Pular para o conteúdo principal

ENTRE TER RAZÃO E SER FELIZ

 


 Por Jerri Almeida

A compreensão dos fatores reencarnacionistas nos permite perceber, e analisar sob um ângulo mais profundo, o papel das relações humanas no interior da família. Em linhas gerais, quando o espírito – conforme o seu grau de maturidade ou sob a orientação de seus instrutores, programa sua próxima reencarnação, ele o faz com base em suas experiências passadas e a partir de suas necessidade permanentes. Tais necessidades, de modo amplo, representam a sua busca evolutiva na direção do amor e da qualificação intelectual.

A rigor, o “estar-no-mundo”, como já enfatizamos, não é algo casual, mas uma nova oportunidade de crescimento interior, de ajustamento e reajustamento com a vida. O modelo de felicidade, na visão espírita, nesse sentido, agrega a “necessidade de amar, mais do que ser amado”, “dar, mais do que receber”, “compreender, mais do que ser compreendido”.  O psicólogo Jaci Regis já alertava de forma oportuna que:

 

Muitos casais querem alcançar a felicidade, isolando-se num relacionamento a dois, fechadíssimo, sem se importar com o que ocorre em torno. Não poucos abandonam as alegrias da maternidade e da paternidade a pretexto de se bastarem mutuamente. Ou então, permanecem em ligações passionais de ciúme, medo ou exacerbação afetiva. Pensam que são felizes, quando se aprisionam em gaiolas de paixões consumindo tempo e energias sem produzir situações que possam criar um clima de produtividade e aproveitamento positivo da existência. [1]

 

Seja no encantamento, ou nos conflitos, a relação conjugal enseja a troca de emoções gerando estímulos para o aprendizado e amadurecimento vivencial de todos os envolvidos. O canal da reencarnação abre o “tabuleiro” de possibilidades, onde algumas “peças” se encaixam com mais facilidade e outras exigirão mais trabalho e dedicação.  Por isso, os momentos difíceis da convivência, conjugal e familiar, poderão ser ressignificados, sobretudo, para que deles surjam experiências “produtivas” no terreno da evolução espiritual.

Sabemos que a síntese da problemática existencial e os próprios dilemas da felicidade, refletem um contexto espiritual mais profundo, que vincula, nem sempre por simpatia, os membros ou os componentes do núcleo familiar. Sendo assim, o desafio proposto pela reencarnação, é o de tornarmos essas uniões mais compensatórias e produtivas. O esforço que cada um possa fazer pela manutenção da harmonia, adotando-se “atitudes construtivas”, fará reverberar no ambiente doméstico uma atmosfera psíquica altamente positiva para a saúde da família e de seus membros.

Durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho, uma empresária contou  interessante história ilustrativa que iremos reproduzir ao sabor de nossa interpretação. Eram oito horas da noite numa avenida movimentada. O casal já estava atrasado para o jantar na casa de alguns amigos. O endereço era novo muito embora o caminho ter sido conferido diversas vezes no mapa pela esposa. O marido dirigia o carro. A esposa o orientava e, a certa altura, pede para que vire na próxima rua à esquerda. Ele discorda, pois tem certeza de que o certo é   à direita e então acabam discutindo. Percebendo que, além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida.  O marido vira a direita e, após alguns minutos, percebe que estava errado. Mas o problema é admitir que se está errado. Finalmente ele resolve manobrar o veículo e retornar ao roteiro do mapa. A esposa sorri e diz que não há problema algum em chegar alguns minutos mais tarde. Mas ele, sem estar a vontade, indaga: Se você tinha tanta certeza de que eu estava tomando o caminho errado, porque não insistiu na sua posição? Ela, entretanto, considera: Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma briga, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite.

Assumir atitudes construtivas, num ambiente em conflito, nem sempre é um comportamento simples e fácil. Implica superarmos a superficialidade das relações humanas, abrindo espaço para a compreensão das atitudes alheias, mesmo que não concordemos com elas. Nutrir os pensamentos e sentimentos, com o teor de estimulantes mensagens e reflexões, produz uma reserva de energias positivas com as quais poderemos contar nos momentos desafiadores.

 

[1] REGIS, Jaci. Amor, Casamento & Família 10ª. ed. Santos – SP: Licespe, 1987. P. 80.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O DISFARCE NO SAGRADO: QUANDO A PRUDÊNCIA VIRA CONTRADIÇÃO ESPIRITUAL

    Por Wilson Garcia O ser humano passa boa parte da vida ocultando partes de si, retraindo suas crenças, controlando gestos e palavras para garantir certa harmonia nos ambientes em que transita. É um disfarce silencioso, muitas vezes inconsciente, movido pela necessidade de aceitação e pertencimento. Desde cedo, aprende-se que mostrar o que se pensa pode gerar conflito, e que a conveniência protege. Assim, as convicções se tornam subterrâneas — não desaparecem, mas se acomodam em zonas de sombra.   A psicologia existencial reconhece nesse movimento um traço universal da condição humana. Jean-Paul Sartre chamou de má-fé essa tentativa de viver sem confrontar a própria verdade, de representar papéis sociais para evitar o desconforto da liberdade (SARTRE, 2007). O indivíduo sabe que mente para si mesmo, mas finge não saber; e, nessa duplicidade, constrói uma persona funcional, embora distante da autenticidade. Carl Gustav Jung, por outro lado, observou que essa “másc...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

O CORDEIRO SILENCIADO: AS TEOLOGIAS QUE ABENÇOARAM O MASSACRE DO ALEMÃO.

  Imagem capa da obra Fe e Fuzíl de Bruno Manso   Por Jorge Luiz O Choque da Contradição As comunidades do Complexo do Alemão e Penha, no Estado do Rio de Janeiro, presenciaram uma megaoperação, como define o Governador Cláudio Castro, iniciada na madrugada de 28/10, contra o Comando Vermelho. A ação, que contou com 2.500 homens da polícia militar e civil, culminou com 117 mortos, considerados suspeitos, e 4 policiais. Na manhã seguinte, 29/10, os moradores adentraram a zona de mata e começaram a recolher os corpos abandonados pelas polícias, reunindo-os na Praça São Lucas, na Penha, no centro da comunidade. Cenas dantescas se seguiram, com relatos de corpos sem cabeça e desfigurados.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…