terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

IGNORÂNCIA RELIGOSA - INTOLERÂNCIA RELIGOSA NO RIO DE JANEIRO


 



 É inconcebível que, ainda em nosso tempo, pessoas que se dizem religiosas pratiquem atos de vandalismo contra os que não comungam de sua fé, agindo com violência. Os alvos preferidos desses fanáticos religiosos são os terreiros de umbanda e candomblé, assim como os centros espíritas. Casos de ataques a umbandistas e candomblecistas têm sido frequentes no Rio, principalmente na Baixada Fluminense, predominando no município de Nova Iguaçu.

Até hoje, os profitentes da Doutrina do Consolador Prometido, codificada por um magnânimo cientista francês do século XIX, Allan Kardec, lembram, com tristeza, do apedrejamento do “Núcleo Espírita Cristo Consolador”, que estava situado no bairro da Abolição, na cidade do Rio de Janeiro.


Agora estão descarregando sua fúria principalmente contra os candomblecistas, o que está gerando uma ardorosa reação da sociedade, unindo-se os religiosos de todas as crenças, indignados, diante da marcante intolerância demonstrada por grupos inteiramente aprisionados pela fascinação obsessiva.

BOX 1 - Desrespeito à Constituição Brasileira.

Infelizmente, os religiosos intolerantes, utilizando de violência, não respeitando a crença alheia, agridem o semelhante por ter uma religião ou crença diferente, maculando a Constituição Brasileira, onde no Art. 5º está estampado que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e a propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

No Brasil, a intolerância religiosa é um crime de ódio, classificado como inafiançável e imprescritível. A pena para os culpados varia entre 1 a 3 anos de prisão, mais o pagamento de multa.



BOX 2 - Jornais e TV noticiaram as agressões.

A imprensa carioca revelou que, no último ano, foram apontados, através do Disque 100, 79 denúncias de casos de intolerância religiosa no Estado. Segundo a Secretaria de Segurança, comparando-se os fatos com os ocorridos no ano passado, o número representa um crescimento de 119%.

Os jornais revelam a possibilidade da participação de traficantes nos ataques, enquanto o secretário estadual de Direitos Humanos, Átila Nunes, acredita que "milícias religiosas podem estar por trás dos ataques”.

Já se passaram dois anos do episódio sofrido pela menina Kayllane Campos, que, aos onze anos de idade, levou uma pedrada na cabeça quando deixava o seu local de trabalho religioso, no bairro Vila da Penha. A jovem chegou a desmaiar e perder momentaneamente a memória. A imprensa noticiou que testemunhas narraram que ela foi agredida por religiosos cruéis. A ocorrência foi registrada na Polícia como lesão corporal e prática de discriminação religiosa.

Um curta-metragem que retrata a agressividade contra a menina candomblecista foi lançado pela TV Cultura e é voltado para o público infanto-juvenil, exatamente a faixa de idade propícia à conscientização da nefasta intolerância religiosa, ferindo a dignidade alheia.

Em 17 de setembro/2017, na orla de Copacabana, Zona Sul do Rio, representantes de várias religiões se reuniram e fizeram uma caminhada, protestando contra o preconceito e pedindo punição rigorosa para os infelizes agressores.

BOX 3  -  O que ensina o Evangelho do Mestre Jesus?

É muito difícil acreditar que pessoas que acreditam em Deus e afirmam ser seguidores do Cristo estejam participando desses atos violentos. O Messias exortou a humanidade à prática do amor, clamando: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5:5). “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Igualmente disse: “Todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento” (Mateus 5:22) e “Fazei aos homens o que queirais que vos façam” (Mateus 7:12).

Digna de consideração a passagem evangélica na qual o Mestre repudia a presunção religiosa e exalta a tolerância, quando o apóstolo João relata que proibira um homem de trabalhar pela causa de Jesus, porquanto não fazia parte da equipe de discípulos. Pois bem, mesmo sendo integrante de outro grupo, o Cristo repreendeu o discípulo amado (Lucas 9:49-50). Certa feita, alguns mensageiros do Mestre foram expulsos de uma aldeia de samaritanos e desejavam revidar a agressão e Jesus não consentiu, chamando-os à atenção (Lucas 9:52-56).

É digno de observação que os samaritanos eram desprezados pelos judeus ortodoxos, os quais tinham repugnância em manter relações sociais e religiosas com os habitantes do distrito de Samaria, na Palestina Central. Estes sofreram miscigenação com os assírios e assimilaram cultos idólatras, misturando-os com a crença a Jeová. A adversidade era tão intensa que, no ano de 129 A.C., os judeus destruíram o templo samaritano no monte Gerizim.

Em que pese serem os samaritanos renegados pelos judeus, o excelso Rabi da Galileia os considerava como irmãos. Inclusive, não se furtava a visitá-los. A maior prova da tolerância e do amor que Jesus devotava aos excluídos está comprovada na edificante Parábola do Bom Samaritano, na qual o Mestre cita, exatamente, um samaritano como modelo de amor ao próximo em seu diálogo com doutor da lei, colocado bem acima de um sacerdote e de um levita.

Apesar da presença religiosa fanática e intolerante, maculando o Cristianismo, o nosso amado Jesus permanece intocável e transparente em seus profundos e sublimes ensinamentos. Assim, como procedia o Mestre, nós, espíritas, devemos sempre e em todas as ocasiões, perdoar a esses irmãos equivocados que, ontem e hoje, ainda agridem os seus semelhantes.

Com as oportunidades reencarnatórias, “o nascer de novo”, concedido a toda a humanidade, certamente suas condutas violentas sofrerão um processo natural de mudança e avanço, desde que serão sacudidos, após o fenômeno natural da morte, já retornados à Pátria Espiritual, com as palavras do Cristo, ecoando dentro de si: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:21-23).

“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo”, enfatizou Jesus, em Mateus 22:37-39.

Infelizmente, mesmo após o Mestre Jesus, há mais de dois mil anos, ter afirmado que está a nossa espera, fazer morada em nós, esses irmãos violentos ainda estão sem condições vibratórias de poder abrir as portas dos seus corações para deixar o magnânimo Cristo entrar.

Respeitemos à crença alheia. Salve a diversidade religiosa!

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