Pular para o conteúdo principal

A REFORMA DAS ESTRUTURAS

 


Por Doris Gandres

Atualmente, com tantos fatos desastrosos, comportamentos em completo desacordo com os princípios ético-morais e fraternos, gerando crises que afetam milhões de criaturas; ocorrências em que a generosidade e o respeito até para consigo próprio parece terem se esvaído na poeira dos tempos; temos dificuldade, muitos de nós, sobretudo os que ainda não conhecemos as leis naturais, de compreender o que está se passando.

No campo da política, não apenas em nosso país, mas em diversos outros, mundo afora, as escolhas têm sido as mais infelizes, os desmandos e as arbitrariedades espantosos; na área social, o abuso e o descaso competem entre si para ver qual ganha mais terreno; no âmbito pessoal, a egolatria, o personalismo, a ambição desmedida, vêm esmagando a semente divina plantada em nossas consciências, sua voz sufocada por mãos férreas interesseiras e implacáveis.

Queixamo-nos de tudo e de todos, acreditando, muitos de nós, que alguém nos trará a solução de tantas agruras... Que será o governo, serão as instituições, as polícias, as igrejas, os líderes de todo tipo, os nossos mentores, guias, gurus, enfim, qualquer outro menos nós mesmos... Ansiamos por decretos, leis, preceitos, regras e regimentos que possam acabar com a violência, com a fome, com o descalabro na saúde, na educação... Qualquer coisa, desde que nos chegue pronta e não exija de nós nenhum sacrifício, nenhuma renúncia – só nos proporcione o bem que almejamos...

Deolindo Amorim, em seu livro O Espiritismo e os Problemas Humanos, no capítulo A Ordem Econômica e a Ordem Moral, assegura, com muita propriedade, que “a reforma das estruturas socioeconômicas não exclui a necessidade da reforma individual”; que “o fato econômico, portanto, embora seja parte integrante da ordem material, não está fora da ordem moral, desde que se tenha concepção imortalista da História, isto é, da História à luz da crença na imortalidade do espírito”.

A questão socioeconômica, portanto, não poderia receber um melhor enfoque doutrinário, demonstrando, em primeiro lugar, a relevância do indivíduo, ser inteligente da criação (LE 76), na construção das estruturas necessárias à sua vida de relação de um modo geral; e, em segundo, a importância da ordem material, ou seja, do mundo material e suas contingências como ferramenta para elaboração do progresso do espírito imortal.

Na questão 789 de O Livro dos Espíritos, os mentores esclareceram que “quando a lei de Deus for por toda parte a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para o outro, como os indivíduos de homem para homem, e então viverão felizes e em paz, porque ninguém tentará fazer mal ao vizinho ou viver às suas expensas”.

E Kardec completa essa resposta de forma, como sempre, lúcida e brilhante: “A humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros”.

Não podemos, consequentemente, ignorar a nossa responsabilidade pessoal, tanto naquilo que nos diz diretamente respeito, como perante a coletividade de que fazemos parte, interagindo no contexto que a todos e a tudo atinge. Somos todos interdependentes e corresponsáveis pelos acontecimentos que se passam em nossa vida e na vida dos que compartilham essa nossa etapa reencarnatória.

Quando Kardec pergunta aos Espíritos superiores qual a missão dos espíritos encarnados, a resposta é taxativa: “Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições, por meios diretos e materiais”do que deduzimos que não nos basta esperar, é imprescindível agir, logicamente sempre dentro de princípios morais e fraternos.

Voltando a Deolindo Amorim, ainda no mesmo livro e capítulo, verificamos que ele concorda absolutamente com essas instruções ao afirmar: “a necessidade fez o homem criar a riqueza, isto é, promover o desenvolvimento econômico, aperfeiçoar os meios de que carece para aumentar a produção e aproveitar os recursos da terra, mas evidentemente o homem não deve nem pode abrir mão do seu livre-arbítrio para esperar que a natureza trabalhe por si mesma ou que a inteligência divina se imiscua nas atividades privadas, na orientação de minúcias e particularidades do plano material. Tal interpretação da História, excluindo a responsabilidade humana dos atos concernentes à ordem material, conduziria inevitavelmente ao transcendentalismo puro”.

É hora, portanto, espíritas que somos, de despertar para o fato de que, como diz o refrão, Deus age junto aos homens através dos homens; hora de assumirmos a nossa condição de copartícipes na obra da criação (LE 132), promovendo dia a dia, passo a passo, a nossa reforma individual, apesar das nossas dificuldades, ou melhor dizendo, justamente devido às nossas dificuldades – reforma essa que promoverá igualmente a reforma para melhor do mundo onde ainda caminhamos...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A CIÊNCIA DESCREVE O “COMO”; O ESPÍRITO RESPONDE AO “QUEM”

    Por Wilson Garcia       A ciência avança em sua busca por decifrar o cérebro — suas reações químicas, seus impulsos elétricos, seus labirintos de prazer e dor. Mas, quanto mais detalha o mecanismo da vida, mais se aproxima do mistério que não cabe nos instrumentos de medição: a consciência que sente, pensa e ama. Entre sinapses e neurotransmissores, o amor é descrito como fenômeno neurológico. Mas quem ama? Quem sofre, espera e sonha? Há uma presença silenciosa por trás da matéria — o Espírito — que observa e participa do próprio enigma que a ciência tenta traduzir. Assim, enquanto a ciência explica o como da vida, cabe ao Espírito responder o quem — esse sujeito invisível que transforma a química em emoção e o impulso biológico em gesto de eternidade.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

RECORDAR PARA ESQUECER

    Por Marcelo Teixeira Esquecimento, portanto, como muitos pensam, não é apagamento. É resolver as pendências pretéritas para seguirmos em paz, sem o peso do remorso ou o vazio da lacuna não preenchida pela falta de conteúdo histórico do lugar em que reencarnamos reiteradas vezes.   *** Em janeiro de 2023, Sandra Senna, amiga de movimento espírita, lançou, em badalada livraria de Petrópolis (RJ), o primeiro livro; um romance não espírita. Foi um evento bem concorrido, com vários amigos querendo saudar a entrada de Sandra no universo da literatura. Depois, que peguei meu exemplar autografado, fui bater um papo com alguns amigos espíritas presentes. Numa mesa próxima, havia vários exemplares do primeiro volume de “Escravidão”, magistral e premiada obra na qual o jornalista Laurentino Gomes esmiúça, com riqueza de detalhes, o que foram quase 400 anos de utilização de mão de obra escrava em terras brasileiras.

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

A VIDA EM OUTROS MUNDOS COMO PRINCÍPIO ESPÍRITA

Por Sérgio Aleixo (*) Ressaltam a seu favor, os que reclamam atualizações doutrinárias, a dita de Kardec que afirma que, se uma verdade nova se revela, o espiritismo a aceita; todavia, omitem a condição estabelecida pelo mestre para que tal ocorra. De ordem física ou metafísica, novos informes que venham a integrar-lhe o cômputo de ensinos, necessariamente, já se devem encontrar no “estado de verdades práticas e saídas do domínio da utopia, sem o que o espiritismo se suicidaria”.[1] E essa praticidade consiste em quê? Análises rigorosamente filosóficas respaldadas, quanto possível, em pesquisas demonstradamente científicas. Tal é o espírito da doutrina. Leia-se mais atentamente a nota ao n. 188 de O Livro dos Espíritos: “De todos os globos que constituem o nosso sistema planetário, segundo os espíritos, a Terra é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente; Marte lhe seria ainda inferior, e Júpiter, muito superior, em todos os sentidos”.