Pular para o conteúdo principal

JESUS JAMAIS TRANSIGIU COM A IMPOSTURA RELIGIOSA

 


Imaginemos o dantesco panorama das eras apostólicas em que uma mulher foi flagrada em adultério. Adeptos da religião extrínseca, fanatizados pela sentença rigorosa da Lei judaica, arrancaram-na da cama e a arrastaram até o lugar em que Magno Rabino se encontrava. A adúltera gritava Clemência! Compaixão! Enquanto era arrastada; seus indumentos iam sendo dilacerados e sua pele sangrava esfolando-se no chão rugoso.

Neste episódio, tradicionalmente conhecido por muitos cristãos, durante a estada terrena de Jesus, topamos com um dilema evidente entre a diferença do religioso escravo à religião extrínseca e o verdadeiro sentido moral da indulgência e da religiosidade intrínseca.

No episódio acima, percebemos a sustentação farisaica da religião extrínseca do castigo, do medo e da angústia, numa circunstância que são destacados religiosos prisioneiros aos aspectos formais da lei mosaica, completamente distantes do correspondente sentido da religiosidade intrínseca na sua essencial pureza de origem.

Nos códigos de Moisés, aquela mulher, pega em adultério, não encontraria nenhuma brecha de escape, precisava mesmo ser lapidada até à morte. Observa-se que diante da dura e inflexível lei escrita pelo patriarca do Monte Sinai, a veemência pelas normas e preceitos, com certeza, estavam acima do valor da vida humana.

Na verdade, os escribas e fariseus utilizaram aquela mulher, expondo-a perante a multidão, simplesmente, para a execução de seus pérfidos desígnios, que era conseguir pegar em flagrante Jesus em possível contradição dos seus Princípios Essenciais. Naquele contexto, compreendemos que a religião extrínseca dos judeus, no seu formalismo atroz, era induzir o homem a desempenhar o juízo implacável, o medo, a angústia e não a clemência. Obviamente desconheciam que a religião intrínseca (Cósmica) deve ter as suas estirpes estreitamente unidas ao amor, à justiça e a caridade.

A propósito o Mestre jamais transigiu com a impostura religiosa. A prova é que usou de todo o rigor com os escribas e fariseus, considerando-os puritanos camuflados de virtudes. Apesar disso, Jesus foi indulgente com as pessoas de “má vida”, com o bom ladrão, com as prostitutas e especialmente com aqueles que O insultaram e condenaram na cruz, dando a entender que ser religioso extrínseco (puritano) é mais degradante que ser adúltera, ladrão (Dimas), corrupto (Zaqueu) e cortesã (Madalena).

Em abreviada divagação sobre as religiões extrínsecas (dogmáticas), trazemos para discussão o artigo Cosmic religion de Albert Einstein, contido no livro Out of my later Years, onde é publicado as coerções das autoridades escravizantes e encarcerantes da religião extrínseca (sectária).

Einstein acerca-se da questão da religiosidade intrínseca como sendo a nossa comunhão perfeita com o Criador, sopesando a superfluidade dos procuradores intermediários do Senhor da Vida, habitualmente impondo práticas coativas, punitivas e negocistas de coisas “sacras”, sob o tacão das obrigações dos pactos impudicos.

No nível elevado de religião cósmica conseguimos nos conectar com liberdade nas coisas e circunstâncias mais profundas do Universo. Livres, construímos uma relação profundamente harmoniosa, a partir da qual nos abastecemos da energia amorosa do Criador da Vida.

Numa relação de subnível religioso Einstein denominou a religião do medo quando o homem teme a Deus e rende culto externo para ser supostamente protegido das adversidades da vida, alimentando sempre a insegurança e temor dos castigos do Deus extrínseco.

Noutro desnível de subserviência religiosa o Pai da Teoria da Relatividade denominou de religião da angústia aquela em que o homem é totalmente manipulado pelas castas sacerdotais dotadas de poderes para advogarem junto ao Deus antropomórfico alvitrando libertação das angústias sociais os seus seguidores.

Já no elevado nível da religiosidade intrínseca Einstein nomeia de religião cósmica. Recordando que os grandes gênios religiosos de todos os tempos se distinguiram por possuírem este senso de religiosidade intrínseca cósmica. Por não reconhecerem necessidades dos dogmas e muito menos um Deus concebidos a imagem humana.

Por isso, a religião dita tradicional abomina a religião cósmica sugerida por Einstein. Até porque, é precisamente entre os denominados heréticos de todos os tempos, afirma o Gênio da física, que encontramos homens que foram inspirados por essa elevada experiência religiosa cósmica, porém, foram considerados eventualmente pelos seus contemporâneos como ateus, ou até às vezes também como os santos.

Por este ângulo, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Espinoza se assemelham. Como pode o sentimento religioso cósmico intrínseco ser transmitido de uma pessoa a outra se ela destrói a noção limitante de Deus e a dogmática teologia humana?

Na perspectiva do Einstein a função mais importante seja da arte e da ciência consiste em despertar e manter vivo este sentimento de religião cósmica em todos os que sejam receptivos a Deus. O homem que está profundamente convencido da função universal da lei da causalidade não pode considerar a ideia de um Deus qual um ser mesquinho que interfere no curso dos acontecimentos mais comezinhos.

O homem que está profundamente convencido da função universal da lei da causalidade não cede espaço para uma religião do medo, nem mesmo uma religião social ou moral que o aprisiona. De modo algum pode conceber um Deus que recompensa e castiga, já que o homem é regido pelo código moral de leis da consciência.  Por este motivo, historicamente a ciência foi incriminada de prejudicar a moral, contudo isso é um equívoco das religiões extrínsecas.

E como o comportamento moral do homem se fundamenta eficazmente sobre a simpatia ou os compromissos sociais, de modo algum implica uma base religiosa hierarquizada, teológica e dogmática que impõe castigos para a mantença de falsas virtudes sob o tacão da angústia e o medo entre os homens.

Com a mulher adúltera Jesus tinha todos os pretextos para pronunciar: De hoje em diante, sua vida me pertence, você deve ser minha discípula. Os líderes religiosos extrínsecos usam seu poder para que as pessoas os aplaudam e gravitem em sua órbita. Mas Jesus, apesar do seu descomunal poder sobre a mulher, foi desprendido de qualquer interesse. Vá e revise a sua história, cuide-se. Mulher, você não me deve nada. Você é livre!

O Mestre deu-nos o exemplo através do perdão, recomendando a ponderação da não reincidência pelo esforço da vigília “vá e não peques mais”. Assim, deu à adúltera a oportunidade de retomar o curso da vida, sob um novo roteiro de não mais prevaricar naqueles mesmos lapsos morais.

Allan Kardec ressalta que a autoridade para condenar está na razão direta da autoridade moral daquele que julga. (1) A advertência é para que não nos esqueçamos desse nosso compromisso com o Mestre, que no seu Evangelho deixou o código de conduta seguro para seguirmos adiante com firmeza e confiança: “faça ao outro aquilo que deseja seja feito a você”; “ame ao próximo como a si mesmo”; “não julgueis para não serdes julgados”.

Em síntese, o Espiritismo é a mais esplendorosa proposta do livre pensamento e o mais possante apelo para o pleno exercício da religiosidade intrínseca.

 

Referência:

1 - Kardec Allan, O Evangelho segundo Espiritismo, Capítulo X, item 13

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

DIA DE FINADOS À LUZ DO ESPIRITISMO

  Por Doris Gandres Em português, de acordo com a definição em dicionário, finados significa que findou, acabou, faleceu. Entretanto, nós espíritas temos um outro entendimento a respeito dessa situação, cultuada há tanto tempo por diversos segmentos sociais e religiosos. Na Revista Espírita de dezembro de 1868 (1) , sob o título Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade Espírita de Paris fundada por Kardec, o mestre espírita nos fala que “estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para dar aos nossos irmãos que deixaram a terra, um testemunho particular de simpatia; para continuar as relações de afeição e fraternidade que existiam entre eles e nós em vida, e para chamar sobre eles as bondades do Todo Poderoso.”

09.10 - O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA¹ (REPOSTAGEM)

            Por Jorge Luiz     “Espíritas de todos os países! Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo!”  (Allan Kardec)                    Cento e sessenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.             O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo - enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre - por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou: “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outr...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

O MEDO SOB A ÓTICA ESPÍRITA

  Imagens da internet Por Marcelo Henrique Por que o Espiritismo destrói o medo em nós? Quem de nós já não sentiu ou sente medo (ou medos)? Medo do escuro; dos mortos; de aranhas ou cobras; de lugares fechados… De perder; de lutar; de chorar; de perder quem se ama… De empobrecer; de não ser amado… De dentista; de sentir dor… Da violência; de ser vítima de crimes… Do vestibular; das provas escolares; de novas oportunidades de trabalho ou emprego…

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

SOBRE ATALHOS E O CAMINHO NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO JUSTO E FELIZ... (1)

  NOVA ARTICULISTA: Klycia Fontenele, é professora de jornalismo, escritora e integrante do Coletivo Girassóis, Fortaleza (CE) “Você me pergunta/aonde eu quero chegar/se há tantos caminhos na vida/e pouca esperança no ar/e até a gaivota que voa/já tem seu caminho no ar...”[Caminhos, Raul Seixas]   Quem vive relativamente tranquilo, mas tem o mínimo de sensibilidade, e olha o mundo ao redor para além do seu cercado se compadece diante das profundas desigualdades sociais que maltratam a alma e a carne de muita gente. E, se porventura, também tenha empatia, deseja no íntimo, e até imagina, uma sociedade que destrua a miséria e qualquer outra forma de opressão que macule nossa vida coletiva. Deseja, sonha e tenta construir esta transformação social que revolucionaria o mundo; que revolucionará o mundo!

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

EDUCAÇÃO ESPÍRITA ¹

Por Francisco Cajazeiras (*) Francisco Cajazeiras – Quais as relações existentes entre Educação e o Espiritismo? Dora Incontri – Muitas. Primeiro porque Kardec era um educador. Antes de se dedicar ao Espiritismo, à pesquisa das mesas girantes, depois à codificação da Doutrina Espírita, durante trinta anos, na França, exerceu a função de educador. Foi discípulo de um dos maiores educadores de todos os tempos que foi Pestalozzi. Então o Espiritismo segue uma tradição pedagógica. E o Espiritismo, ele próprio, é uma proposta pedagógica do Espírito. O Espiritismo não é uma proposta salvacionista, ele é uma proposta que pretende que o homem assuma a sua autoeducação como aperfeiçoamento espiritual. Francisco Cajazeiras – Então quer dizer que existe uma educação espírita e uma pedagogia espírita? Dora Incontri – Existe. Existe porque toda filosofia, toda concepção de homem, de mundo, toda cosmovisão desemboca, necessariamente, numa prática pedagógica...