sexta-feira, 20 de abril de 2018

CONSCIÊNCIA ESPÍRITA







“Da conduta dos indivíduos depende o destino das organizações”. (Espírito André Luiz”



A partir de autorreflexões, censuro emoções, pensamentos e atitudes frente à diversidade de fatos que marcam o conturbado cotidiano do País, com a população totalmente aturdida. Delas surge o questionamento:

É possível exercitar uma consciência espírita em uma sociedade polarizada como a brasileira?

A polarização decorre dos princípios “certo ou errado”, “bem ou mal”, “direita ou esquerda”. Havendo somente duas alternativas em discussão, é óbvio que todos defenderão sua opinião como verdadeira. Esse tipo de pensamento – linear/binário/cartesiano – é que levou o físico americano de posterior cidadania brasileira e britânica chamar de “a doença do pensamento”, de fácil diagnóstico, que tem como principais sintomas: imediatismo, superficialidade e o simplismo.

O pensamento linear foi decisivo para o progresso das ciências, notadamente pelo racionalismo cartesiano, elaborado por René Descartes – Discurso do Método -, em 1637, onde expressa a sua preocupação com o conhecimento. Descartes dividiu a realidade em res conngitas (consciência e mente) e res extensa (corpo e matéria).
Na questão nº 833 de O Livro dos Espíritos, os Reveladores Celestes afirmam que “é pelo pensamento que o homem goza de liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode impedir-se a sua manifestação, mas não aniquilá-lo.” Vê-se, pois, que o pensar é inerente à condição humana. A questão difícil quanto ao pensamento é fazê-lo fechado, pois se permite dessa forma tornar o indivíduo vulnerável às manipulações e condicionamentos. Pelo pensamento, pode-se tornar a mente o céu ou o inferno. Fomentando as ideias derivadas das paixões, ele aliena e brutaliza o indivíduo.
A Doutrina Espírita é permeada pela fé consolidada na razão. Ao se priorizar o pensamento linear, não se permite o uso da razão. Em um dos trabalhos do pintor espanhol Francisco Goya, ele o intitula “O sono da razão produz monstros”. São concebidos, dessa forma, os monstros do fanatismo, do fundamentalismo religioso e do fascismo. O pensamento linear foi o grande causador da Inquisição, das Guerras, da “Guerra Santa”, do 11 de setembro. Pensando-se linearmente, há a possibilidade de se compactuar com a corrupção, transgressões, violações de direito, mentiras e validar injustiças. O indivíduo transita da insensatez ao cinismo. Da lassidão à violência.
As leis de Deus estão inscritas na consciência, sendo a mais importante das leis naturais a Lei de Justiça, Amor e Caridade. A conquista do elevado estágio de consciência é o propósito de todo Espírito, pois através dela é que se alcança a plenitude espiritual. Atinge-se o nível de conscientização quando se pode discernir com acerto. Para isso, é necessário se fazer uso do equilíbrio como parâmetro, ponto elevado da condição humana, nunca agindo como de forma excludente, limitando-se e perdendo a capacidade de individualidade pensante, dificultando a reflexão, a percepção dos matizes, das nuanças, da pluralidade e da diversidade.
Persistindo nesta forma de pensar, é impossível conduzir o processo de conscientização para valores elevados da vida, no que diz respeito aos deveres e às responsabilidades pertinentes à vida. O Espiritismo é dialético, pois através da dialética Allan Kardec o organizou.

“Dialética é movimento, movimento ocasionado pelo contraditório, é um movimento contínuo de ciclo aberto e espiralado. O movimento possui três momentos iniciais, que podem ser denominados tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (negação da negação).” (1)


A dialética espírita tem sua base fundamental na reencarnação, – que se realiza através da lei de causa e efeito – no nascer (encarnar/tese), morrer (desencarnar/antítese) e renascer (reencarnar/síntese). Nela se explica o ser plural que se é.
O modelo de pensar pelo qual se atingirá a consciência espírita é o pensamento complexo, que é circular e integrador. Quando se fala em circularidade, é bom lembrar que a evolução da consciência se dá em forma circular e espiralada. As pessoas dotadas de pensamento complexo são integradoras e não excludentes como as dotadas de pensamento linear. Ele vai além do ego – reconhecendo o outro – que é um componente sociocultural e não um componente da mente. O Espírito Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo P. Franco, na obra Autodescobrimento, afirma que:

“o ego é produção do estado de consciência, portanto, transitório, impermanente.”

O espírita consciente da necessidade de galgar estágios mais elevados de consciência não pode negar d esses conhecimentos, ainda mais que tudo está validado na questão nº 913 de O Livro dos Espíritos, quando os Espíritos superiores respondem que entre os vícios o egoísmo é o mais radical:

 “Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.”

Esse momento é ideal e fundamental para se combater o bom combate que o Apóstolo Paulo assegura, e o que deve fazer o espírita é guardar-se na fé espírita que conduzirá a Humanidade para dias mais gloriosos.

(1)        NUNES, Alexandre L.S. Cristianismo, socialismo, espiritismo e dialética. Rio Grande do Sul: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881.


Referências:
BOHM, David. O pensamento como um sistema. São Paulo: Masdras, 1994.
FRANCO, Divaldo. Autodescobrimento. Bahia: ALVORADA, 1993.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
MARIOTTI, Humberto. Pensamento complexo. São Paulo: Editora Atlas, 2007.
NUNES, Alexandre L. S. Cristianismo, socialismo, espiritismo e dialética. Rio Grande do Sul: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881.



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