terça-feira, 12 de abril de 2016

LABORATÓRIO SIDERAL¹



         O planeta azul, designação carinhosa que a Terra recebeu pela camada de ozônio que a envolve, é um organismo complexo que gravita em torno de uma estrela de média grandeza que lhe fornece a luz e o calor na qualidade de combustíveis que permitem o milagre da vida em seu solo telúrico. Considerada a única esfera conhecida que alberga uma variedade de incontáveis seres vivos guarda em suas entranhas os segredos de uma viagem que perdura 4,6 bilhões de anos, cuja perspectiva de manutenção da vitalidade aponta para 500 milhões de anos, até que seja alcançada pela magnitude do Sol em expansão. 

         A ciência admite, na qualidade de tese mais aceita, que a vida se iniciou em sua superfície 1 bilhão de anos após a sua individualização planetária, com o surgimento dos primeiros seres de células únicas, as quais ainda desorganizadas e distantes da estrutura celular que a Biologia estuda na atualidade. Desde esse primeiro momento até o aparecimento do Homo sapiens as espécies de todos os Reinos foram se sucedendo em longos períodos, de forma que quando a individualidade ancestral humana surgiu estávamos há 4 milhões de anos atrás do atual calendário. As primeiras civilizações datam de apenas meros 11 mil anos.

         A saga do planeta seria de todo inútil se acreditarmos que falta ao seu processo evolutivo de bilhões de anos, até ser entregue nas mãos dos seres humanos, a variável do compromisso com o crescimento dos valores morais e intelectuais. O fato de ainda não compreendermos a importância da convivência pacífica entre os indivíduos e julgarmos pelas nossas próprias deficiências éticas como será o futuro do mundo não é uma assinatura de inutilidade ao destino que a Natureza nos incumbiu.  Na visão de Carl Sagan (astrofísico que se afirmava ateu/materialista) “Um extraterrestre, recém-chegado à Terra – examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros –, poderia facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos, estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo. Continuamos a seguir esse padrão e, pelas constantes repetições, muitas das crianças acabam aprendendo essas coisas. Que tipo de sociedade não poderíamos criar se, em vez disso, lhes incutíssemos a ciência e um sentimento de esperança?”

          Falta-nos a aposta de que é na atitude de cada um que inventamos todos os dias um mundo novo para ser vivido daí em diante. Esquecidos da viagem do tempo até que a vida nos trouxesse até aqui e agora, apenas desperdiçamos a existência por não sentir que somos construtores de significativa importância para a mudança da realidade que se expressa no choro da humanidade. Não foi para o usufruto vão nem para devaneios egoicos, tampouco para brilhar personalismos que o Universo preparou esse palco de nossas existências. O planeta azul nos convida à solidariedade nos relacionamentos, escuta do outro, liberdade mútua, serenidade nas contradições, respeito nas divergências, apoio nos fracassos, vibração pelo sucesso alheio. De outra forma não atravessaria o espaço e o tempo se o seu ilustre morador, o indivíduo humano, não estivesse predestinado para o aprendizado progressivo que o levará indubitavelmente à fraternidade e à paz, antes que se consuma o final dos tempos de sua trajetória no sistema solar. Façamos jus à oportunidade de renovação.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 10/04/2016.

(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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