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A ALMA DO HOMEM SOB O CAPITALISMO

 

Por Jorge Luiz

                “A vantagem principal da consolidação do socialismo está, sem dúvida, no fato de que ele poderia nos livrar dessa imposição sórdida de viver para outrem, que nas condições atuais pesa de forma implacável sobre quase todos. Com efeito, dificilmente alguém consegue escapar.” Assim, o grande escritor do século XIX, Oscar Wilde (1854-1900), inicia o ensaio sob o título A Alma do Homem sob o Socialismo, publicado em 1891, obra considerada revolucionária e questionadora.

            Wilde considerava o socialismo a única solução para se construir uma sociedade mais harmoniosa. Entretanto, considerava que a propriedade privada e a caridade são os entraves maiores para o desenvolvimento do individualismo (ser ao invés de ter). Diz ele:

 

“(…) Nada poderia prejudicar um homem a não ser ele próprio. Nada poderia lesá-lo. O que um homem realmente tem é o que está nele. O que está fora dele deveria ser coisa sem importância.”

 

            A propriedade privada, segundo Wilde, estimula a acumulação de bens, incentivando um materialismo exacerbado, dificultando o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo.

         Crítico da condescendência e da caridade, considerava-as impeditivas para que as classes mais baixas tomassem consciência da posição de opressão que viviam. Ele afirmava:

 

“(…) A meta adequada é esforçar-se por reconstruir uma sociedade em bases tais que nela seja impossível a pobreza. E as virtudes altruístas têm, na realidade, impedido de alcançar essa meta. Os piores senhores eram os que se mostravam mais bondosos para com seus escravos, pois assim impediam que o horror do sistema fosse percebido pelos que o sofriam, e compreendido pelos que o contemplavam.”

 

         Perante os espíritas brasileiros, Wilde foi incisivo:

 

“As emoções do homem são despertadas mais rapidamente do que sua inteligência; (…) é bem mais fácil sensibilizar-se com a dor do que com a ideia. ”

 

         Os espíritas brasileiros têm, em mãos, uma Doutrina libertadora de consciência. Contudo, o assistencialismo acrítico tornou-se fomentador de desigualdades e segregação social. Precisa-se refletir.

            O desenvolvimento da tecnologia deveria possibilitar ao homem a “escravidão mecânica”, onde as máquinas desempenharão essas atividades e libertarão o homem do trabalho braçal que o impede de fluir em pensares, acreditava Wilde. Ele estava certo quanto ao progresso tecnológico, mas falhou no tocante às melhorias das condições de trabalho a partir desse progresso.

            O século XX registrou as experiências soviética e alemã, o que deixou patente que o Estado burguês é o mantenedor e reprodutor das relações sociais capitalistas. A experiência socialista soviética apresentou duas personalidades que marcaram a Revolução Russa, Lenin e Stalin. Lenin representou o que havia de cultural e humanístico na Rússia. Stalin, ao contrário, foi o atraso, o preconceito e o desrespeito ao indivíduo, o que representou o principal óbice para os caminhos do socialismo na Rússia, e os descaminhos do marxismo e da revolução.

            Poucos sabem que apesar disso, muitas foram as conquistas da Revolução Russa para os direitos individuais. Com ela, surgem os direitos das mulheres, a legislação trabalhista, com a semana de cinco dias, férias gozadas e pagas, licença-maternidade, assistência de saúde etc.

            De Wilde aos dias atuais, a ideologia do capital, com suas crises e contradições, só aumentou a concentração de rendas, aprofundando as desigualdades sociais em todos os quadrantes da Terra.

            O 1% mais rico do mundo ficou com quase 2/3 de toda a riqueza gerada desde 2020 – cerca de US$ 42 trilhões –, seis vezes mais dinheiro do que 90% da população global (sete bilhões de pessoas) conseguiu no mesmo período. E, na última década, esse mesmo 1% ficou com cerca de metade de toda a riqueza criada. Pela primeira vez em 30 anos, a riqueza e a pobreza extremas cresceram simultaneamente, segundo o relatório apresentado pela Oxfam no Fórum Econômico Mundial em Davos (16/01/2023).

            As implicações do capitalismo e as suas metamorfoses na vida do trabalhador apresentam resultados desastrosos, fazendo pensar e parafrasear a célebre frase do antropólogo, sociólogo e escritor Darci Ribeiro (1922-1997): “o capitalismo é uma máquina de moer gente.” A partir daqui    os resultados são inimagináveis. Por exemplo, em 2021, até onze pessoas poderiam morrer de fome por segundo, se nada fosse feito. Um dado interessante mostrado pelo último censo no Brasil e é o retrato cruel da ideologia da reprodução social do capital é que, no Brasil, há a multidão de 5,9 milhões de famílias sem casa, enquanto 11,4 milhões de casas estão fechadas sem gente. 

            A propriedade privada é a gênese de todos os males da sociedade: violência, corrupção, fome, miséria e desigualdade social.

            Muitos espíritas, equivocadamente, defendem a propriedade privada, apeando-se na questão nº 808, de O Livro dos Espíritos:

 

“A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros?

- Sim e não. Que dizeis da astúcia e do roubo?”

 

         Há algo de mais astúcia e rapinagem que a ideologia da reprodução social do capital? Feita de crises e contradições, a ideologia do capital possibilita aos que participam dos extratos do poder – capital e burguesia – uma vida plenificada de mordomias materiais. Para eles, não há nenhum interesse em se buscar outros sistemas de governança que corrijam a injustiça social existente, daí o ódio disseminado contra o socialismo, o comunismo e até mesmo a democracia. Para o homem comum, aquele que enfrenta o cotidiano dessas crises e contradições, há uma fratura existencial em sua alma.

            São muitos os estudos sobre as crises e as contradições do capital, a partir principalmente dos conhecidos escritos de Karl Marx (1818-1883), filósofo, economista, historiador, sociólogo, teórico político, jornalista e revolucionário socialista alemão.

            Giovanni Alves é doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, livre-docente em Sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. Considera que as principais causas dessas fraturas no Ser, como Espírito encarnado, são aquilo que ele define como “Contradições Metabólicas do Capital” e assim as define:

 

“Podemos considerar, como contradições metabólicas do capital, as contradições históricas entre o capital e a natureza externa (floresta, rios, mares, ou ainda, o clima, isto é, o meio-ambiente natural propriamente dito); e a contradição entre o capital e a natureza interna do homem, isto é, o equilíbrio entre o corpo e a mente (a saúde física e a saúde mental do sujeito que trabalha, incluindo o processo natural de senescência e envelhecimento da força de trabalho e do trabalho vivo. ”

          

            Alves dialoga de forma muito contundente com Wilde, naquilo que este chamou de individualismo em suas reflexões, e os Reveladores Celestes definiram como “Conhecimento de Si Mesmo” na questão nº 919 de O Livro dos Espíritos.      

            A compreensão da resposta – questão nº 808 –, presa à hermenêutica e sem contextualizar o espírito do tempo, fica incompreensível. O resenhista aqui posto já abordou essa questão. (saiba mais).

            Maurice Lachâtre (1814-1900), influente e importante intelectual, editor e escritor francês, principal personagem do Auto-de-Fé de Barcelona, privou da amizade de Allan Kardec, contextualiza-a em sua obra “O Espiritismo – uma nova filosofia”, fazendo analogia à célebre frase de Pierre-Joseph Proudon (1809-1865) – “A propriedade é um roubo”, afirmando:

“os Espíritos insinuam algo semelhante, quando lhes foi perguntado sobre a origem da desigualdade das riquezas.”  À época, essa era o cerne da questão. O sentido de propriedade privada nos dias atuais é tudo aquilo que se acumula fruto do capital. Diferente da propriedade privada, o direito à propriedade é um direito natural. (questão nº 882 de O L.E.)

            Dentro desse contexto, surge no Iluminismo, nos escritos de Augusto Comte (1798-1857), filósofo francês, a função social da propriedade, ainda hoje defendida pela Igreja Católica.

            Humberto Mariotti (1905-1982) poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita portenho, assim se reporta a essa questão:

 

“O conceito de propriedade privada, de qualquer ponto de vista que o consideremos, está em contradição com a dinâmica evolucionista da filosofia espírita. Nem mesmo justificando-o como falta de evolução espiritual dos povos, o conceito de propriedade é admissível, pois a sua aceitação implicaria o reconhecimento de um sistema social em que o mais forte se imporia impiedosamente ao mais fraco.”

           

            E isso se estruturou na Humanidade.

            Coerente com a expectativa de Wilde, que ainda não se consolidou, Mariotti continua:

 

“O socialismo não é somente “uma bela expressão de cultura humana”; é, sobretudo, a resposta a uma necessidade espiritual alcançada pela civilização. O sistema de propriedade privada representa um estado social condizente com o passado da humanidade, na fase em que o homem ignorava a realidade do crescimento espiritual, em consequência de sua evolução palingenésica. ”

           

            O homem necessita, urgentemente, fazer uma escolha entre a barbárie e a civilização. A alma do homem sob o capitalismo está, não somente, barbarizada; ainda, brutalizada, animalizada. O capitalismo é a universalidade do egoísmo no que tem de pior no ser humano.

            Isso são fatos. Fato sociais, consequentemente, fatos cósmicos, regidos pelas leis naturais, como bem assinala o professor Herculano Pires (1914-1979):

 

“Os fins da vida social são os mesmos, no Mundo Espiritual e no Mundo Corporal: o desenvolvimento das potencialidades do Espírito, a sua realização moral. A palingenesia tem verso e reverso: nascemos e renascemos nos dois planos. ”

         Os espíritas precisam entender isso, e entendendo, discutir essas ideias desprovidos de paixões político-partidárias; isto é possível.

 

 

Referências:

ALVES, Giovanni. As contradições metabólicas do capital. São Paulo: Boitempo, 2020.

KARDEC, Allan. O Livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2004.

LACHÂTRE, Maurice. O Espiritismo: uma nova filosofia. São Paulo: Lachatre, 2021.

MARIOTTI, Humberto. O Homem e a sociedade numa nova civilização. São Paulo: Pense, 2009.

PINTO, Vitor C. Função social da propriedade. Kindle, E-book, 2020.

PIRES, J. Herculano. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: Paideia, 1983.

WILDE. Oscar. A Alma do homem sob o socialismo. Kindle, E-book, 2021.

 

Comentários

  1. Abordagem interessante. Terreno fértil para reflexões necessárias apesar de para mim aos 67 anos aumentar um pouco a angústia. Vislumbrar caminhos sem tempo mais para percorrer

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  2. Jorge Luiz, excelentes colocações para nossa reflexão. Concordo com a necessidade do nosso reposicionamento social e político em geral.Muito obrigada, Doris Madeira Gandres.

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