Pular para o conteúdo principal

EM FAVOR DA FELICIDADE



           




           Os felizes são mais queridos pelos outros e tendem a ser mais tolerantes e criativos.
          Esta observação é do psicólogo americano Martin Steligman, da Universidade da Pensilvânia. Pesquisando sobre o assunto há décadas, concluiu que a felicidade é o somatório de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado.
          Suas conclusões aproximam-se das ideias espíritas. Oportuno, portanto, nos determos nesses três pilares que ele propõe.

          Prazer. É aquela sensação agradável que experimentamos quando ouvimos uma boa música, uma anedota engraçada, lemos um livro envolvente, assistimos a uma comédia no cinema, teatro ou televisão; quando temos uma boa conversa com um amigo, quando namoramos ou comemos chocolate, este manjar dos deuses.
          Steligman considera que o grande erro da sociedade contemporânea é concentrar a busca de felicidade apenas nesse pilar. Tem razão. As pessoas acabam confundindo prazer com felicidade, resvalando para vícios e excessos que apenas complicam a existência, como o cigarro, o álcool, as drogas, a glutonaria, a promiscuidade sexual, que proporcionam muitos prazeres em princípio, problemas e dores depois. Vale lembrar o poema do poeta alemão Friedrich Rückert (1788-1866): 
          O coração tem dois quartos:
          Moram ali, sem se ver,
          Num a Dor, noutro o Prazer.

          Quando o Prazer no seu quarto
          Acorda, cheio de ardor,
          No outro quarto adormece a Dor…

          Cuidado, Prazer! Cautela,
          Canta e ri mais devagar…
          Não vá a Dor acordar…
         
          Interessante seria considerar a observação de Camilo Castelo Branco, o grande escritor português:  O prazer de uma boa ação é o único prazer sem mistura de dor.
          A propósito, diz Silas, no livro Ação e Reação, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier:
          Pela energia criadora do amor que assegura a estabilidade de todo o Universo, a alma, em se aperfeiçoando, busca sempre os prazeres mais nobres. Temos, assim, o prazer de ajudar, de descobrir, de purificar, de redimir, de iluminar, de estudar, de aprender, de elevar, de construir e toda uma infinidade de prazeres, condizentes com os mais santificantes estágios do Espírito.
          Engajamento. Trata-se do envolvimento com uma atividade, procurando fazer bem feito o que é de nossa responsabilidade, seja na profissão ou fora dela.
          Podemos dizer que a diferença entre um emprego enjoado ou estimulante está na nossa própria postura, não nas atividades que ali exercitamos. Nunca é demais lembrar a velha história de dois operários assentando tijolos. Perguntamos ao primeiro:
          – O que está fazendo?
          E ele, enfadado:
          – Estou levantando uma parede.
          Perguntamos ao segundo:
          – O que está fazendo?
          E ele, entusiasmado:
          – Estou erguendo uma catedral!
          E não é só o emprego. Há outras formas de engajamento. Aprender a tocar um instrumento musical, especializar-se em culinária, praticar ioga, fazer exercícios físicos, integrar-se numa ONG, frequentar um curso…
          Resumindo: é preciso que estejamos sempre ativos, trabalhando e aprendendo, deixando a postura de Januária, da música de Chico Buarque. Indiferente, na janela, ela vê a vida passar. Observe, a propósito, leitor amigo, a questão 943, de O Livro dos Espíritos:
          Pergunta: Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?
          Resposta: Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.
          Significado. Dar significação à vida é também exercitar atos de altruísmo ou bondade, colaborando num serviço em favor do próximo, aproveitando, se possível, nossas próprias habilidades.
          Hoje há um programa extremamente importante nas escolas públicas, chamado Voluntário na Escola. Aos sábados e domingos, pessoas de boa vontade exercitam suas habilidades em favor da criançada. Ensinam informática, trabalhos manuais, esportes e muito mais, de conformidade com suas especialidades. É um sucesso. Ajuda as crianças. Ajuda principalmente os próprios voluntários, oferecendo-lhes altos níveis de satisfação.
          O Espiritismo situa-se numa vanguarda nesse tipo de engajamento, esclarecendo ser necessário nos dedicarmos ao esforço do Bem para que sejamos felizes.
          Por isso há tantas instituições espíritas voltadas à filantropia, atendendo a recomendação básica contida na máxima de Kardec: Fora da caridade não há salvação.
          Steligman mediu em laboratório os efeitos do prazer, do engajamento e do significado na felicidade das pessoas. E descobriu que os maiores níveis estavam relacionados com o significado.
          Um gesto de bondade, ajudar alguém, cuidar de uma criança, atender o necessitado, contribuir em favor de uma causa justa, trabalhar por ela, pode, ressalta ele, aumentar o nível de felicidade por dois meses.
          Experimente, caro leitor, e ficará tão feliz com pequenos gestos de bondade que se empolgará pelo desejo de ser bom o tempo todo. Jesus deixava isso bem claro ao proclamar que o maior no Reino de Deus (o estado íntimo de paz e felicidade) é o que mais serve. Quanto mais servirmos, mais amplas a paz e a felicidade em nós.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

SOBRE A INSISTÊNCIA EM QUERER CONTROLAR AS MULHERES

  Gravura da série O Conto da Aia, disponível na Netflix Por Maurício Zanolini Mulheres precisam se casar com homens intelectualmente e financeiramente superiores a elas ou o casamento não vai durar. Para o homem, a esposa substitui a mãe nos cuidados que ele precisa receber (e isso inclui cozinhar, lavar, passar e limpar a casa). Ao homem, cabe o papel de prover para que nada falte no lar. O marido é portanto a cabeça do casal, enquanto a mulher é o corpo. Como corpo, a mulher deve ser virtuosa e doce, bela e recatada, sem nunca ansiar por independência. E para que o lar tenha uma atmosfera agradável, é importante que a mulher sempre cuide de sua aparência e sorria.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

PUREZA ENGESSADA

  Por Marcelo Teixeira Era o ano de 2010, a Cia. de teatro da qual Luís Estêvão faz parte iria apresentar, na capital de seu Estado, uma peça teatral que estava sendo muito elogiada. Várias cidades de dois Estados já haviam assistido e aplaudido a comovente história de perdão e redenção à luz dos ensinamentos espíritas. A peça estreara dez anos antes. Desde então, teatros lotados. Gente espírita e não espírita aplaudindo e se emocionando. E com a aprovação de gente conhecida no movimento espírita! Pessoas com anos de estrada que, inclusive, deram depoimento elogiando o trabalho da Cia. teatral.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

O DÓLMEN DE KARDEC

31 de março de 1869  A llan Kardec ultimava as providências de mudança de endereço. A partir de 01 de abril de 1869, o escritório de expedição e assinatura da Revista Espírita seria transferido para a sede da Livraria Espírita, à rua de Lille, nº 7 , onde também, provisoriamente, funcionaria a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Na mesma data, os escritórios da redação e o domicílio pessoal de Allan Kardec seriam transferidos para a Avenue et Vila Ségur, nº 39, onde Kardec tinha casa de sua propriedade desde 1860. Entremeando onze e doze horas, quando atendia um caixeiro de livraria, caiu pesadamente ao solo, fulminado pela ruptura de um aneurisma. Aos 65 anos incompletos, desencarnava em Paris, Allan Kardec.             Sr. Muller, amigo de Kardec, um dos primeiros a chegar à sua residência, assim descreve em trecho de telegrama enviado: “Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento d...

BODERLINE PELA ÓTICA ESPÍRITA

                                                                                                                                                                      ...