Pular para o conteúdo principal

A VESTIMENTA NO MEIO ESPÍRITA







No meu tempo de juventude assisti a um filme épico “A Sandália do Pescador”. E agora, com a lembrança deste filme penso no simbolismo da simplicidade presente numa sandália. Jesus e seus discípulos as calçavam, não utilizavam de calçados vistosos ou de roupas suntuosas. Destacavam-se pela simplicidade. Se ele é nosso guia e modelo - e realmente é - será que neste aspecto também não deveríamos procurar segui-lo?

Óbvio que não estou dizendo que devemos nos vestir de forma simplória, mostrando uma humildade que não está em nós. Vestir bem, de forma simples e elegante precisa ser um dos objetivos da pessoa que gosta de si mesma. O que precisamos evitar é a ostentação. O foco deste texto é a ostentação, quando é vivenciada por líderes espíritas que, em princípio, precisam ser modelo de conduta.


Tenho um amigo espírita que já está chegando aos noventa anos. E sempre que o vejo está vestido com sóbrios ternos. E, nele, em nenhum momento se vê ostentação. Vemos, sim, um hábito que traz dos seus tempos de mocidade. Portanto usar ternos ou não (no caso do homem) não é o foco deste artigo. O foco, reforço, é a ostentação, isto é, quando a vestimenta assume um peso que foge da simplicidade dos que realmente procuram serem seguidores de Cristo. Uma coisa é irmos de terno (no caso do homem) a um encontro espírita onde não somos figura central. Outra coisa é o fato de dez líderes espíritas sentarem-se “enternados” (esta palavra não é encontrada no dicionário) à frente de centenas dos “desenternados” (esta também não existe).

Às vezes (é importante não generalizar), repito, “às vezes” vê-se, em tradicionais encontros espíritas, uma pompa que mancha a simplicidade do Espiritismo. Parece ser encontros de grandes empresários. Vê-se em cada um dos presentes, pela forma de vestir, o seu “alto cargo” na instituição por ele representada. Se a melhor forma de educar o próximo é pelo nosso exemplo, onde está o espírito educativo nestas apresentações?

De minha parte, se estivesse à frente de instituições espíritas, faria um especial pedido aos líderes espíritas em encontros setoriais ou regionais: “Pessoal, lembremo-nos de Jesus, modelo de simplicidade. Sigamo-lo. Procuremos neste encontro abolir ternos ou roupas pomposas. Se ele andava com vestes simples e de sandálias, sem a preocupação de mostrar exteriormente a grandeza de seu cargo, por que seguirmos na direção contrária?”.

Que alegria sentiremos quando, num importante encontro federativo, virmos todos os líderes com camisas do dia a dia e não enternados!!!

A vestimenta simples em reuniões de grandes líderes federativos cria um ambiente externo totalmente favorável à atenção plena do público presente. Pois nada há tão belo quanto a simplicidade.

Outro aspecto que precisamos começar a trabalhar em nosso meio são as mesas gigantes, assunto do próximo tópico.

Mesas gigantes & Mesas girantes

Às vezes, no palco do auditório de encontro federativo, existem mesas gigantes onde nominalmente, as autoridades espíritas são convidadas a sentarem-se à frente das mesmas. Já participei de eventos onde estas mesas abrigavam – no palco - número superior a vinte pessoas!!! Neste encontro vários oradores iriam fazer suas pregações. Excelentes oradores foram convidados. Se, por formalidade, os líderes deveriam inicialmente se sentar à frente de cada mesa, fundamental seria que após o início das palestras todos descessem ao auditório para ficarem junto aos comuns.

Neste encontro que estive presente, enquanto o orador proferia sua palestra, as autoridades – todas enternadas - ficaram no mesmo palco, em longa fileira de mesas ao lado do palestrante e à frente do público. Neste caso duas grandes falhas foram cometidas. A Primeira: a presença de pessoas ao lado do orador dispersa a atenção do público, pois é sempre conveniente que o orador seja a única pessoa visível no palco, qualquer presença estranha ao mesmo atrapalha a concentração do público. Pois, geralmente 30% do público é especialista em analisar as reações corporais das pessoas que estão no palco, isto é, em vez de ouvirem atentamente o orador, observam que determinado líder está olhando para cima, outro está quase dormindo...; Segunda falha: o fato das autoridades estarem à frente do público e, muitas vezes, num nível físico mais elevado (palco) transmite ao subconsciente do ouvinte uma diferença do “nível representativo de superioridade”, situação não adequada à visão kardequiana.

Em tempos passados as mesas girantes tiveram o mérito de despertarem a curiosidade científica de Allan Kardec, que o levaram ao estudo e ao assentamento das bases do Espiritismo. Nos tempos atuais, as mesas gigantes têm o demérito de despertar em nós o personalismo que herdamos de nossas vidas passadas.

Este personalismo também chega na divulgação do Espiritismo, assunto que exponho a seguir.

A ostentação presente nos textos distribuídos à entrada dos Centros Espíritas

Há panfletos de divulgação de nossa Doutrina, geralmente distribuídos na porta de entrada, que traz as seguintes informações: “Espiritismo, a terceira revelação.”; “Espiritismo, a Doutrina que responde aos questionamentos fundamentais do ser humano.” etc..

Expressões como as citadas não são necessariamente atraentes para um não-espírita que pela primeira vez visita um Centro Espírita. Estas expressões passam uma imagem de prepotência, ares de superioridade.

A linguagem que atrai o visitante é aquela em que, mais do que valorizar o Espiritismo, valoriza-se a grata presença dele no recinto. É o necessário afeto inicial. Tem mais peso e valor uma fala de “boa noite” com carinho para quem chega ou um texto extraído, por exemplo, da série de livros Fonte Viva, de Emmanuel (FEB), do que ostentar que o Espiritismo é a terceira revelação.


Como disse o espírito Hammed, a simplicidade é uma das maiores conquistas do espírita contemporâneo. Mas, o difícil é ser simples. Esforcemo-nos!

Comentários

  1. Gosto muito do que o Profº Alkíndar de Oliveira escreve. Ele toca em problemas incômodos de uma forma sincera e ao mesmo tempo suave. A impressão que tenho, enquanto leitor, é de que ele está interessado em ajudar e de que não precisa de meias-palavras. Confesso que gostaria de balancear, de tal forma, minhas palavras. E tenho certeza de que nenhum espírita sensato dar-se-á por magoado com suas ponderações.
    Everaldo Mapurunga
    Viçosa do Ceará

    ResponderExcluir
  2. Pessoalmente acredito que esses fatores aludidos sejam ou deixem de ser ostentação. Longe de advogar o tipo de roupa que cada um veste, entendo que se pode ostentar com vestes simples ou mais requintadas; a ostentação está dentro de cada um. Não é a roupa que faz a pessoa e é sempre importante deixar a escolha para cada um fazer, lógico que há a ressalva que o bom senso indica àquelas vestimentas que podem despertar sensualidade por mostrar a nudez, situação que destoa do clima de oração necessário à prática espírita. de resto quanto menos se opinar, na minha opinião, é melhor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desculpem-me, esqueci de me identificar: Roberto Caldas

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...