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AJUSTANDO O MANTO DA EMPATIA

 


Se é que existe uma palavra que mais antagonize com o termo Empatia, essa poderia ser cunhada como Condenação. Conceitualmente a primeira é o “caminho para encontrar a humanidade compartilhada” (Roman Kznaric), enquanto a segunda significa “ato ou efeito de condenar; censura; reprovação” (Dicionário Priberam). Não é incomum que a sociedade humana se precipite em lutas e conflitos que põem esses conceitos frente a frente. Tais confrontos estão bem aí, escancarados aos nossos olhos.

Convém que se discuta o processo evolutivo da condição humana, cujos passos civilizatórios dão mostras da convivência paralela e interconectada entre civilidade e incivilidade, barbárie e civilização. Esse cenário vem sofrendo mudanças constantes pela evolução dos sistemas de Comunicação (representando os meios de informação), do Direito (pautado pela discussão de leis) e de Proteção à Liberdade da Pessoa. Viver e agir dentro de um mundo globalizado enseja preparação para confrontos de opinião, com revisão contínua da postura a ser adotada diante das cobranças que chegam como exercícios de aprendizado.

Historicamente fomos incentivados a buscar soluções imediatistas para problemas que certamente exigiam discussão de mais longo prazo. Reis e Poderosos condenavam, Tribunais prescreviam, Duelos decidiam contendas, Multidões faziam justiça popular, Inimigos buscavam anular o rival. Impossível desatrelar desse caldo cultural as influências do pensamento religioso e científico de cada época. Ainda vivemos sob o domínio daqueles tempos, afinal não estão tão distantes de nossos novos tempos, apesar de todo progresso realizado nos últimos dois séculos. Quando acidentes da vida contemporânea atingem a nossa humanidade individual impõem que participemos de verdadeiras contendas de idéias.

Diante dos fatos, o que fazer? Empatia ou Condenação? O que nos veste a conduta nesse guarda-roupa que mantemos em nossa casa mental? Os princípios que caracterizam a nossa crença são fortes ou fracos para decidir entre condenar e ser empático? Lógico que as condutas são completamente díspares, ou se opta por uma ou por outra. Por qual optar?

Alguém algum dia terá dito que quando uma escolha pode levar a caminhos com potencial de humanizar ou desumanizar, de forma excludente, é importante pedir ajuda a quem tenha mais sabedoria, antes de proferir decisão. Temos muitos sábios para ajudar em decisões difíceis. Jesus pediu que víssemos as traves em nossos olhos antes do argueiro nos outros e que atirasse a primeira pedra aquele que se sentisse sem pecados. Dalai Lama (por Leonardo Boff) infere “Há que cortar o manto para que se ajuste aos ombros e não cortar os ombros para que se ajuste ao manto”.

Seria triste se houvesse uma RAZÃO acima da TOLERÂNCIA, por expor o outro a uma crença que aprisiona. Vejamos o que nos diz Platão (LE – Comentário da q. 1009): “... Humanidade, humanidade! Não mergulhes mais o teu sombrio olhar nas profundezas da Terra, buscando os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te no pensamento de um Deus infinitamente bom, absolutamente poderoso e essencialmente justo...”. Se Deus é EMPÁTICO em relação a nós, que posição adotarmos no mundo, condenação ou empatia?

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