Pular para o conteúdo principal

NEM CORAÇÃO, NEM PÁTRIA!

 


Por Marcelo Henrique

 

Ainda persiste, entre os espíritas, a permanente dificuldade de entender os postulados espíritas e a eterna mania de querer ser e parecer mais…
***

Vez por outra me deparo com textos, palestras e comentários nas redes sociais sobre a “destinação futura” do nosso país, o Brasil. Ainda que nós, brasileiros – e os estrangeiros que escolheram esta terra para viver ou os que vêm aqui nos visitar e se encantam com o “todo” e “todos” – tenhamos o maior carinho por nossa raiz e origem (nesta encarnação) e entendermos que, aqui, em regra, a hospitalidade tupiniquim abre os braços e acolhe quem chega, torna-se necessário analisar o bordão, decantadamente repetido pelos que se dizem espíritas – adeptos ou simpatizantes.

“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. A expressão foi dita por um Espírito (leia-se, um humano desencarnado), e veio à luz pela dinâmica e fantástica mediunidade-instrumento do homem-Amor, Francisco Cândido Xavier. Humberto de Campos (com o pseudônimo de Irmão X), teria sido o autor da expressão e da obra que leva este título. Na Wikipedia, encontramos dois elementos interessantes sobre o livro: 1) a autoria é atribuída ao Espírito; 2) o obra faz uma interpretação mítica e teológica da história do Brasil.

Obviamente direcionada ao público espírita, o livro causou frisson desde o seu lançamento (1938), pela Federação Espírita Brasileira, e possui um conteúdo pra lá de polêmico. Primeiro, pela proposta – que veremos adiante – e, segundo, pela adoção do mesmo como “bandeira”, “diretriz”, “bordão” e “verdade incontestável”.

Vamos iniciar por estes pontos secundários.

Uma bandeira, diretriz ou bordão é uma estratégia de convencimento. A Ciência do Marketing e da Publicidade pode ser utilizada para explicar o sucesso (ou o fracasso) de frases motivadoras. A própria federação, antes citada, já se valeu, por diversas vezes, de bordões para identificar o seu trabalho e o público a quem se direciona. Divulgada, repetida e adotada, acaba se confundindo com o propósito finalístico do Espiritismo – ainda que, obviamente, reduzido ao espectro de um país – compreendendo, portanto, a extensão e os limites do seu território político-administrativo.

Então, é de se perguntar: o Espiritismo tem uma “bandeira”, um “país”, uma “pátria”? Ele é destinado em primazia aos “brasileiros”? Ou, em espectro correlato, seriam os espíritas aqueles que receberiam uma espécie de “missão especial” para a divulgação de ideias éticas e espiritualizadas?

Volto um pouco no tempo para lembrar que, pré-adolescente, ouvi pela primeira vez a seguinte expressão: “a árvore do Evangelho foi transplantada do coração da Europa (Paris – França) para o Brasil”. Aquilo me chocou, duplamente. Vamos ver os dois elementos, caso a caso.

Primeiro: “árvore” do Evangelho? Eu nunca tinha ouvido falar desta expressão. Evangelho (ou as ideias contidas nas pregações, feitos e milagres do homem Jesus de Nazaré – incorporadas pelas escrituras canônicas – a Bíblia, em seu formato mais recente, o “Novo Testamento”) não possui árvore. Jesus nunca se referiu ao conteúdo das ideias espirituais como árvore! Utilizou-se de outros aforismas, em suas parábolas, para salientar a necessidade da eficácia e da eficiência (não só da mensagem, como da prática, espirituais): fermento, vinho e odre, tecido e remendo, semente, entre outros. Uma árvore é algo estático. Se fixa ao solo, possui raízes que lhe fornecem os necessários nutrientes, pode (ou não) dar frutos – seja por um período ou por maior duração – e tem um ciclo: nasce, cresce, vive e… morre! Sim, uma árvore é perecível!

Segundo: o transplante da França para o Brasil. Isto me remeteu, lógica e instantaneamente à ideia (antiga e religiosa) da “terra prometida”. Está lá no Antigo Testamento, a “viagem” do povo hebreu, perseguido por seus algozes, fugindo da truculência, da guerra, para buscar um “porto seguro”. E, de pronto, vislumbrei outra guerra: a do monopólio das certezas, dos “conhecimentos”, dos “temas espirituais” ou, simplesmente, das “verdades”. Os judeus se julgavam conhecedores das Leis de Deus (vale lembrar que o primeiro – e mais efetivo – código ético da Humanidade foi recebido por meio da mediunidade de Moisés, na tábua das dez leis (divinas). Os judeus foram “recepcionados” pelos romanos, e a fusão entre eles deu origem à Igreja Romana (Católica Apostólica), numa tentativa de unificação dos “saberes” e no sentido de “dominar” o Mundo Ocidental a partir da interpretação (tida como “cristã”) das ideias (novamente, frisamos) espirituais ou de espiritualidade.

Se foi eficaz a estratégia – vale dizer que a própria Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) é considerada e entendida, quando estudada com profundidade, como a reunião de muitas crenças, algumas ancestrais, milenares, fazendo a conjugação de muitos ensinos presentes em religiões e crenças imemoriais assim como de “verdades” pagãs – e o “Cristianismo” se espalhou pelo Ocidente, devemos relembrar que a união entre Igreja e Estado, por mais de dez séculos, propiciou a realização das mais sangrentas batalhas em nome da fé (cristã), as Cruzadas, assim como a perseguição, na “Idade das Trevas” (Idade Média) a todos os que ousaram, pela inteligência e pela mediunidade, a desafiar o “poder clerical”. Também não podemos deixar de lado que ela, a Igreja Cristã, foi responsável pelo “abono” à escravidão de povos dominados, de indígenas, de negros e, também, de terras colonizadas e seus povos originários. Tudo “em nome de Deus”.

Perguntar-se-ia, então: é esta a “árvore” que se desejou “transplantar”? Sim, porque, para nove entre dez espíritas que se enderece uma pergunta – “o Espiritismo é sucessor do Cristianismo?”. Ou, “o Espiritismo é o Cristianismo redivivo?” – responderão afirmativamente…

Nós, entretanto, dizemos NÃO! Não é esse o “evangelho” e se Jesus (Yeshua, como é o seu nome original, ou Magrão como eu carinhosamente o chamo) viesse dar “uma passadinha” por aqui, pela Terra, ele ficaria chocado com o que “fizeram” (fizemos!) do seu “Evangelho”! O Cristianismo é uma coisa, Jesus é outra, bem diferente! Parece engraçado, mas a história parece querer se repetir: o Espiritismo (Filosofia Espírita, de Allan Kardec) é uma coisa, a religião espírita, o Espiritismo no Brasil, é outra, bem diferente!

Dito isto, vamos voltar ao primeiro ponto: a proposta.

Coração do mundo. O que é o coração? O que simboliza, metaforicamente, ser o coração do mundo. Se perguntássemos a qualquer criança, ela nos diria que o coração é essencial à vida. Afinal, é ele que bombeia o sangue para todos os órgãos do corpo (material) humano. Ainda que a “vida” seja um somatório de atividades de diversas instâncias (órgãos do corpo), alguns com funções muito específicas e fundamentais (vitais), o coração é um belo exemplar da coordenação da existência material.

Mas, nos permitam poetizar um pouco. O coração é o símbolo dos sentimentos e, é claro, o maior deles, o amor. O amor que é a principal divisa das relações humanas. O amor que constrói – mas também pode destruir, em face da dosagem. O amor pode – e deve – ser próprio, para que o ser se lance vida afora, mas não pode, este, ser excessivo, a ponto de se configurar num egoísmo intransponível e doentio, para a individualidade. O amor é de um para o outro, e também precisa de contrapontos ou contrabalanços, para não se tornar indefeso (presa fácil) ou superdimensionado (a ponto de sufocar o outro, privando-o de liberdade). O amor é para o coletivo, mas não pode ser praticado de forma atabalhoada, desordenada, como se, por exemplo, uma pessoa altruísta se dispusesse a doar dinheiro para os mais socialmente carentes, e se colocasse em uma rua da cidade, com um saco de dinheiro na mão, chamando os candidatos a receberem uma parte. O tumulto seria generalizado, a divisão jamais seria equânime e tanto o beneficiador quanto muitos dos interessados talvez pagassem com a própria vida!

Voltemos ao coração. Jesus valorizou a pureza de coração como caracteres identificadores da simplicidade e da humildade. No Capítulo VIII, de “O evangelho segundo o Espiritismo”, o largo alcance da expressão atribuída ao Rabi é dissecada, com exemplos e conotações que são muito úteis àqueles que pretendem entender a aplicação dos “talentos” do coração (puro) na atualidade – e nos dias que virão, adiante. Isto, em termos analógicos, utilizando a imagem do coração como representativa dos sentimentos (mais nobres). Em relação ao coração – órgão físico – Kardec perguntou às Inteligências Invisíveis (“O livro dos Espíritos”, item 69) acerca da causa mortis como sendo uma lesão neste órgão e deles recebeu o informe de que ele “não passa de uma das peças essenciais”.

Se o mundo, então, com todas as suas regiões e países fosse similar a um corpo humano, haveria o coração, os pulmões, o cérebro, o fígado, o estômago, os rins e até o apêndice, todos com funções importantes, e com a necessidade de “vida em perfeita harmonia”. São portanto, todos os órgãos importantes, quanto os Estados (países) no contexto planetário, daí ser estanho considerar um (coração) “mais” do que os outros. Ainda que um dos países pudesse ser – mesmo – o coração, ele não possuiria nenhuma “importância crucial” ou primazia em relação aos demais.

Mas – e sempre tem um ponto adicional, não é mesmo? – se a questão for relacionada aos sentimentos, ao carinho, à hospitalidade, à figura do “coração de mãe” onde sempre cabe mais um, à ideia poética da fraternidade, será que podemos considerar o Brasil como “coração do mundo”? Apressadamente, pelos elementos expostos acima, sim! Mas, perguntemo-nos: como pode SER um coração, o lugar em que pessoas moram e dormem na rua? Onde um número assustador faz uma refeição por dia (ou menos)? Onde não há emprego (nem renda) para todos? Onde pessoas são escravizadas, à moda do século XV? Onde pessoas são perseguidas por suas convicções e preferências? Onde toda a sorte de preconceitos ainda campeia? Onde centenas ou milhares de pessoas morrem semanalmente em face da violência e da criminalidade? Se é um coração, este está muito enfermo…

E a pátria? O que é a pátria? Para os humanos (Espíritos encarnados), que se emocionam ao ouvir (e cantar) o hino, que consideram a bandeira republicana brasileira a mais bonita de todas, que sentem orgulho em dizer-se brasileiros (não sei se todos nem em todas as situações!), mesmo considerando diferenças interpretativas, em regra a origem, a naturalidade-nacionalidade é um elemento significativo. Mas, e para os Espíritos (desencarnados)? Kardec também se ocupou deste tema, questionando os Luminares e deles recebendo a seguinte afirmação: “Para os Espíritos elevados, a pátria é o universo” (“O livro dos Espíritos, item 317”). Complementarmente, eles ainda colocam em plano superior, em termos de afinidade, por parte dos desencarnados, aos vínculos entre os seres, que aqui conviveram: “Na Terra, a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas”. Como reencarnamos sucessivas vezes e em “terras” diferentes, vamos costurando relações interpessoais, de modo que, ao desencarnarmos, podemos, mesmo, ser considerados como seres cosmopolitas, habitantes do planeta como por inteiro e, migrando de mundo para mundo, como “cidadãos do universo” (vide, novamente, a resposta, acima, do item 317).

Mítica e teológica é, então, a ideia da obra “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”.

Assim, não faz o menor sentido – senão o da arrogância e prepotência – considerar qualquer “missão espiritual do Brasil” à frente de qualquer outro Estado-nação da atualidade. Primeiro, porque a dita “verdade cristã” – que muitos espíritas indicam ser a única fundamentação da Filosofia e da Ética Espíritas – não é majoritária no mundo, porque praticamente dois terços da Humanidade não reconhece (ou sequer, em numerosos casos) conhece a “mensagem cristã”. Segundo, porque os valores espirituais não se acham vinculados obrigatoriamente a nenhuma filosofia, crença ou religião, porque são universais, inclusive a partir da própria expressão do Magrão: “o vento sopra onde quer”, não sendo privilégio de nenhum dos saberes e organismos humanos. Terceiro porque, como Espíritos, não possuímos qualquer apego à país, continente ou planeta, dado que nosso vínculo é com o Universo.

O Espiritismo constitui uma filosofia de vida, para muitos. Como tal, depende da forma como o entendemos e como o praticamos. Os entendimentos espirituais contidos na Filosofia Espírita são passíveis de modificação com o tempo e o progresso de indivíduos e coletividades. Assim, desejamos que o planeta inteiro, um dia, se constitua num coração (lugar de afetos sinceros) e uma pátria (ainda que provisória) para que todos possam se aperfeiçoar, experimentando, a cada dia, a alegria de viver e aprender. Por enquanto, nem o Brasil nem qualquer outro país – na precária delimitação organizacional da política mundana – possui privilégios ou prescrições espirituais, como predições a serem cumpridas.

E, para todos (os Espíritos), há um único “destino”: a felicidade que decorre do progresso!

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

JESUS E A IDEOLOGIA SOCIOECONÔMICA DA PARTILHA

  Por Jorge Luiz               Subjetivação e Submissão: A Antítese Neoliberal e a Ideologia da Partilha             O sociólogo Karl Mannheim foi um dos primeiros a teorizar sobre a subjetividade como um fator determinante, e muitas vezes subestimado, na caracterização de uma geração, isso, separando a mera “posição geracional” (nascer na mesma época) da “unidade de geração” (a experiência formativa e a consciência compartilhada). “Unidade de geração” é o que interessa para a presente resenha, e é aqui que a subjetividade se torna determinante. A “unidade de geração” é formada por aqueles indivíduos dentro da mesma “conexão geracional” que processam ou reagem ao seu tempo histórico de uma forma homogênea e distintiva. Essa reação comum é que cria o “ethos” ou a subjetividade coletiva da geração, geração essa formada por sujeitos.

O NATAL DE CADA UM

  Imagens da internet Sabemos todos que “natal” significa “nascimento”, o que nos proporciona ocasião para inúmeras reflexões... Usualmente, ao falarmos de natal, o primeiro pensamento que nos ocorre é o da festa natalina, a data de comemoração do nascimento de Jesus... Entretanto, tantas são as coisas que nos envolvem, decoração, luzes, presentes, ceia, almoço, roupa nova, aparatos, rituais, cerimônias etc., que a azáfama e o corre-corre dos últimos dias fazem-nos perder o sentido real dessa data, desse momento; fazem com a gente muitas vezes se perca até de nós mesmos, do essencial em nós... Se pararmos um pouquinho para pensar, refletir sobre o tema, talvez consigamos compreender um pouco melhor o significando do nascimento daquele Espírito de tão alto nível naquele momento conturbado aqui na Terra, numa família aparentemente comum, envergando a personalidade de Jesus, filho de Maria e José. Talvez consigamos perceber o elevado significado do sacrifício daqueles missionári...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

EU POSSO SER MANIPULADO. E VOCÊ, TAMBÉM PODE?

  Por Maurício Zanolini A jornalista investigativa Carole Cadwalladr voltou à sua cidade natal depois do referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia (Brexit). Ela queria entender o que havia levado a maior parte da população da pequena cidade de Ebbw Vale a optar pela saída do bloco econômico. Afinal muito do desenvolvimento urbanístico e cultural da cidade era resultado de ações da União Europeia. A resposta estava no Facebook e no pânico causado pela publicidade (postagens pagas) que apareciam quando as pessoas rolavam suas telas – memes, anúncios da campanha pró-Brexit e notícias falsas com bordões simplistas, xenofobia e discurso de ódio.

A DOR DO FEMINICÍDIO NÃO COMOVE A TODOS. O QUE EXPLICA?

    Por Ana Cláudia Laurindo A vida das mulheres foi tratada como propriedade do homem desde os primevos tempos, formadores da base social patriarcal, sob o alvará das religiões e as justificativas de posses materiais em suas amarras reprodutivas. A negação dos direitos civis era apenas um dos aspectos da opressão que domesticava o feminino para servir ao homem e à família. A coroação da rainha do lar fez parte da encenação formal que aprisionou a mulher de “vergonha” no papel de matriz e destituiu a mulher de “uso” de qualquer condição de dignidade social, fazendo de ambos os papéis algo extremamente útil aos interesses machistas.

DIVERSIDADE SEXUAL E ESPIRITISMO - O QUE KARDEC TEM A VER COM ISSO?

            O meio espírita, por conta do viés religioso predominante, acaba encontrando certa dificuldade na abordagem do assunto sexo. Existem algumas publicações que tentam colocar o assunto em pauta; contudo, percebe-se que muitos autores tentam, ainda que indiretamente, associar a diversidade sexual à promiscuidade, numa tentativa de sacralizar a heterocisnormatividade e marginalizar outras manifestações da sexualidade; outros, quando abrem uma exceção, ressaltam os perigos da pornografia e da promiscuidade, como se fossem características exclusivas de indivíduos LGBTQI+.