Pular para o conteúdo principal

TRAGADOS PELA FUMAÇA¹

 
Cinco milhões de pessoas no mundo morrem anualmente por causa do uso de cigarros. Ou seja, dez pessoas por segundo. No Brasil, são duzentos mil mortos (um a cada sete segundos)!
A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê, para os próximos quinze a vinte anos, o dobro dessas mortes, caso se mantenha, como hoje, a escalada do tabagismo.
O hábito de fumar encurta a vida em pelo menos dez anos, além de determinar uma má qualidade de vida, no período terminal da existência, em consequência dos distúrbios respiratórios e cardiovasculares que lhe são secundários.
Apesar disso, há cerca de um bilhão e trezentos milhões de fumantes em todo o mundo, sendo 28 milhões no Brasil. As campanhas antitabagistas internacionais, intensificadas nos últimos vinte anos, conseguiram diminuir apenas levemente a prevalência de tabagistas do sexo masculino, mas, em contraposição, observou-se um aumento do número de mulheres tabagistas, notadamente nos países em desenvolvimento.

Qual seria o motivo dessa exorbitância de viciações, apesar das pesquisas médicas que demonstram a sua relação com um enorme elenco de doenças e com a perspectiva sombria da morte prematura?
Em primeiro lugar, há que se destacar a agressividade da indústria do fumo e a sua grande produção em países como Estados Unidos, Brasil e China, que não conseguem se eximir dos interesses e compromissos econômicos. O Brasil é o maior produtor mundial e o 4º maior exportador!
São também destacáveis os aspectos psicológicos e sociais: a dificuldade de autocontrole, a necessidade de reconhecimento sócio-cultural pelos pares e a tendência imitativa dos costumes, em especial na adolescência; assim como os estados de maior vulnerabilidade emocional, do tipo desemprego, viuvez, divórcio etc.
Por outro lado, é preciso compreender que o tabagismo deve ser considerado como uma verdadeira doença. É uma enfermidade com bases biológicas, pois a nicotina – uma dentre as mais de 4.700 substâncias encontradas na fumaça do cigarro – é capaz de causar dependência química, ao agir repetidamente sobre o sistema nervoso, levando à liberação de várias substâncias químicas fabricadas pelos neurônios (neurotransmissores): dopamina, serotonina, noradrenalina, acetilcolina etc. Essa ação resulta em alterações do cérebro: não apenas funcionais, mas também estruturais, segundo nos esclarecem as pesquisas científicas. Há mesmo fatores hereditários implicados na dependência química à nicotina.

DOENÇAS RELACIONADAS COM O TABAGISMO

O vício de fumar provoca também outros distúrbios consequentes à ação das diversas substâncias presentes na fumaça do cigarro: os hidrocarbonetos cancerígenos (cerca de 70), a nicotina e o dióxido de carbono.
O alcatrão promove inflamação e mutação genética; o dióxido de carbono, ligando-se à hemoglobina, leva à respiração anaeróbica que resulta na formação de substâncias oxidantes; e a nicotina, que, além da dependência química, determina modificações na função e na estrutura das paredes dos vasos sanguíneos, afetando o sistema cardiovascular.
As principais enfermidades que estão relacionadas com o tabagismo são:

* Bronquite e enfisema pulmonar – 85% dos pacientes que sofrem desses males são fumantes. Tosse, secreção pulmonar, falta de ar e infecções respiratórias são comuns nesses pacientes que apresentam modificações pulmonares irreversíveis e precisam de atendimentos hospitalares repetidos.
* Câncer – 30% de todos os cânceres estão relacionados com o uso de cigarros, sendo que 90 a 95% dos cânceres de pulmão acometem os fumantes. Vale salientar que esta doença vem crescendo nas últimas décadas (2% ao ano), sendo considerada uma pandemia (epidemia mundial). Outros cânceres tabacorrelacionados: de laringe, de boca, de esôfago, de bexiga, de rins, de pâncreas, de estômago, de mama, de intestino, de reto e de colo do útero.
* Doenças cardíacas e vasculares – Fumar aumenta o risco para hipertensão arterial sistêmica, angina do peito, infarto do miocárdio e morte súbita. Tabagistas têm risco dobrado para as doenças coronarianas e, se também sofrem de hipertensão arterial e de aumento do colesterol sanguíneo, essas possibilidades serão oito vezes maiores.
* Doenças neurológicas – O fumo triplica as chances de se ter um acidente vascular cerebral (trombose/derrame) e duplica a possibilidade de se contrair a doença de Alzheimer (demência precoce).
* Doenças sexuais – impotência masculina, diminuição da capacidade de procriar, aumento das doenças e das taxas de mortalidade da mãe e do bebê, em caso de gestantes.
* Osteoporose – o tabagista tem maior possibilidade de sofrer o problema de descalcificação que enfraquece os ossos.
* Envelhecimento precoce – os fumantes apresentam, com o tempo, enrijecimento da pele e aparecimento precoce de rugas, o que lhes faz parecerem cinco anos mais velhos. Destaque-se o fato de que as mulheres são mais afetadas que os homens.

FUMANTES PASSIVOS

Estudos realizados na última década dão conta de que as pessoas que convivem com tabagistas tornam-se fumantes passivas e apresentam maior risco, em relação às não-fumantes, para todas as enfermidades relacionadas com o tabagismo. Só para citar os problemas de saúde mais frequentes: o fumante passivo tem um aumento de 25% e 26% nos riscos de sofrer infarto do miocárdio e de desenvolver câncer de pulmão, respectivamente.
As crianças são as mais afetadas, quando expostas ao tabagismo passivo doméstico, principalmente as mais novas. Morte súbita, asma brônquica, infecções e outros problemas respiratórios estão entre os males a que mais se expõem.
Quarenta mil pessoas, no mundo, e quase duas mil e quinhentas, no Brasil, morrem anualmente em decorrência dessa condição de fumantes passivas. Os números, porém, podem ser ainda maiores, afirmam os especialistas.
Por essa razão, as legislações de vários países proíbem o uso do fumo em lugares fechados e com aglomerado de pessoas, às vezes reservando lugares próprios (os fumódromos) para os que sofrem do mal do tabagismo.
No Brasil, a lei federal de nº 9.294, de 15 de julho de 1996, em seu artigo 2º, proíbe o uso de cigarros e similares, “em recinto coletivo, privado ou público”, mas ainda não é amplamente cumprida. É direito do não-fumante exigir não fumar com os viciados, não ser afetado pelo vício dos outros!



REPERCUSSÕES ESPIRITUAIS

No Movimento Espírita, sob a desculpa da tolerância e do respeito ao livre-arbítrio, em franca posição pseudo-evangélica, há, em geral, uma atitude de omissão a respeito dos malefícios espirituais determinados pelo vício do tabagismo. Muitos se escudam em argumentos capengas como o de que é preferível um vício químico a um vício moral, como se uma coisa não estivesse atrelada a outra, pois um Espírito completamente moralizado não se permite escravizar por uma dependência química e obviamente tem até plena capacidade de negar-se à sua submissão.
A verdade é que, apesar de não se encontrar nos textos da Codificação Espírita referência direta às repercussões do Tabagismo sobre o Espírito, é fácil depreender-se de seus postulados gerais como livre-arbítrio e responsabilidade, lei de causa e efeito, respeito e cuidados para com o corpo físico, dentre outros, os malefícios espirituais causados pela dependência tabágica.
Em primeiro lugar, há que se destacar a abertura que o tabagista franqueia para a aproximação de Espíritos desencarnados viciados, a procurá-lo pela lei de afinidade, oportunizando-lhe estabelecer processo de vampirização.
Essa vampirização, além de intensificar o problema da dependência e da necessidade da droga, ainda costuma causar sintomas e até mesmo enfermidades pelo desequilíbrio perispirítico do enfermo da alma.
Além disso, o uso continuado das substâncias nocivas contidas no cigarro, ao mesmo tempo em que adoece o organismo físico, patrocina alterações patológicas no perispírito, como resultado da ação mental negativa e da indiscutível ação suicida indireta.
Essas modificações perispirituais associadas à dependência psicológica e mental costumam levar a sofrimentos múltiplos imediatos e mediatos após a desencarnação, assim como também a uma predisposição a enfermidades múltiplas ou mesmo a doenças congênitas/hereditárias na encarnação vindoura.
Há os que tentam, como sempre, justificar que, através da ação caritativa, se poderia eximir-se o tabagista dos sofrimentos futuros, porém, muito embora a prática do Bem produza sempre resultados minimizadores às nossas dificuldades morais, não há como se evitar a colheita dos frutos resultantes do comportamento equivocado.
Outra reflexão: Se o Espírito não consegue tomar consciência da sua responsabilidade para com a saúde do instrumento recebido da Bondade Divina para viver neste mundo físico nem tem forças para libertar-se de um vício químico, como se verá capaz de suplantar viciações morais que cultua ao longo de muitas existências?
Vencedor de um vício químico, o Espírito encontra estímulo para o combate das suas viciações de caráter moral.

LIVRANDO-SE DO MAL

Sabe-se que aqueles que abandonam o vício de fumar, além de se libertarem de um jugo perverso – melhorando as suas condições de vida e as suas funções respiratórias –, com o passar dos anos têm seus riscos de adoecimento diminuídos e até semelhantes ao da população, em geral. É o que se dá, após vinte anos de interrupção, para o câncer de pulmão; após dez anos, para as doenças do coração e, após cinco anos, para o acidente vascular cerebral.
Boa parte dos doentes do mal tabágico, no entanto, não consegue libertar-se usando apenas a vontade própria e necessita de acompanhamento médico-psicológico-espiritual para conseguir a sua libertação, a sua cura. Há tratamento psicológico, principalmente pela chamada terapia cognitivo-comportamental, e tratamento medicamentoso, seja usando reduzidas doses de nicotina (adesivos e chicletes), seja usando medicamentos que agem sobre o sistema nervoso.
A Casa Espírita, por sua vez, oferece o seu tradicional acompanhamento espiritual para os males do espírito.

*    *    *


Os que fumam e pensam tragar a fumaça do tabaco que lhes dá prazer, são na verdade por ela tragados e ludibriados por um falso companheiro que lhes apunhala por trás, remetendo-os ao despenhadeiro da morte prematura e, frequentemente, dolorosa!


¹ Fonte: http://www.ice-ceara.org.br/noticia/index.html


Comentários

  1. Muitíssimo esclarecedor. Tudo muito bem pontuado. Nada de estranhar, vindo deste respeitável Dr. Castro: Erudição, bom senso, veemência, coerência doutrinária.
    Vamos recomendar e repassar.
    "Tabacorrelacionados" é um neologismo... proposital?
    Ou trata-se de deve falha de digitação?
    Everaldo Mapurunga
    Viçosa do Ceará

    ResponderExcluir
  2. Francisco Castro de Sousa26 de novembro de 2014 às 08:27

    Meu Caro Everaldo, muito me envaideceria se esse texto estivesse assinado por mim, mas é do Francisco Cajazeiras, no entanto, há nele um erro aritmético: Considerando 5 milhões de mortes por ano, teremos apenas 9,52 mortes por minuto (podendo arredondar-se para 10 mortes/minuto, porque não se pode imaginar que uma pessoa morra pela metade) de qualquer forma já é um número assustador, seria mais assustador ainda se fossem 10 mortes por segundo! É a nossa aritmética que não falha!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.