Pular para o conteúdo principal

INSTABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES HUMANAS

 

Por Orson P. Carrara

É consenso, até pela realidade dos dias atuais e complexidade das circunstâncias, que vivemos dias de insegurança, de instabilidade social. Todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas vivem agitação que perturba e traz aflições variadas, com desdobramentos lamentáveis. Isso porque a imaturidade humana se reflete na vida social e nas instituições que agregam variados segmentos de atuação de homens e mulheres, sejam essas pessoas autoridades, pessoas comuns ou famosas, lideranças de qualquer segmento, influenciado negativamente o transitar da vida.

Os desdobramentos aí estão com enfermidades que se multiplicam – especialmente devido ao peso das emoções em desequilíbrio – por vários fatores, o desemprego, separações, crimes de todo tipo (inclusive a lamentável corrupção galopante que se insere em tudo) e as dificuldades de todo tipo nos relacionamentos, além da própria tensão da vida social. Nem é preciso citar ampliar as citações. As ocorrências nos afetam diretamente a todos.

Um parágrafo, todavia, de um gênio da Humanidade, um autêntico benfeitor que ainda será reconhecido no tempo, situa a causa de todo esse difícil quadro do momento. Peço ao leitor ler e reler, atentamente, no detalhe das expressões ou no todo do texto, a abrangência desse pequeno parágrafo:

“(...) Constituem (...) o penhor da paz, da tranquilidade e da estabilidade nas coisas da vida terrestre. Eis porque todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nessas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a rocha. Os homens as conservarão, porque se sentirão felizes nelas. As que, porém, forem uma violação daquelas palavras, serão como a casa edificada na areia: o vento das renovações e o rio do progresso as arrastarão.”

Notem os leitores que no curto parágrafo há um amplo olhar sobre nossa realidade. Talvez o leitor se pergunte:  a) Quais palavras? b) Qual o simbolismo da casa construída sobre a rocha? c) E da casa edificada na areia? d) E como entender o vento das renovações e o rio do progresso? e) E como assim, as arrastarão?

Antes de maiores considerações, as palavras a que se refere o autor, como ele mesmo afirma no início do mesmo parágrafo e que na transcrição omitimos, “São eternas as palavras de Jesus, porque são a verdade (...)”. O autor do citado parágrafo é Allan Kardec, Codificador do Espiritismo. O parágrafo está no capítulo XVIII – Muitos os chamados, poucos os escolhidos, constante de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no subtítulo: Nem todos os que dizem: “Senhor! Senhor!” – entrarão no Reino dos Céus.

Já percebe o leitor que a expressão Reino dos Céus abre outra perspectiva que amplia o raciocínio, já que ele não constitui um lugar, mas sim um estado interior, de felicidade, paz consciencial. E considerando que as palavras de Jesus constituem a verdade, são eternas e estáveis, a construção da casa sobre a rocha é a adoção de comportamento compatível com aquelas palavras que ensinam e orientam, preservando-nos dos precipícios morais. A construção sobre a areia significa a adesão às variadas ilusões temporárias que a vida oferece, seduzindo com desdobramentos aflitivos para o futuro. Ora, e o vento das renovações e o rio do progresso é por força da Lei de Progresso, que tudo renova e modifica com o tempo. Impossível conter o progresso, embora possamos durante algum tempo criar-lhe obstáculos temporários.

Orientar nossa vida na rocha dos ensinos e afirmações do Mestre da Humanidade constrói estabilidade e segurança, pois que imbatíveis, insuperáveis, indestrutíveis, pois que eternos. Iludir-se com a areia das variadas seduções do cotidiano gera a instabilidade, a insegurança interior que se reflete na vida social.

Não é difícil concluir que o presente tumulto social, essa instabilidade e insegurança das instituições, é fruto da adesão às ilusões que enganam os cidadãos que se distribuem nas diversas profissões e segmentos da vida social, inclusive quando na condição de autoridades e lideranças.

O que mais se vê são os apegos à posse, ao ter, ao invés da construção interior do ser. Não é regra, pois há muita gente consciente no mundo, mas a grande maioria ilude-se com promessas, com ganho fácil – daí advindo todo essa enxurrada de abusos, crimes, manipulações e explorações –, buscando obter vantagens a qualquer custo, com auto promoção pessoal, com aparências falsas, entre outras situações, cavando um poço de aflições que mais cedo ou mais tarde arrebentarão em dores e sofrimento, como já vem ocorrendo.

Mas sempre é tempo de mudar, de renovar-se. Buscar a sabedoria, experiência e maturidade da perfeição de Jesus é opção para construir a estabilidade e segurança que desejamos.

Não nos iludamos. A vida tem propósitos de progresso e felicidade. Busquemos o entendimento do jugo suave e do fardo leve (daquele que se submete à Lei Divina), para que a tranquilidade nos abençoe o dia. Afinal, a série dos Bem aventurados... (ou felizes aqueles) não por acaso está à nossa disposição. Busquemos o Cristo, iniciemos com o primeiro passo, sem alarde, sem receio, com disposição!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

EDUCAÇÃO ESPÍRITA ¹

Por Francisco Cajazeiras (*) Francisco Cajazeiras – Quais as relações existentes entre Educação e o Espiritismo? Dora Incontri – Muitas. Primeiro porque Kardec era um educador. Antes de se dedicar ao Espiritismo, à pesquisa das mesas girantes, depois à codificação da Doutrina Espírita, durante trinta anos, na França, exerceu a função de educador. Foi discípulo de um dos maiores educadores de todos os tempos que foi Pestalozzi. Então o Espiritismo segue uma tradição pedagógica. E o Espiritismo, ele próprio, é uma proposta pedagógica do Espírito. O Espiritismo não é uma proposta salvacionista, ele é uma proposta que pretende que o homem assuma a sua autoeducação como aperfeiçoamento espiritual. Francisco Cajazeiras – Então quer dizer que existe uma educação espírita e uma pedagogia espírita? Dora Incontri – Existe. Existe porque toda filosofia, toda concepção de homem, de mundo, toda cosmovisão desemboca, necessariamente, numa prática pedagógica...