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OS CLONES TÊM ALMA?



 

As descobertas científicas no campo da Biologia e da Medicina têm trazido à tona discussões interessantes do ponto-de-vista ético e religioso. A cada novidade científica, veem-se intensificados esses debates, que muitas vezes incomodam os homens religiosos que dicotomizam Religião e Ciência, como áreas incomodam Religião e Ciência, como áreas inconciliáveis do Conhecimento Humano.
Mas, indiscutivelmente, nenhuma das últimas descobertas causou tanta admiração e gerou polêmicas de magnitude igual a que vem produzindo a possibilidade de clonagem do ser humano, suscitando questões como:
“Têm alma os clones?
“É possível criar a alma através do processo de clonagem?”
Por se assunto momentoso, mas pouco divulgado ainda em suas bases, vejamos em simplórias palavras e de maneira a mais objetiva possível o que exatamente é a clonagem,
O processo consistiria, segundo os cientistas, em se tomar uma célula germinativa, retirar-lhe o núcleo e pôr, em seu lugar, o núcleo de uma célula escolhida de um outro ser e que foi induzida a regredir à condição de célula onipotente e, portanto, indiferenciada. Isto resultaria de um novo indivíduo exatamente igual, em sua carga genética, ao doador celular.
Daí, naturalmente, surgiram especulações do tipo ser possível a produção, em série, no futuro, de personalidades – boas ou más -, de acordo com a vontade dos interessados na sua consecução.
Como o homem moderno sintoniza, ainda, mais detidamente com o mal, já se imagina logo a produção de um batalhão de “Hitlers”, de “Mussolinis”, de “Neros” ou de outras personalidades malvistas e tidas como extremamente más pela opinião pública.
Mas será que isto é mesmo possível de acontecer?
Em primeiro lugar, não nos é factível esquecer que o homem, na formação de sua personalidade, é influenciado por variada gama de fatores, tais como genéticos, sociais, culturais, espirituais. Portanto, não teríamos indivíduos com as mesmas características morais, mesmo se os produzíssemos em série. Alguns, possivelmente, com grande semelhança física e, até mesmo, com algumas tendências e distúrbios somáticos, mas nada além disso. A educação familiar, o meio em que fosse chamado a viver, as características do tempo em que fosse instado a agir, certamente que, por si só, resultariam em diferentes gênios e personalidades.
De outra forma, preponderando sobre os demais, teríamos as razões de ordem espiritual. Sim, porque, para que haja vida orgânica mantida, faz-se imprescindível a presença do Espírito. Logo, os clones são seres governados pela centelha anímica, pela alma que é maestrina da vida.
Obviamente que não se pode criar a alma no Laboratório. O que se faz é oferecer um corpo somático a um Espírito necessitado de ingressar no mundo material através da reencarnação. E, como se processaria isto?
Ora, não pensemos que os Espíritos responsáveis pela fenomenologia paligenética estejam de braços cruzados e que, à semelhança de Iavé na Bíblia, estejam perplexos com a audácia do homem. Surpresos com a investida do ser humano no desenvolvimento de técnicas alternativas para viabilizar o processo reencarnatório. Não! Os Espíritos trabalham conjuntamente com os cientistas encarnados e muito frequentemente apresentam os candidatos ao futuro do corpo, sendo bastante o trabalho honesto e visando o Bem da equipe encarnada.
Quando não programada a reencarnação, a Lei funciona automática sobre aqueles Espíritos recalcitrantes e que não procuram trabalhar o seu próprio progresso, havendo um arrastamento compulsório do Espírito pelo material genético posto à disposição.
Destarte, semelhantemente ao que acontece nas concepções naturais, o Espírito preexiste ao corpo e serve mesmo de modelo à sua formação.
Por esta razão, não iremos encontrar indivíduos exatamente iguais, do ponto-de-vista psicológico, ao doador celular e as semelhanças psíquicas ficarão por conta unicamente da afinidade que, aliás, desde que aliada à necessidade reencarnatória, será o bastante para fazer com que este ou aquele Espírito se aproxime do material genético em trânsito embrionário.
Reencarnações compulsórias não programadas pelos Espíritos amigos, aliás, já ocorrem no dia-a-dia da Humanidade nos casos de atividade sexual irresponsável.
Por outro lado, podemos afirmar que há clones faz muito tempo: desde que o homem é homem. Basta observarmos os gêmeos univitelinos: possuem exatamente o mesmo material genético. São o que poderíamos denominar de “clones naturais”.
No entanto, a despeito de possuírem a mesma estrutura genética, apresentam sob o aspecto psicológico, diferenças que às vezes são de monta. E por quê? Porque são Espíritos diferentes, com experiências particulares e, por conseguinte, com tendências e carências específicas.
O Espiritismo não é contrário à pesquisa científica, pois esta, também, é reveladora da verdade. Até porque o conhecimento de per si não é bom nem mau, mas o destino que lhe dá o homem que o detém é que vai torná-lo benéfico ou maléfico. Portanto, compreenda-se que a problemática conjuntural do mundo é de ordem exclusivamente ética, quer dizer, é preciso que os cientistas – como de resto toda a Humanidade – busquem a sua moralização para que as aplicações das suas descobertas resultem sempre em bem-estar, paz, harmonia e fraternidade para os homens. O conhecimento deve ser utilizado para fortalecer em nós o amor pela vida, por nós mesmos. O amor a Deus e ao próximo dos ensinamentos crísticos.
A Doutrina Espírita tem, sob todos os aspectos, muito a oferecer aos cientistas, pois elucida de forma clara e racional a fenomenologia da vida e orienta sobre as peculiaridades do espírito integrante com a matéria, desembocando inapelavelmente na moralização do ser humano.
Quanto aos clones, podemos sem dúvida alguma afirmar que, desde que se viabilize a tecnologia necessária para a sua formação e desde que consigam manter-se vivos, albergarão uma alma que preexiste ao corpo, em tudo semelhante a nós outros, mas ostentando as suas peculiaridades, as suas próprias tendências que poderão ter facilitada ou não a manifestação pelo novo complexo celular.
Agora, parece-me ter grande aplicabilidade esta técnica, quando mais desenvolvida, em uma possível formação de um órgão falido, a partir de uma célula do próprio paciente. Seria, portanto, a clonagem dirigida de um órgão e com o material genético da própria pessoa, desfazendo, pelo menos teoricamente e do ponto-de-vista biológico, as possibilidades de rejeição tecidual.


Comentários

  1. Muito boa a elucidação de tema tão atual. Parabenizo o colega Cajazeiras. Roberto Caldas

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