Pular para o conteúdo principal

ESTRESSE-INIMIGO DEVASTADO

 


A Humanidade deve a sua sobrevivência a uma complexa rede de reações fisiológicas, a qual é acionada sempre que o ser está diante de um perigo. Nossos antepassados, vivendo nas cavernas, mediante uma situação de envolvimento com algozes, inclusive diante de animais ferozes, liberavam altas taxas dos hormônios cortisol, adrenalina e noradrenalina, produzindo elevação da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e da frequência respiratória.

Essas alterações fisiológicas, positivas e bem-vindas, proporcionando ansiedade e medo, favorecem o combate ou a fuga, porquanto o sangue circula com rapidez, aprimorando a atividade muscular esquelética, assim como a respiração mais rápida leva à captação mais eficiente de oxigênio.

Esse mecanismo, igualmente, era acionado na busca de alimentos pela caça e diante das catástrofes do tempo. Portanto, a capacidade de reagir ansiosamente diante das ameaças acompanha o indivíduo em sua trajetória evolutiva na Terra, desde os primitivos ancestrais com suas moradias nas cavidades subterrâneas, como, hodiernamente, viajando, no espaço sideral, em uma nave espacial ou se preparando para ser submetido à intervenção cirúrgica.

O ataque dos animais e a busca de alimentos pela caça foram substituídos, atualmente, pelas situações emocionais diante da realidade de sua existência, da sua sobrevivência e da família, do temor causado pela insegurança política e econômica e por inúmeros fatores, como o caos no trânsito, na educação, na saúde, na moradia, os quais agem no arcabouço físico, desencadeando as mesmas reações estressantes verificadas diante das feras do passado.

Um estudante, à espera de uma prova na escola ou mesmo diante do momento de prestar um concurso importante, se defronta com o mesmo quadro de ansiedade que foi vivenciado pelo homem das cavernas. O agravante é que, na atualidade, o estresse surge a todo momento, desencadeado principalmente por situações emocionais, apresentando-se assaz indesejável, tendendo à cronicidade e tornando-se prejudicial à saúde.

A falta de gerenciamento do estresse persistente pode desencadear a depressão, desde que há diminuição da liberação de serotonina, um neurotransmissor essencial para a sensação de anseios de prazer e bem-estar. Além desse grave efeito psicológico, o indivíduo está sujeito a ser portador da hipertensão arterial, apresentar distúrbios de ordem gastrointestinal, maior susceptibilidade a infecções e aos acidentes vasculares, possibilidade de manifestar resistência à insulina que acompanha o diabetes tipo 2 e agravamento do quadro hiperglicêmico já instalado. Igualmente, são encontradas a cefaleia tensional, a enxaqueca, a insônia e dificuldades na prática sexual.

Há muita relação entre estresse e obesidade, quando o indivíduo come em excesso para amenizar suas emoções, favorecendo o agravamento do quadro clínico. Portanto, uma dieta com base em vegetais, frutas, legumes e cereais integrais é essencial. Ao mesmo tempo, deve-se evitar o álcool, o cigarro e o café. Importante o acompanhamento de um profissional da nutrição.

Atualmente, está provado que os exercícios físicos são indispensáveis no combate ao estresse, porquanto o corpo libera beta-endorfina, uma substância que proporciona bem-estar e prazer. Portanto, são importantes a prática de dança, ginástica, tai chi chuan, esportes ao ar livre, caminhada, natação, yoga, para a saúde e bem-estar de modo geral, principalmente do cérebro.

Podem ser também destacados os benefícios das técnicas de relaxamento, principalmente a meditação, como igualmente as técnicas cognitivas e comportamentais, a rotina frequente de ouvir música clássica ou popular, não esquecer dos momentos de lazer junto à família, a leitura edificante e a oportunidade de assistir peças teatrais ou filmes de comédia.

O espiritismo auxiliando contra o estresse

A Doutrina Espírita se torna uma grande aliada, indicando o caminho para evitar o estresse crônico ao caminhante terreno, em sua atual etapa reencarnatória. De uma maneira geral, o ser, vivendo em uma sociedade capitalista de consumo predominante, a todo o momento, está excessivamente preocupado consigo mesmo, aflito em demasia, engolfado em um egoísmo avassalador. O Espiritismo, ratificando e exemplificando o excelso Evangelho de Jesus, exorta o indivíduo a passar a observar o próximo que está ao seu lado e considerá-lo como um irmão, cientificando-se que o Pai o ama incessantemente, assim como a todos os seus filhos.

Em realidade, quando a pessoa está ajudando o angustiado, esquece-se de suas próprias tribulações. O Cristo exemplificou a caridade e fez do amor ao semelhante um impositivo maior para que a felicidade se estabeleça. No chamado “sermão profético”, o Mestre alude aos eleitos, os salvos, como aqueles que o seguem na pessoa do próximo, não fazendo referência a nenhuma crença religiosa, nem mesmo ao seu sacrifício na cruz: “...Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

“Porque tive fome, e deste-me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedaste-me;

“Estava nu, e vestiste-me; adoeci, e visitaste-me; estive na prisão, e foste me ver.

“Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

"E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?

“E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

“E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus 25:34-40).

Agostinho, na Q. 919 (a) de “O Livro dos Espíritos”, incentiva a criatura terrena à melhoria de si mesma, dizendo: “Quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar”.

Allan Kardec, em “Obras Póstumas“, “Credo Espírita”, afirma: “O homem que trabalha seriamente pelo seu próprio aperfeiçoamento assegura a sua felicidade desde esta vida; além da satisfação de sua consciência, isenta-se das misérias, materiais e morais, que são a consequência inevitável de suas imperfeições.

Terá a calma porque as vicissitudes não farão senão de leve roçá-lo; terá a saúde porque não usará o seu corpo para os excessos ; será rico , porque se é sempre rico quando se sabe contentar-se com o necessário ; terá a paz da alma , porque não terá necessidades fictícias, não será mais atormentado pela sede das honras e do supérfluo , pela febre da ambição , da inveja e do ciúme ; indulgente para com as imperfeições de outrem , delas sofrerá menos ; excitarão a sua piedade e não a sua cólera ; evitando tudo o que pode prejudicar o seu próximo , em palavras e em ações , procurando, ao contrário , tudo o que pode ser útil e agradável aos outros , ninguém sofrerá com o seu contato” .

A ciência já vem comprovando que, nos dois sexos, a ocitocina, um hormônio produzido principalmente pelo hipotálamo (uma região do cérebro localizada perto do tronco cerebral, que liga o sistema nervoso ao sistema endócrino através da glândula pituitária), nos momentos de afetividade com envolvimento emocional, é liberada diretamente no sangue, combatendo o estresse, anulando os efeitos do cortisol.

Portanto, todos os atos amorosos, principalmente a prática da caridade, expressando alegria e bom ânimo, podem vencer o estresse, comprovando, pois, que “é dando que se recebe” (quem se doa, recebe).

Quem pratica o Evangelho de Jesus está imunizado contra as agruras do estresse crônico e ouvirá, nos refolhos mais íntimos, a voz do Cristo dizendo-lhe: “Não permitais que o vosso coração se preocupe. Credes em Deus, crede também em mim” (João 14:1). “Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá” (João 14:27). No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (João 16:33).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

POR QUE SOMOS CEGOS DIANTE DO ÓBVIO?

  Por Maurício Zanolini Em 2008, a crise financeira causada pelo descontrole do mercado imobiliário, especialmente nos Estados Unidos (mas com papéis espalhados pelo mundo todo), não foi prevista pelos analistas do Banco Central Norte Americano (Federal Reserve). Alan Greenspan, o então presidente da instituição, veio a público depois da desastrosa quebra do mercado financeiro, e declarou que ninguém poderia ter previsto aquela crise, que era inimaginável que algo assim aconteceria, uma total surpresa. O que ninguém lembra é que entre 2004 e 2007 o valor dos imóveis nos EUA mais que dobraram e que vários analistas viam nisso uma bolha. Mas se os indícios do problema eram claros, por que todos os avisos foram ignorados?

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

ESPÍRITAS: PENSAR? PRA QUÊ?

           Por Marcelo Henrique O que o movimento espírita precisa, urgentemente, constatar e vivenciar é a diversidade de pensamento, a pluralidade de opiniões e a alteridade na convivência entre os que pensam – ainda que em pequenos pontos – diferentemente. Não há uma única “forma” de pensar espírita, tampouco uma única maneira de “ver e entender” o Espiritismo. *** Você pensa? A pergunta pode soar curiosa e provocar certa repulsa, de início. Afinal, nosso cérebro trabalha o tempo todo, envolto das pequenas às grandes realizações do dia a dia. Mesmo nas questões mais rotineiras, como cuidar da higiene pessoal, alimentar-se, percorrer o caminho da casa para o trabalho e vice-versa, dizemos que nossa inteligência se manifesta, pois a máquina cerebral está em constante atividade. E, ao que parece, quando surgem situações imprevistas ou adversas, é justamente neste momento em que os nossos neurônios são fortemente provocados e a nossa bagagem espiri...