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SURFAR¹



       

       O surfe (do inglês surf) é um esporte, cuja prática consiste em manter-se sobre uma prancha enquanto a mesma sofre uma intensa pressão de ondas em arrebentação. O verbo derivativo de tal prática, surfar, traduz uma ação própria daquele que se encontra com a proposta de manter o equilíbrio apesar das pressões que ameaçam gerar quedas a todo o momento. 
          Traduzindo esses esclarecimentos preliminares, que importam aos amantes dessa modalidade esportiva, para as situações vivenciadas pelas pessoas na produção de suas providências e soluções, é possível por analogia dizer que todos surfam de alguma forma quando visitados pelas marés da existência.
          Não é sempre que o mar está para peixe e aos momentos de calmaria se interpõem tempestades, que exigem habilidades nem sempre conquistadas, o que torna complicada a manutenção da serenidade quando se formam. Na narrativa trazida por Marcos (IV; 35 a 41) o barco substitui a prancha, que naturalmente não existia àquela época, e informa que durante uma travessia, quando os discípulos foram surpreendidos pela fúria dos ventos e das águas, Jesus dormia no barco. Só depois de longa agonia e em se sentindo impotentes em encontrar a solução resolvem acordá-lo. O Mestre, então, apascentado a tempestade lhes pergunta: “homens de pouca fé, por que não me chamaram antes” de entrarem em desespero? (o negrito é inserção nossa).
          Ora, se estamos preparados para a procela fica menos difícil evitar as forças que se antepõem ao esforço, mas o que exige a manutenção do equilíbrio é o chamado para a lição que ainda não foi aprendida, esse o desafio. Nesse caso necessitamos do devido apoio que haverá de vir da rede de amigos que projetamos, das leituras que fizemos e das crenças que desenvolvemos no decorrer dos anos de prática espiritual.
          A Doutrina Espírita é definitiva quando nos alerta para a certeza de que jamais somos alcançados por uma onda que está direcionada para outrem, aliás, leva-nos à convicção de que nós mesmos é que criamos o humor das marés que cercam a prancha onde buscamos nos equilibrar. Manter-se em pé gera a experiência para surfarmos em outros ambientes, enquanto sucumbir ou desistir da plataforma reafirma a obrigatoriedade de tornar àquele mesmo ponto que gerou o afogamento.
          Pessoa alguma tem vida fácil. A facilidade que parece haver na rotina do outro é resultado do desconhecimento de sua intimidade. Aquele que surfa ao nosso lado, enquanto caminha cercado por resultados que nos parecem favoráveis, é alguém que também atravessa as nuvens escuras que precisa superar, as quais nos fogem à apreciação. O convite à superação é universal aos habitantes da Terra, pois sofremos, na média, das mesmas imperfeições.
          Escolhemos, ao reencarnar, encarar os temporais que pudessem gerar os aprendizados para a aquisição das nossas experiências evolutivas. Sabíamos que não seria fácil e certamente não está sendo. Despertemos Jesus na nossa prancha. Ele não impedirá que as tempestades aconteçam, mas nos apoiará no equilíbrio para nos manter surfando em busca da terra firme.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 21.01.2018.


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