Comecemos pelo começo. O Livro dos Espíritos
traz na questão 324 o esclarecimento de quão importante é a abordagem que vem
em sequência: “Os Espíritos das pessoas homenageadas com estátuas ou monumentos
assistem às inaugurações e as vêem com prazer? – Muitos as assistem, quando
podem, mas são menos sensíveis às honras que lhes tributam do que às
lembranças”. Logo, a Doutrina Espírita, com todo respeito às regras e rituais
da Igreja Católica, vê de outra forma a instituição da canonização (ato
litúrgico que acrescenta o nome de pessoa falecida no rol de Santos daquela
Religião).
Ainda
assim, é impossível deixar passar em branco a auspiciosa informação relativa à
canonização de Irmã Dulce, a benfeitora dos pobres que venceu todas as suas
dificuldades físicas e sociais para levar cuidados, alimento e amor a milhares
de pessoas na cidade de Salvador/BA e deixou um legado espetacular de
excelência humana. Uma verdadeira Completista, como denomina o Espírito André
Luiz em “Missionários da Luz”, psicografia de Chico Xavier, definida pela rara
oportunidade em que um ser encarnado realiza 100% dos acordos firmados antes de
sua encarnação.
Felizmente
uma notícia alvissareira para o Brasil, país que amargou publicação de uma
fotografia do seu mais alto mandatário com uma criança nos braços empunhando uma
arma de fogo, justamente no Dia das Crianças. Uma mulher que, aparentemente
frágil, teve a competência de fazer com que o mundo se renda a sua força moral
e a sua capacidade absolutamente insondável de empreender pelo Bem do outro,
muito acima do considerado possível para a horda humana. O que é fundamental
nessa distinção ao trabalho de Dulce é que, com esse reconhecimento pelo
Vaticano, ela transcende à esfera de Salvador e alça a sua ação bondosa ao
mundo; deixa de beneficiar apenas os pobres degradados da população de uma
cidade para acender luzes, também sobre aqueles que carecem de algo mais que o
poder da moeda, pois há tantos que chafurdam na riqueza do mundo e são pobres
de espírito.
Irmã
Dulce nos representa. Ela que tantas vezes teria buscado os conselhos de Soror
Joana Angélica (Joana de Angelis), a quem chamava de “minha irmã”, através da
amizade que cultivava com Divaldo Franco, outro baiano “arretado”, dando-nos um
testemunho da transcendência natural dos seres espirituais evoluídos. A
espiritualidade da Irmã Dulce serve de apoio ao nosso sonho de quebrar as
barreiras religiosas que separam os credos. À parte de sua vocação e devoção ao
Catolicismo jamais deixou o ceticismo travar as suas atitudes e vezes sem conta
emprestou a sua colaboração às obras da Mansão do Caminho e tantas outras mantidas
por benfeitores do Candomblé e de outras denominações. No fundo a sua Religião
lhe permitiu uma ligação direta com o que há de mais importante para uma
missionária de sua qualidade, o amor pela humanidade, acima de discussões
teológicas.
Louvável
a atitude do Vaticano. Utilizou as suas prerrogativas para homenagear em sua
mais alta comenda e com todo merecimentos. Nós, que não aceitamos o rito da
canonização, sabemos que o Espírito Dulce refulge acima da homenagem e muito
antes de recebê-la, já era santa pela entrega ao Bem. Muito obrigado Irmã Dulce
por toda a sua obra que, sabemos, vai continuar no mundo espiritual.
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