Pular para o conteúdo principal

SERÁ QUE NÃO TEMOS MESMO O QUE FAZER, MENINAS? O ASSÉDIO DE CADA DIA!




Você não tem mesmo o que fazer, essa menina
Como é que você já fica toda feminina
Como é que você olha pra mim
Com essa falta de respeito
Olhe que isso assim não está direito, essa menina

Como é que você novinha assim toda se empina
Como é que você quando me vê
Sai requebrando desse jeito
Tudo nesta vida tem a sua hora, viu?
Pois você me diga agora onde é que já se viu
Querer ser colhida assim tão fora de estação?
Olhe, essa menina, suma, vá-se embora, tenha compaixão

Eu já nem sei mais o que fazer com essa menina
Sem desmerecer sua beleza tão divina
Bem, ela vai ver, então vai ser
Tal como manda a natureza, viu?

Vinicius de Morais (Essa menina – 1971)


Para vergonha nacional, o Washington Post publicou uma matéria sobre o caso de Valentina, a menina de 12 anos, que foi assediada nas redes sociais, por homens que acham perfeitamente natural sentir e manifestar desejo sexual por uma criança.

Como todo mundo sabe, e o mesmo jornal relatou isso, o fato deflagrou uma campanha de mulheres falando sobre o primeiro assédio, mostrando que todas ou quase todas têm uma história ou muitas a relatar a esse respeito, em idades precoces e durante a vida toda!
Ou seja, isso é algo corriqueiro, normal, usual, entranhado em nossa cultura.

Então me lembrei dessa música de Vinicius de Morais que, embora seja nosso grande e querido poetinha, naturalmente era representante dessa (in)cultura nacional, desse machismo que acha que é uma honra para a mulher ser o tempo todo olhada como um pedaço de carne e não como um ser humano, pensante, integral, com seus próprios desejos e necessidades. A música revela bem a inversão que se faz: se o homem deseja descaradamente, se o homem invade com o olhar, com as mãos e com o que mais quiser ou mesmo apenas energeticamente, o campo de intimidade de uma mulher (e ainda que seja uma menina), foi ela que pediu, ela que provocou, ela que se mostrou, ela que “requebrou”, como diz a música. Mas se ela for feia, nem merece ser estuprada, como disse esse símbolo de boçalidade, o deputado Jair Bolsonaro.

E o que temos a ver com tudo isso, nós da Universidade Livre Pampédia? Tudo e mais um pouco. Porque é só através da educação, que podemos mudar essa mentalidade entranhada, viciada, da nossa cultura.

E essa educação passa por sensibilização, empatia e ao mesmo tempo racionalização, convencimento. E essa educação tem que começar nos adultos, homens e mulheres, para contagiarmos as novas gerações.

Alguns conceitos que precisamos mudar:

Não, o homem (ser masculino) não é um animal incontrolável, que não pode educar seus desejos. Homens e mulheres pensam muitas vezes assim. Lembro-me de minha avó dizendo: homem é assim mesmo. Não, não é não. É assim, se quiser, se se permitir ser, se não buscar nenhum tipo de autoeducação, controle, humanização e elevação espiritual. Homem não precisa ser bicho não. É ser humano.

Não, não é a mulher que provoca o homem. As mulheres não gostam de ser assediadas, invadidas, olhadas como pedaços de carne. Se gostam, quando gostam, é porque foram ensinadas desde cedo, e inclusive pela propaganda maciça de mulheres sensuais e peladas, que elas estão aí apenas para atrair o ser masculino e satisfazê-lo. Sabem qual a justificativa do uso da burca nos países mulçumanos radicais? É justamente para a mulher não provocar o homem com sua sensualidade. Vamos então todas nos vestir de burcas porque os homens precisam ser protegidos de nos olhar?!?

Não, quando o caso é pedofilia, a criança não tem NENHUMA culpa. Ela não pode consentir, porque não sabe o que está acontecendo. Ela está diante de um adulto que a manipula, que a oprime, que a faz sentir confusa, culpada, suja… e esse trauma terá consequências nefastas pela vida afora – trate-se de uma menina ou de um menino (que também sofrem abusos).

Não, quando o caso é estrupo, a mulher não tem NENHUMA culpa. É uma das piores violências que se pode cometer contra outro ser humano, roubar-lhe a sua integridade física, a sua privacidade sexual, o seu corpo. Nada justifica tal ato.
Alguns conceitos que precisamos implantar:

Sim, é possível termos homens e mulheres que se respeitem mutuamente, como seres com dignidade plena, desde que sejam estimulados desde cedo a ver o outro assim. Por isso, os pais (homens) são muito responsáveis. No desespero alucinado de não quererem filhos gays, muitos homens formam seus filhos para serem homens cafajestes. Não ser gay, para esses, é sempre olhar qualquer mulher com desejo, é ver revistas pornográficas desde cedo, é levar no puteiro para a iniciação sexual (iniciação aliás, muitas vezes traumatizante), é fazer piadas machistas o tempo todo… As mães (mulheres) também são responsáveis na medida em que reforçam essa mentalidade e estimulam seus filhos a serem machistas e suas filhas a aceitarem tudo.
Sim, as mulheres deveriam poder andar a qualquer hora numa rua deserta sem medo de serem estupradas. Um mundo civilizado seria esse!

Sim, as crianças são crianças, e crianças são sagradas. Não devem ser olhadas com desejo. Se alguém sente desejo por criança deve procurar tratamento. É doença. E é crime abusar de uma criança.

Sim, deveríamos desestimular a pornografia. Desestimular não é censurar, mas alertar as novas gerações o quanto a pornografia coisifica o outro, o quanto ela vicia e faz as pessoas fantasiarem coisas que não são encontráveis na realidade ou ver em toda parte os outros como objetos a serem usados e não pessoas para serem amadas e respeitadas. Hoje, há diversas pesquisas que demonstram que pornografia faz mal para o cérebro (esta é apenas uma entre muitas).

E assistam ao interessante documentário de um jornalista inglês Pornografia no cérebro:


Sim, podemos caminhar para um mundo em que o amor e o respeito acompanhem a sexualidade e construirmos uma cultura de paz, onde todos se sintam felizes e tenham sua dignidade preservada!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

   I Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

A HISTÓRIA DA ÁRVORE GENEROSA

                                                    Para os que acham a árvore masoquista Ontem, em nossa oficina de educação para a vida e para a morte, com o tema A Criança diante da Morte, com Franklin Santana Santos e eu, no Espaço Pampédia, houve uma discussão fecunda sobre um livro famoso e belo: A Árvore Generosa, de Shel Silverstein (Editora Cosac Naify). Bons livros infantis são assim: têm múltiplos alcances, significados, atingem de 8 a 80 anos, porque falam de coisas essenciais e profundas. Houve intensa discordância quanto à mensagem dessa história, sobre a qual já queria escrever há muito. Para situar o leitor que não leu (mas recomendo ler), repasso aqui a sinopse do livro: “’...