terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ODE ESPÍRITA À SECA







“Mas doutô uma esmola
 a um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha

 ou vicia o cidadão.”
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)



Os versos acima são de Vozes da Seca, baião composto por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953, em protesto à grave seca que à época assolava o nordeste brasileiro. Segundo o próprio Gonzaga, um deputado no Parlamento afirmou: “Sr. Presidente, esse baião de Gonzaga e Zé Dantas vale por mais de cem discursos.”  A seca é tema de debates no Congresso; em campanhas políticas; criação de Instituições; estudos; pesquisas de cientistas. A solução definitiva, no entanto, não acontece.
            Sessenta anos depois de Vozes da Seca, enfrentamos talvez a pior estiagem de toda a sua série, e o cenário é o mesmo. No Brasil, secas ou enchentes – flagelos destruidores naturais - as consequências são previsíveis; repetitivas.
            Em tempos de flagelos destruidores, o Congresso cria as inócuas comissões parlamentares, como agora, que consomem horas, recursos financeiros, falácias, promessas, programas, projetos.
             Teimo em não concordar com Peter Drucker (1909-2005), de origem austríaca, considerado o pai da administração moderna, quando afirmou: “Na verdade, se esse século confirma alguma coisa, é a inutilidade da política. Drucker foi o grande visionário do século XX quanto ao fenômeno dos efeitos da Globalização na economia e em geral.

            A teimosia reside na minha convicção espírita. Allan Kardec, em o “O Credo Espírita” afirma que A questão social não tem, pois, por ponto de partida a forma de tal ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos indivíduos e das massas. Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável extirpar a corrupção.”
            A Doutrina Espírita é otimista quanto ao futuro do homem e da Humanidade, e não poderia ser diferente. Calcada na lei do Progresso, faz com que enxerguemos a justiça Divina em tudo, tendo como paradigma evolutivo a reencarnação do Espírito.
            Em “O Livro dos Espíritos” - lei de Destruição -, os Espíritos Reveladores afirmam que os flagelos destruidores são ações da Providência Divina para que a Humanidade avance mais depressa na sua regeneração moral. A visão ainda obscurecida pela materialidade que reina na vida de relação dificulta observarmos o fim para apreciarmos os resultados.
            O Espírito Santo Agostinho em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” é peremptório ao esclarecer que nos Mundos de Provas e Expiações, como é o nosso, ”os Espíritos exilados têm de lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza, trabalho duplamente penoso, que desenvolve a uma só vez as qualidades do coração e as da inteligência.”
            Os flagelos destruidores têm utilidade não só no aspecto moral como físico também.
          No aspecto físico, transformam o estado de uma região que será usufruído nas gerações futuras. A transposição do São Francisco é exemplo adequado, quando ocorrer.
            Quanto ao quesito moral, proporciona ao homem exercitar a sua inteligência e estimular a sua paciência e resignação ante a vontade de Deus. Ao mesmo tempo, proporciona o desenvolvimento dos sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, superando estágios ainda dominados pelo egoísmo. As campanhas de amparo às vítimas organizadas pela sociedade civil é um belo exemplo de amor ao próximo.
            Nos comentários adicionais à questão 741 de “O Livro dos Espíritos” sobre os flagelos destruidores, naturais e independentes da vontade do homem – a fome, a peste, as inundações, as intempéries fatais à produção (seca) -, Kardec considera as possibilidades que são geradas pelo avanço da Ciência e o aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, condições concretas e objetivas para pelo menos atenuar os desastres. Vejamos o exemplo de Israel.
            O homem não faz uso dessas bênçãos da Divindade pelo império do egoísmo que favorece a corrupção, fenômeno cultural na política brasileira.
        A Doutrina Espírita alarga o conhecimento sobre esses aspectos e explica as recompensas que as “vítimas” receberão no futuro, em sabendo aceitá-las.
            O Espiritismo torna compreensiva a assertiva de Jesus:
            “- Bem aventurados os aflitos!”
            A compreensão gera a obediência e a resignação, não o conformismo.
          Amparemos esses nossos irmãos naquilo que nos for possível, presente o chamado dos Reveladores Celestes na questão 930, de “O Livro dos Espíritos”:


“- Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”

            ... E sede!



Post Scriptum:
a foto: é do Pe. Djacir Brasileiro, de Piancó (PB), voz denunciante do descaso dos políticos com os sertanejos paraibanos que padecem as aflções causadas pela seca.
2ª foto: o sertanejo suporta o odor pútrido do animal morto, por questões éticas, em abandoná-lo à margem da estrada, pouco mais de 20 metros da sua residência.


9 comentários:

  1. Quando eu mudo , o meio a minha volta também muda.Se for para o bem, melhor ainda!

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  2. Parabéns sempre, todos os dias, pelo blog... Parabéns!!!

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  3. Parabéns amigo! Vc foi muito feliz!

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  4. Muito bom Jô. Parabéns!

    Muita paz!

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  5. Argumentacao espirita certeira !!!! Bjao. Aline Loiola.

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  6. Parabéns pelo texto. No Ceará, a quantidade de chuvas anuais é infinitamente superior às da regiões tórridas da península arábica, mas lá eles não sofrem seca. Motivo? Uso de tecnologias para o uso da água. O problema da seca no Nordeste é muito mais político que natural. Não se concebe que em pleno século XXI eu veja aqui na minha terra (Crateús) carcaças de de animais que morreram de fome e sede. Hoje soube na rádio que se não chover até março a cidade (que é cidade pólo e tem quase 80 mil habitantes) vai ter que se sustentar de carros pipa! A seca rende voto aos políticos corruptos, pois cria voto de cabresto. Aliás, o problema muito mais que político é moral!

    Alex Saraiva
    Crateús/CE

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    1. Caro Alex!
      Seus comentários adicionais fortalecem a tese espírita, que possibilitou o ensaio acima. Vivi muito tempo no interior dos Estados de Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará, sei bem o que é uma seca e seus desdobramentos. Na realidade, falta vontade política para superarmos essas adversidades climáticas, não só no Nordeste, como no Sul e Sudoeste do País. Só sairemos dessa inércia com uma mobilização social integrada.
      Abraços e fé a todos da sua região!

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  7. Postando no Facebook Amigo. Parabéns pelo belo artigo!!

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  8. Caríssimos e caríssimas!
    Agradecido, sou, pelos comentários acerca do texto acima. Na verdade, o que possibilita essa perspectiva, é a Doutrina que todos nós abraçamos e a amamos: Espiritismo. Ele possibilita mundividência racional e lógica de todos os fenômenos que alcançam a nossa existência.
    Continuem nos apoiando!
    Abraço fraternal a todos!

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