terça-feira, 14 de abril de 2020

A MOEDA E A BENÇÃO


          




              
             Num desses tantos contos modernos, três dos maiores magnatas do planeta teriam sofrido uma pane quando viajavam juntos, em vôo particular, pousando o avião numa ilha inóspita, completamente incomunicáveis e munidos de altas somas de cédulas em suas malas. Impossível ir a qualquer lugar, nada para comprar, sem ferramentas de sobrevivência. O senso desse relato é de fácil compreensão: qual a importância de todos os valores que carregam nas malas nessas circunstâncias? Como vão conseguir adquirir facilidades e ser reverenciados pelo ambiente que os cerca? O que fazer com o poder de barganha de todas aquelas cédulas que trazem consigo? Qual a real contribuição de suas contas bancárias diante desse drama?
            Certamente numa situação urbana, com todos os aparatos do capitalismo ao alcance, é possível que víssemos esses personagens funcionando sem qualquer impedimento ao que bem quisessem, não é? Não! Não é exatamente assim que acontece. Não é fundamental ser aprisionado numa dessas situações que o relato sugere para que se avalie a importância relativa que os valores pecuniários exercem em nossa vida. Isso não significa que os valores monetários são de todo desnecessários, afinal a sobrevivência acaba esbarrando em seus domicílios, mormente no mundo desigual em que vivemos.
            A realidade é que vivemos em um mundo que arbitra pelo poder amoedado apenas na dimensão da referida sobrevivência e é disparate dimensioná-lo além de suas parcas possibilidades. Todas as demais questões que envolvem a vida prescindem da moeda cunhada pelas instituições bancárias. Sempre que se busque utilizar a sua ação para algo mais que o bem estar e o atendimento das necessidades fundamentais, um grave equívoco se comete. Fama, sucesso, poder, compra de consciências, controle social, posições espirituais privilegiadas, espertezas de toda ordem não passam de cortinas de fumaça que o tempo haverá de tornar cinzas. Além de permitir a manutenção adequada do corpo, da sociedade, do meio ambiente e incentivar a honesta labuta em torno de sua aquisição é provável que estacionar a mente em torno de ganhos descomunais com objetivos frequentemente inconfessáveis, tanto quanto os meios de obtenção, é visão deturpada da complexidade dos valores humanos. Afinal, a existência é espaço, cuja maior finalidade é executar os mais nobres propósitos da existência.
            A essência da vida e da morte, a saúde, o afeto interpessoal, as relações familiares, a subjetividade, a espiritualização dependem de valores que passam distante da supremacia financeira. São produtos que, levados com quem os conquistou para qualquer situação e quanto mais alarmante essa seja, ajudarão na resolução do problema que se apresente. Enquanto o dinheiro intenta comprar tudo que se vende, os valores da alma alcançam o que não tem como ser precificado, por não ter preço mesmo.
            Fiquemos atentos, pois tudo que produz iluminação, felicidade, liberdade, completitude, paz, bênçãos, provém de nossa relação profunda a própria consciência, com Deus e com o mundo. Esse caminho está aberto também para quem goza de muito poder econômico e financeiro, desde que não seja essa a sua única riqueza. O que realmente enriquece não pode ser avaliado pelo mercado financeiro. Não dá para comprar Deus.

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