Por Jerri Almeida
Quando Platão, pela boca de Sócrates ou Diotima, assevera que o amor “é um desejo de procriação do belo” , nos oferece uma das mais interessantes e belas definições sobre o Amor. Procriar é tornar o Amor produtivo. E torná-lo produtivo é torná-lo pragmático dentro de uma concepção utilitarista para o ser humano, em sua experiência existencial.
O Amor é sentimento mantenedor da vida e harmonizador da convivência social. É, igualmente, uma arte que necessita ser aprendida e aprimorada pelo intelecto. Nesse sentido, concordamos com Erich Fromm quando afirma que: “O amor genuíno é uma expressão de produtividade e implica cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento”, de tal forma que se transforma em esforço ativo e dinâmico pelo crescimento e felicidade da pessoa amada. Logo, ao produzir felicidade, o amor produz beleza: “satisfação da alma”.
Platão, ao falar sobre o Amor, torna-se, na visão espírita, um discípulo de Jesus, pois a essencialidade da proposta cristã é, sem dúvida, o Amor, em sua mais alta expressão: o “bem”. Aí temos, também, um aspecto fundamental que é a questão do amor-próprio, não exclusivista, egoísta, mas inclusivista, isto é, aquele que inclui o “outro” num sentimento de partilha do belo ou do bem, através das necessidades de intercâmbio afetivo. Amar ao próximo é, pois, fazer-lhe todo o “bem” que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito.
Não vemos o Amor como um sentimento utópico e alienante, tal qual foi pintado pela literatura romântica de todos os tempos. Não cremos que seja essa a direção tomada por Platão em seu livro Banquete. Em nosso juízo, Platão buscou interpretar um dos maiores anseios da criatura humana, que é a questão da felicidade e, dentro de um princípio universal, ressalta o Amor como uma práxis altamente positiva para a plenitude do Ser, mesmo dentro da relatividade da vida na Terra.
Lemos no Cap. XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo que o amor é: “...a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo”. Significa dizer, portanto, que na concepção espírita o Amor é um sentimento que deve ser adotado como “regra de conduta” donde promana a “verdadeira fraternidade”. Depreende-se que quando os indivíduos amam, imprimem uma modificação em sua conduta individual, e por conseguinte, na conduta das próprias instituições. Daí, afirmam os espíritos, “os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas, tão somente, união, concórdia e benevolência mútua”.
Os conflitos mundiais, as guerras, a violência urbana... todos esses problemas são gerados pela carência do Amor no coração dos homens. Por isso, o Amor é o mais valioso tesouro para edificar a felicidade na Terra. Enquanto não aprendermos a arte de amar, não lograremos erradicar os quadros da fome e de outras tantas faces da violência que permeia na coletividade.
A Doutrina Espírita compreende que o Amor é uma Lei Natural que dinamiza o potencial criador dos sentimentos humanos, para a arte de produzir o bem em suas múltiplas manifestações. O Amor é uma lei inexorável da vida, cujo efeito é sempre o aprimoramento moral do espírito encarnado e desencarnado.
A visão platônica do Amor, se coaduna com a concepção espírita. Ambos compreendem que amar é procriar o bem ou multiplicar felicidades, em contraposição aos sentimentos individualista que corroem e danificam as engrenagem da emoção humana e, portanto, corrompem o progresso do espírito imortal. Não há dúvida que, para o Espiritismo, o caminho para a plenitude do ser está consubstanciado na sua capacidade de Amar Produtivamente.
Referência bibliográfica
ALMEIDA, Jerri R. S. Filosofia da Convivência. 2a. Ed. Porto Alegre: AGE, 2006.
Brilhante texto. Gostei muito
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