domingo, 3 de maio de 2020

"NÃO ESTAMOS ÀS BARATAS" - ALTERIDADE


O título jocoso, já explicado no artigo anterior, tem o propósito de chamar à a atenção do leitor acerca da presença de Deus no Planeta, ante a inobservância pelos homens, das suas leis, mais especificamente a Lei de Amor, Justiça e Caridade, analisando-se algumas passagens de Jesus.
Allan Kardec, comentando mensagem do Espírito Clélia Duplantier, inserto em Obras Póstumas, na qual revela acerca das responsabilidades espirituais do indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, as quais formam individualidades coletivas, assim se expressa:

“Não se pode duvidar de que haja famílias, cidades, nações, raças culpadas porque, dominadas pelos instintos do orgulho, do egoísmo, da ambição, da cupidez, caminham em má senda e fazem coletivamente o que um indivíduo faz isoladamente; uma família se enriquece às expensas de uma outra família; um povo subjuga um outro povo, e leva-lhe a desolação e a ruína; uma raça quer aniquilar uma outra raça. Eis por que há famílias, povos e raças sobre os quais cai a pena de talião.”


Somente pela compreensão das vidas sucessivas se pode entender um processo pandêmico global de tal magnitude, quando as vítimas parecem ser angelicais inocentes. O Espírito Clélia Duplantier assegura três caracteres em todo o homem: o de indivíduo em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão, no tocante às responsabilidades espirituais.
De fácil compreensão, pois, que a dinâmica dessa natureza, como a que as Nações enfrentam, tem um determinismo causal nessa ou em existências pretéritas, sem que isso signifique fatalidade, conquanto o amor seja o determinante para a superação de todos os nossos compromissos reativos dessa ou de outra vida, tendo como paradigma a vida. Leia-se a questão nº 880, de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec indaga sobre o primeiro de todos os direitos naturais do homem:
Os Reveladores Celestes respondem:

“- O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.”

A compreensão espírita da vida é um processo que transcende aos aspectos puramente biológicos. O Espírito reencarna com o propósito de chegar à perfeição. Comentando essa questão em O Livro dos Espíritos, Kardec afirma da importância de todos os seres corpóreos à marcha do Universo. Ele conclui dizendo que por uma lei admirável de Deus, tudo se encadeia, tudo é solidário (destaque nosso) na Natureza. Quanto à solidariedade, a partir daqui a referência será alteridade - neologismo criado por Emmanuel Lévinas, em 1960, é uma das formas de reconhecer o valor do outro e é ver-se através dele, é ir além da amizade, da solidariedade, da tolerância e da sintonia - é o verdadeiro laço social entre os indivíduos, e não só no presente, ele se estende ao passado e futuro.
Allan Kardec, ainda em Obras Póstumas, afirma:

“A Humanidade se compõe de personalidades, que constituem as existências individuais, e das gerações, que constituem as existências coletivas. Umas e outras avançam na senda do progresso, por variadas fases de provações que, portanto, são individuais para as pessoas e coletivas para as gerações. Do mesmo modo que, para o encarnado, cada existência é um passo à frente, cada geração marca um grau de progresso para o conjunto.”

A passagem abaixo, protagonizada por Jesus, contida nos Evangelhos, quando ele avisado de que os seus o esperavam da parte de fora, e quando faz a distinção entre parentesco corporal e espiritual. Somente o Espiritismo pode torná-la compreensível, pela comprovação da pré-existência da alma.

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; – pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”
           
            A família espiritual, a verdadeira família, fortifica-se pela purificação e se perpetuam o no Mundo Espiritual, através da reencarnação. A sanguínea se extingue com a morte.
O COVID-19 destrói a falácia do neoliberalismo e a tal festejada meritocracia em uma sociedade extremamente desigual. A pandemia é uma resultante ética. Partindo dessa, o vírus tornou visíveis tantas outras; a crise demográfica, ambiental, da educação, da miséria, da banalização da vida, da falta d’água, as desigualdades sociais e das riquezas e a crise de governança no mundo.
O ser humano está doente. A mutação genética ocorre no indivíduo, como consequência dos desacertos éticos no processo da convivência consigo e com o próximo. O vírus é apenas o gatilho, e tem toda a sua dinâmica na compreensão do perispírito e do processo da individualização do princípio inteligente e a individuação, catalogada por Carl Jung.
Na obra Decodificando o Corpo Bionergético [leia-se perispírito], há referência às conclusões do site Projeto Genoma do National Institute of Health, que relatam que os fatores ambientais podem ser o gatilho mais importante, que a mutação genética esteja manifestada ou não. Leia-se:

“Os cientistas estimam que cada um de nós seja portador de cinco a cinquenta mutações (genéticas) que apresentam algum risco de doença ou deficiência. Alguns podem não sofrer consequências negativas dessas mutações, seja porque não vivem o bastante para que isso aconteça ou porque não estão expostos a esses gatilhos ambientais relevantes.”

            O períspirito, para Allan Kardec, mostra o caminho da medicina do futuro. É bom lembrar sempre que perispírito se une molécula a molécula ao corpo, no momento da formação dos corpos.

Do princípio que a verdadeira vida é a espiritual, importa destacar que os indivíduos são cidadãos de dois mundos. Essa certeza fecha a compreensão das consequências espirituais embutidas nas crises no mundo, pela ausência de comportamentos que consolidem a alteridade.
O Espiritismo encerra que os fatos da vida social são verso e reverso da vida do Espírito que, a cada existência corporal se sucede uma espiritual. Um fato social é um fato cósmico.
            Portanto, a socialização é um processo de descentralização psíquica, pela expansão das potencialidades do ego, e tem como princípio espírita da vida social e espiritual a alteridade, quando reconhece o Outro como alguém imediatamente sob minha responsabilidade, responsabilidade essa que Jesus definiu como amor ao próximo, mediante a assertiva sob análise:

“Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”


Bibliografia:
FRASER. Peter H. HARRY, Massey. Decodificando o corpo bioenergético. São Paulo, 2008.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. São Paulo: EME, 1996.
_____________. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
_____________. Obras póstumas. Brasília: FEB, 1987.
LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
PIRES. J. Herculano. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: FEESP, 1993.

2 comentários:

  1. Excelente assertiva!!
    Texto bastante lúcido.
    Parabéns.

    Maurício Linhares

    ResponderExcluir
  2. Vc tem a minha concordância e me trouxe uma ideia de um texto que avalie o perispírito + causa e efeito + vibração gerando uma patologia e interferindo no código genético e produzindo as doenças, que aliás, são processos individuais em meio às carências coletivas. Roberto Caldas

    ResponderExcluir