sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A DIDÁTICA DA MORTE



Ela disse que ele era o anjo da guarda dela e veio até Toledo (PR) para levá-lo embora”
(amigo da família da jovem)




          

               Sábado último (2), estudante da Universidade de Santa Maria, uma das organizadoras da festa na boite Kiss desencarnou juntamente com o seu namorado em acidente de carro.
            Ela foi convencida pelo seu namorado - que estava em outro Estado e não poderia acompanhá-la -, a não ir à festa. Isso a livrou do incidente que culminou com a desencarnação, até agora, de 238 pessoas e mais de cem feridos.
            Uma peculiaridade marcante nesses dois episódios é o vínculo afetivo existente entre maioria das vítimas: namorados, cônjuges, irmãos, primos, amigos. São desencarnações com características de expiações solidárias, segundo o pensamento do Espírito Clélia Duplantier, em “Obras Póstumas”: “As expiações coletivas são solidárias, o que não suprime a expiação simultânea das faltas individuais.” Portanto, as responsabilidades de todo homem realizam-se como indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro de família, e finalmente, o de cidadão.
            Esclarece o referido Espírito: “Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que numa existência vêm a estar reunidos por uma tarefa comum já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo e ainda reunidos se acharão no futuro, até que atingido a meta, isto é, expiado o passado, ou desempenhado a missão que aceitaram.”
            Morte e vida caminham juntas, de mãos dadas por toda a nossa existência. Como nos versos do “Manifesto de Tânatos”: (1)

“Estou aqui hoje e sempre
Pois minha irmã é a vida
E a dançar em vossa roda
É ela que me convida.”


             Sendo a morte algo inevitável nas nossas jornadas terrenas, cabe-nos deixar de ver a morte somente na perspectiva do próximo. É preciso pensar na nossa morte a todo instante. É necessário educar-se para a morte, como bem lembra o Prof. Herculano Pires, na obra “Educação para a Morte”: “A Educação para a Morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que tende ajustar os educandos à realidade da Vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e transcender.”
            Sob a ótica espírita, essa educação é promovida através de processo didático que se realiza através do significado da vida que resulta na esperança no futuro, tendo com principal protagonista o Espírito imortal. Essa perspectiva molda-se na proposta educacional reencarnacionista. Não mais o céu, inferno ou purgatório, mas vivências reeducadoras que o Ser experiencia na própria Terra a resultante dos seus pensamentos, impulsos atos e desejos, em ciclos já vividos.
            Portanto, a Educação para a Morte, é antes de tudo, desenvolvermos em nós a consciência de morte como fenômeno biológico e não como tragédia humana. Entendê-la como naturalidade e não como desgraça.
            Fosse possível imiscuir na vida privada de muitas das vítimas, o processo didático da morte estaria presente. Por exemplo, o que relata o pai de uma delas: a menina sempre insistia em dizer que não viveria por muito tempo. Ele contou que, ao folhear o diário da filha, a família descobriu que ela deixou escrito: "viver até os 35, para que mais". Ela sempre dizia isso, durante as refeições, para que nos acostumássemos porque ela iria embora.”
            Diante desses episódios coletivos, quer sejam originados por flagelos naturais ou da negligência humana, faz-se necessária tomada de consciência universal sobre a morte. Não podemos restringir a morte apenas no contexto do sofrimento dos familiares e dos sonhos interrompidos dos que partiram. Natural que as questões físicas, psicológicas e sócias sejam consideradas. No entanto, o aspecto determinante para o enfrentamento da morte é o quesito espiritual.
            O que somos? De onde viemos? Para onde vamos? São exigências básicas para o multidisciplinar processo de educação para a morte, sua didática e pedagogia.
            O príncipe Siddartha Guatama, o Buda, afirmava que a morte nos visita 75 vezes em cada uma das nossas respirações.
            Todos nós precisamos compreender a didática da morte, para entender a vida. Pois como necessitamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida, assim também será à morte.
           
           
“Acompanhai quem amais
Ao portal da vida além
Despedindo-vos com calma
Até o momento que vem!

E eu passarei tranquilo,
Com doçuras sem iguais
E no momento oportuno
Podereis morrer em paz! 
(Manifesto de Tânatos)

            Pensemos nisso!
                        

()   Post Scriptum: A jovem chama o namorado de "Anjo da Guarda" por ele ter livrado-a da tragédia da boite Kiss. Ela foi buscá-lo em Toledo (PR), pois o mesmo estava retornando ao Rio Grande do Sul para assumir novo emprego. O carro em que viajavam bateu de frente em uma carreta.



                       
(   (1)  Thanatos, (imagem ilustrativa) na mitologia grega, é filho, sem pai de Nix, a noite. É a personificação da morte, que nascido no dia 21 de agosto, tinha essa data como o dia preferido para arrebatar vidas.
(
(     (*) livre-pensador, blogueiro e voluntário do Instituto de Cultura Espírita.




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