quarta-feira, 4 de setembro de 2024

NÃO IMPORTA? O QUE IMPORTA?

 

Por Marcelo Henrique

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo: sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou (Raul Seixas, “Metamorfose ambulante”).

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 Não importa. O que importa? Quem se importa? O que é importante? Por que é importante?

 Sigo me questionando, a cada passo, todos os dias. Como Espírito, imortal, progressivo, parto das minhas certezas para as dúvidas e destas para outras… Dúvidas! Sim, tolo é aquele que supõe “tudo saber” sobre estas ou aquelas coisas. Ou sobre tudo o que lhe cerca, ou todas as pessoas…

E por questionar, me entristeço, me indigno, me aborreço. Com os humanos e suas incompreensões permanentes. Com a espúria necessidade de formatar os outros, de estabelecer estereótipos. De preestabelecer condutas. De teorizar de modo absoluto. De padronizar sentimentos. De circunscrever o amor. De limitar o ser…

O que importa? Um menino de treze anos, Lucas, cometeu suicídio, na França, dias desses, por sofrer bullying na escola, na forma de insultos homofóbicos de quatro colegas, dois garotos e duas garotas. As atitudes eram recorrentes, tendo a mãe alertado a escola em setembro último. Quem se importa?

O que importa? A exigência dos outros em delimitar o “quem se é” do outro, estabelecendo o que “pode” e o que “não pode”, em termos de personalidade, sensibilidade, sentimentos, gostos, vontades e vivências. Alguém resolve definir como você deve ser, como precisa se comportar, qual a sua aparência desejável, de quem você possa se enamorar. Mas, diante disso, quem se importa?

Você se considera “normal”, por ser hetero, por gostar do que todo mundo gosta, por vestir o que os outros vestem, ou por repetir atitudes aceitas ou toleradas pela maioria? É a intolerância das religiões que impera, ou você nem tem (ou segue) esta ou aquela igreja? Talvez a sua “religião” seja aquela que alimenta as suas crenças e os seus preconceitos. E crenças todos temos…

O que importa? Você diz: foi na França, e eu com isso? Talvez lhe falte empatia e solidariedade, quiçá fraternidade, pela condição humana. Mas e se fosse aqui, perto de nós, no bairro onde vivemos. Isto mudaria? Creio, firmemente, que não! Você não sabe, não vê, ou não quer ver nem saber, porque não lhe importa: tais fatos ocorrem, todos os dias, os insultos, as grosserias, as piadas de mau gosto, os olhares atravessados, os gracejos sem sentido, o menosprezo, a exclusão. E, por vezes, eles levam à violência explícita: as agressões, os homicídios ou os suicídios. Contudo, quem se importa?

Nestes tempos estranhos em que o individualismo beira ao materialismo – porque o que mais importa é o EU, agora, o meu, o que penso, o que sou, o que tenho, o que ostento, o que aparento, como me reconhecem, o quanto me admiram etc. – mas, também, alcança outro segmento, o do egoísmo derivado da visão espiritual do porvir que lhe aguarda.

Explicando: se todas as religiões ou filosofias da espiritualidade contemplam a existência de uma vida futura com benesses e vantagens, corre-se contra o tempo para garantir, para si, independente dos demais, o “melhor lugar”. É o Céu, é a Colônia, é a Vida Futura, é o Nirvana, é o Êxtase, é a Quintessência… E os outros? Que cada um cuide de si, do seu progresso espiritual…

Por isso, para muitos, a notícia do suicídio do garoto não provoca qualquer sobressalto ou a estupefação não sobrevive nem sobreexiste ao final deste artigo. Os olhos arregalados ou um esboço de lacrimejar já terão sido substituídos pelas comuns preocupações do dia que se segue.

Não importa, então, para você? O que será que importa? Quem se importará com você? O que será mais importante? Por que certas coisas lhe são mais importantes? Para nós, Lucas e todos os meninos e meninas, jovens ou adultos que desejam ser eles mesmos, serem felizes e viver em paz, com sua sexualidade NOS IMPORTA!

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