Pular para o conteúdo principal

CIDADANIA - DIREITO E DEVERES DE TODOS

 


Por Doris Gandres

N’O Livro dos Espíritos, na questão 573, quando Allan Kardec pergunta qual a missão dos espíritos encarnados, a Espiritualidade maior que com ele trabalhou na elaboração da doutrina espírita responde: “Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais”.

Eis, portanto, confirmado, mais uma vez, o ensinamento de que nós aqui reencarnados é que somos os responsáveis pelas condições de vida material em sua integridade e totalidade. Cabe a nós e não aos espíritos desencarnados promover atitudes e ações necessárias ao desenvolvimento benéfico para todos e em todos os sentidos. Diante desse ensinamento, não podemos delegar a entidades (tais como o governo, a sociedade) a tomada de decisões e a realização de tarefas, de forma abstrata e impessoal – cada um de nós é o governo e a sociedade, unidos, de forma ativa, passiva ou omissa.

Estamos nos aproximando de mais uma oportunidade de exercer de forma ostensiva a nossa cidadania, o nosso dever de “homem de bem”, contribuindo para o estabelecimento de sistemas operacionais e gerenciais que sejam do interesse da coletividade e não apenas de uma restrita classe: trata-se do voto nas eleições que se aproximam. É chegada a hora de avaliarmos os candidatos – mas não somente ouvindo ou vendo a propaganda eleitoral obrigatória, onde todos se apresentam como verdadeiros benfeitores da humanidade, mas procurando conhecer a vida pessoal e pública dos pretendentes ao nosso voto, a procuração que lhes passaremos para agir em nosso nome, pois é o que acontece com aqueles que nós nomeamos...

Bastante esclarecida a declaração da Sra. Zilda Arns ao afirmar: “O perfil do candidato que eu gostaria é o de uma pessoa preparada, que saiba administrar as tempestades globalizadas e que, além da estabilidade da moeda, faça com que haja mais desenvolvimento para gerar mais empregos e cuide da saúde e da educação”. Certamente, essa “pessoa preparada” a que se referiu a ilustre trabalhadora no bem não seria preparada apenas cultural e intelectualmente, mas, sobretudo, ética, moral e fraternalmente. Pessoa preparada para reconhecer no outro o próximo, o irmão, quem quer que fosse e onde quer que fosse. Reconhecer para o outro os mesmos direitos e deveres que para si próprio.

E nós, espíritas, conhecendo a abrangência da nossa doutrina, que nos demonstra com clareza e transparência como tudo se encadeia no universo, não podemos pretender ser apolíticos, não podemos continuar a pensar (e até a declarar) que política não é coisa para espírita se envolver – um dos mais conceituados espíritas do meio espírita, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, exerceu por mais de uma vez cargo político. Dr. Bezerra disse a Divaldo Franco: “Quando você votar e o país tomar um rumo, então você é o responsável, porque o rumo que o país seguir será o resultado do homem que você escolheu. Se você escolheu porque tinha interesses pessoais e não os interesses da comunidade, você responderá pelo carma histórico e coletivo que virá” (revista Presença Espírita, mai-jun 1989).

Torquato Neto, poeta e escritor piauiense, certa vez disse: “É preciso que haja alguma coisa alimentando o meu povo: uma vontade, uma certeza, uma qualquer esperança”. E, realmente, é mais ou menos isso que se percebe hoje: falta vontade de reagir, de acordar, de sair do comodismo, de vencer o medo; falta uma esperança qualquer de atingir uma determinada meta renovadora, positiva, capaz de levantar o ânimo das criaturas desesperançadas e desesperadas e instigá-las à ação edificante; falta a certeza de que é possível, de que somos capazes de, bem intencionados e atuantes, superarmos esse período de inseguranças, desrespeito e violências, de ausência de fraternidade e generosidade.

Em Obras Póstumas, no capítulo Credo Espírita, Kardec adverte: “A questão social não tem pois por ponto de partida a forma de tal ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas (...) Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável extirpar a corrupção”. E isso de extirpar a corrupção começa dentro de nós, na análise imparcial e rigorosa das nossas intenções e atitudes, porque, muitas vezes, pequenos atos até considerados normais e aceitáveis porque muito praticados e difundidos, são o primeiro degrau para a escalada da corrupção interior que, como traça devastadora, corrói valores nobres e cresce sempre mais e mais.

O lúcido mestre espírita conclui o alerta acima afirmando: “Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente (...) O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade já nesta vida”.

Então, companheiros de ideal, vamos abandonar os velhos conceitos que viemos abraçando há tanto tempo, certos de estarmos assim protegidos e garantindo nosso lugar ao sol e, finalmente, assumir nossa responsabilidade como “seres inteligentes da criação”. (LE q.76).

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

SOCIALISMO E ESPIRITISMO: Uma revista espírita

“O homem é livre na medida em que coloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar a ordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devem dar-se nas mãos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.” ( Arthur Conan Doyle) Allan Kardec ao elaborar os princípios da unidade tinha em mente que os espíritas fossem capazes de tecer uma teia social espírita , de base morfológica e que daria suporte doutrinário para as Instituições operarem as transformações necessárias ao homem. A unidade de princípios calcada na filosofia social espírita daria a liga necessária à elasticidade e resistência aos laços que devem unir os espíritas no seio dos ideais do socialismo-cristão. A opção por um “espiritismo religioso” fundado pelo roustainguismo de Bezerra Menezes, através da Federação Espírita Brasileira, e do ranço católico de Luiz de Olympio Telles de Menezes, na Bahia, sufocou no Brasil o vetor socialista-cristão da Doutrina Espírita. Telles, ao ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ESPIRITISMO E POLÍTICA¹

  Coragem, coragem Se o que você quer é aquilo que pensa e faz Coragem, coragem Eu sei que você pode mais (Por quem os sinos dobram. Raul Seixas)                  A leitura superficial de uma obra tão vasta e densa como é a obra espírita, deixada por Allan Kardec, resulta, muitas vezes, em interpretações limitadas ou, até mesmo, equivocadas. É por isso que inicio fazendo um chamado, a todos os presentes, para que se debrucem sobre as obras que fundamentam a Doutrina Espírita, através de um estudo contínuo e sincero.

O BRASIL CÍNICO: A “FESTA POBRE” E O PATRIMONIALISMO NA CANÇÃO DE CAZUZA

  Por Jorge Luiz “Não me convidaram/Pra esta festa pobre/Que os homens armaram/Pra me convencer/A pagar sem ver/Toda essa droga/Que já vem malhada/Antes de eu nascer/(...)/Brasil/Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil/Qual é o teu negócio/O nome do teu sócio/Confia em mim.”   “ A ‘ Festa Pobre ’ e os Sócios Ocultos: Uma Análise da Canção ‘ Brasil ’”             Os verso s acima são da música Brasil , composta em 1988 por Cazuza, período da redemocratização do Brasil, notabilizando-se na voz de Gal Costa. A música foi tema da novela Vale Tudo (1988), atualmente exibida em remake.             A festa “pobre” citada na realidade ocorreu, realizada por aqueles que se convencionou chamar “mercado”,   para se discutir um novo plano financeiro, para conter a inflação galopante que assolava a Nação. Por trás da ironia da pobreza, re...

TRAPALHADAS "ESPÍRITAS" - ROLAM AS PEDRAS

  Por Marcelo Teixeira Pensei muito antes de escrever as linhas a seguir. Fiquei com receio de ser levado à conta de um arrogante fazendo troça da fé alheia. Minha intenção não é essa. Muito do que vou narrar neste e nos próximos episódios talvez soe engraçado. Meu objetivo, no entanto, é chamar atenção para a necessidade de estudarmos Kardec. Alguns locais e situações que citarei não se dizem espíritas, mas espiritualistas ou ecléticos. Por isso, é importante que eu diga que também não estou dizendo que eles estão errados e que o movimento espírita, do qual faço parte, é que está certo. Seria muita presunção de minha parte. Mesmo porque, pelo que me foi passado, todos primam pela boa intenção. E isso é o que vale.

O ESPIRITISMO É PROGRESSISTA

  “O Espiritismo conduz precisamente ao fim que se propõe todos os homens de progresso. É, pois, impossível que, mesmo sem se conhecer, eles não se encontrem em certos pontos e que, quando se conhecerem, não se deem - a mão para marchar, na mesma rota ao encontro de seus inimigos comuns: os preconceitos sociais, a rotina, o fanatismo, a intolerância e a ignorância.”   Revista Espírita – junho de 1868, (Kardec, 2018), p.174   Viver o Espiritismo sem uma perspectiva social, seria desprezar aquilo que de mais rico e produtivo por ele nos é ofertado. As relações que a Doutrina Espírita estabelece com as questões sociais e as ciências humanas, nos faculta, nos muni de conhecimentos, condições e recursos para atravessarmos as nossas encarnações como Espíritos mais atuantes com o mundo social ao qual fazemos parte.

OS ESPÍRITAS FAZEM PROSELITISMO?

  Por Francisco Castro (*) Se entendermos que fazer proselitismo é montar barracas em praça pública, fazer pessoas assinar fichinha, ou ter que fazer promessa de aceitar essa ou aquela religião? Por outro lado, se entendermos que fazer proselitismo significa fazer visitação porta a porta no sentido de convencer alguém, ou de fazer com que uma pessoa tenha que aceitar essa ou aquela religião? Ou, ainda, de dizer que essa ou aquela religião é a verdadeira, ou de que essa ou aquela religião está errada? Não. Não, os Espíritas não fazem proselitismo! Mas, se entendermos que fazer divulgação da existência da alma, da reencarnação, da comunicabilidade dos Espíritos, da Doutrina dos Espíritos, do Ensino Moral de Jesus e de que ele é modelo e guia da humanidade e não de certa parcela de uma nacionalidade ou de uma religião? A resposta é sim! Os Espíritas fazem proselitismo sim! Qual seria então a razão de termos essa grande quantidade de jornais e revistas espírita...

É HORA DE ESPERANÇARMOS!

    Pé de mamão rompe concreto e brota em paredão de viaduto no DF (fonte g1)   Por Alexandre Júnior Precisamos realmente compreender o que significa este momento e o quanto é importante refletirmos sobre o resultado das urnas. Não é momento de desespero e sim de validarmos o esperançar! A História do Brasil é feita de invasão, colonização, escravização, exploração e morte. Seria ingenuidade nossa imaginarmos que este tipo de política não exerce influência na formação do nosso povo.