Pular para o conteúdo principal

REVISÃO EXISTENCIAL - PARTE FINAL

 

Por Jerri Almeida

O preceito do amor ao próximo, também foi visto como algo bastante inviável para a natureza humana, por seu instinto agressivo, por sua ancestral brutalidade. Mas, mesmo ignorado pela grande maioria dos habitantes do planeta, o afastamento do amor em nada contribuiu para o melhoramento das relações humanas. Sem o imperativo do amor, a vida tornou-se vazia, mesmo quando cercada por riquezas materiais. A violência aumentou e, com ela, a insegurança nos leva ao velho dilema sobre a vida e o viver.

A indisposição humana para o “amar ao próximo como a si mesmo” não criou um mundo melhor, pelo contrário, deixou um vácuo, uma lacuna insubstituível. Ainda hoje, ideias não faltam quando se discute os problemas da convivência, da intolerância e dos preconceitos. Todavia, as alternativas oferecidas por pensadores e autoridades, são sempre pelo viés intelectual. Enquanto isso, milenarmente, o pensamento religioso e filosófico do Oriente, buscou na espiritualidade caminhos mais coerentes para a não-violência e para a convivência pacífica.

Mas para muitas criaturas, ainda hoje, o amor é uma idealização, muito vinculada ao mistério, ao romance, à paixão, quando não, um mero roteiro literário. Enquanto isso, o instinto, a violência, o desrespeito, avançam em todos os meios. Colocamos o amor no patamar do discurso, numa espécie de redoma de vidro, sendo tirado dali apenas para uso no meio familiar, quando se é correspondido, naturalmente. O resto deixou-se para os “religiosos” de profissão.

 Muitos no mundo sentem a necessidade de amar, mas não sabem exatamente o que fazer, como e quando proceder. Esse é um notável começo, ou seja, perceber, naturalmente, lá no fundo da alma, a necessidade de amar. Nessa proposta está o foco de uma verdadeira revolução na convivência. Isso ocorre na essência do próprio ser humano que passa a modificar impulsos e sentimentos, não para a conquista do céu ou de elevação espiritual, mas para viver melhor a vida, com mais plenitude e felicidade.

O Espiritismo chamou-nos a atenção para essa postura tão simples, e tão necessária. Revisitou os ensinamentos de Jesus sob uma ótica inovadora, demonstrando que o amor, sim, faz parte do potencial humano. Retirou, assim, o amor do patamar dos sentimentos inatingíveis, para aproximá-lo da vida cotidiana, da convivência diária.

A revolução da convivência, para nós espíritas, poderia bem ser exercitada no espaço da Sociedade espírita. Entre os irmãos de ideal. Não deixaremos de ter conflitos, divergências, desentendimentos, posições diferentes sobre determinados assuntos, etc. Entretanto, quando o amor está, verdadeiramente, no leme, conduzindo as rotas de nossas vidas, os desafios são enfrentados de outra forma. Mesmo as “brigas”, quando sustentadas no amor, não se tornam agressivas.

Por isso, a “boa nova” trazida pelo cristianismo, o “amor”, representou desde o início, uma proposta revolucionária, capaz de engendrar grandes transformações no relacionamento humano. Logo, a proposta revolucionária do “amar ao próximo” não se relaciona com  a conquista da salvação após a morte física, ou coisa do gênero, mas com a conquista da harmonia na convivência diária.

O Espiritismo, em termos de comportamento, nada impõe ou obriga. Deixa que cada um delibere sobre seus atos, com base em sua própria consciência. Todavia, todo o conjunto de ensinamentos teóricos da Doutrina objetiva um fim prático, inovador, para sustentar mudanças no indivíduo e, por extensão, na sociedade. Essas mudanças, obviamente, são gradativas e ocorrem a partir do nível mental para o comportamental. Permeando as várias fases desse processo está a educação dos sentidos, instintos e sentimentos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

DIA DA ESPOSA DO PASTOR: PAUTA PARASITA GANHA FORÇA NO BRASIL

     Imagens da internet Por Ana Cláudia Laurindo O Dia da Esposa do Pastor tem como data própria o primeiro domingo de março. No contexto global se justifica como resultado do que chamam Igreja Perseguida, uma alusão aos missionários evangélicos que encontram resistência em países que já possuem suas tradições de fé, mas em nome da expansão evangélico/cristã estas igrejas insistem em se firmar.  No Brasil, a situação é bem distinta. Por aqui, o que fazia parte de uma narrativa e ação das próprias igrejas vai ocupando lugares em casas legislativas e ganhando sanções dentro do poder executivo, como o que aconteceu recentemente no estado do Pará. Um deputado do partido Republicanos e representante da bancada evangélica (algo que jamais deveria ser nominado com naturalidade, sendo o Brasil um país laico (ainda) propôs um projeto de lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa e quando sancionado pelo governador Helder Barbalho, no início deste mês, se tornou a lei...

CONFLITOS E PROGRESSO

    Por Marcelo Henrique Os conflitos estão sediados em dois quadrantes da marcha progressiva (moral e intelectual), pois há seres que se destacam intelectualmente, tornando-se líderes de sociedades, mas não as conduzem com a elevação dos sentimentos. Então quando dados grupos são vencedores em dadas disputas, seu objetivo é o da aniquilação (física ou pela restrição de liberdades ou a expressão de pensamento) dos que se lhes opõem.

OS ESPÍRITAS E O CENSO DE 2022

  Por Jorge Luiz   O Desafio da Queda de Números e a Reticência Institucional do Espiritismo no Brasil Alguns espíritas têm ponderado sobre o encolhimento do número de declarados espíritas no Brasil, conforme o Censo de 2022, com abordagens diversas – desde análises francas até tentativas de minimizar o problema. O fato é que, até o momento, as federativas estaduais e a Federação Espírita Brasileira (FEB) não se manifestaram com o propósito de promover um amplo debate sobre o tema em conjunto com as casas espíritas. Essa ausência das federativas no debate não chega a ser surpreendente e é uma clara demonstração da dinâmica do movimento espírita brasileiro (MEB). As federativas, na realidade, tornaram-se instituições de relacionamento público-social do movimento espírita.

JUSTIÇA COM CHEIRO DE VINGANÇA

  Por Roberto Caldas Há contrastes tão aberrantes no comportamento humano e nas práticas aceitas pela sociedade, e se não aceitas pelo menos suportadas, que permitem se cogite o grau de lucidez com que se orquestram o avanço da inteligência e as pautas éticas e morais que movem as leis norteadoras da convivência social.  

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

“Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)             Por Jorge Luiz                  Cento e sessenta e três anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.” ...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia: