosos o bastante par pôr em prática seus projetos. Se candidato, seu comportamento será o de um homem que conhece seus limites, que não faz promessas vãs, impossíveis. Mas, que, conhecendo a realidade social e sem interesses outros que não sejam trabalhar, para o povo, se coloca à disposição para ocupar os cargos a que se candidata.

A presença da casa espírita neste contexto é, de certa forma, um pouco diferente. O seus horizontes lhe indicam que deve participar, de um lado, e ter cautela, de outro. Participar através da orientação clara, segura, aos seus frequentadores, de modo a oferecer-lhes condições de raciocinar sobre as questões políticas e poder decidir. Não se trata de mandar votar neste ou naquele, isto é óbvio, mas de ensinar a usar a razão para votar bem e certo, de acordo com a consciência.

A cautela advém de determinados “perigos”. E dois deles se apresentam como os mais próximos: o uso da casa espírita como palanque e o engajamento político-partidário. Ambos inadmissíveis. Mas que não se confundam as coisas. Cautela não é proibição pura e simples da abordagem de assuntos políticos, mesmo porque quando a proibição impera, impera também a irresponsabilidade, a fuga do compromisso de orientar e bem o frequentador. Cautela é uma ação equilibrada que impede o estabelecimento de compromissos inconvenientes.

Muitos políticos e até falsos espíritas vão atrás das casas espíritas para obter seu apoio, muitas vezes em troca de favores, com a promessa de conseguir terrenos, prédios públicos e outros. A única coisa que exigem é que a casa lhe abra as portas para que eles exponham aos frequentadores o seu pensamento. Em primeiro lugar, ninguém pode garantir o cumprimento dessas promessas de campanha; em segundo lugar, tal atitude é totalmente imoral. Dar guarida a este tipo de candidato é contribuir para a manutenção do “status quo”, da política de interesses particulares, em detrimento da vinda da aristocracia intelecto-moral preconizada por Kardec.

Por outro lado, há que se separar a participação de certos dirigentes, que, tendo em vista sua presença – muito justa – em determinados partidos políticos, muitas vezes confundem as coisas e querem transformar o seu centro espírita numa extensão do partido. Nem uma coisa nem outra pode acontecer, ou seja, nem o partido político pode ser transformado em centro espírita nem o centro em partido. Cada um tem sua função.

Cada cidadão espírita tem o direito de agir socialmente da forma como lhe convier e de se filiar ao partido de seu interesse. Caso queira – e isto é aconselhável quando possui vocação – pode se candidatar aos cargos públicos. Mesmo porque, se souber se comportar como ensina o Espiritismo, muito terá para ajudar, a melhorar as nossas instituições políticas. Só não pode e não deve é usar o movimento espírita para alcançar objetivos políticos.

A ação política séria não acena com favores. Em sã consciência, ninguém vota em determinado político na esperança de obter dele favores pessoais. Esse tipo de política só interessa aos grupos dominadores, que não se importam com as condições miseráveis em que vive o nosso povo. Expressa, quando acontece, o egoísmo particular. É condenável a nível de pensamento espírita.

A união de casas espíritas com partidos políticos traz graves desvios. Em primeiro lugar, por levar para dentro de casa a discussão em torno de interesses políticos, com a intenção de alguns dominar o voto de outros. Isto gera a eliminação da liberdade de opção que cada pessoa possui. A tendência será de criação de um clima de confusão totalmente prejudicial aos desígnios maiores da casa.

Por isso mesmo a casa espírita é apartidária. A política alie pode servir de estudo como tema amplo, geral, sem entrar no mérito dos interesses classistas, de grupos como meio de forçar a que todos tenham visão única das coisas. Como a política faz parte da vida do cidadão e da sociedade, consequentemente, deve ser preocupação de tantos quantos se dedicam a criar a sociedade justa e de paz. E entre estes se encontra a cada espírita.

A questão, portanto, parece clara. Espiritismo e política partidária são coisas que não se misturam. Espiritismo e política, esta no sentido amplo, são temas que se tocam e influenciam. É bom pensar

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