Pular para o conteúdo principal

IMPUNIDADE, ISSO EXISTE?¹



             

 
              A raiz do que expressa a palavra impunidade repousa sua origem no entendimento do que supomos ser uma PUNIÇÃO, palavra assemelhada à compreensão de CASTIGO, cuja determinação pode derivar de um juízo ou de um tribunal. Pois bem, impunidade é exatamente a falta de aplicação de medidas ajustadas ao autor de ação que mereça ser coibida, depois de julgada lesiva às pessoas ou instituições.
            A importância do termo reside na amplidão em que se aplica. Somos chamados a lembrar que na antiga religiosidade era comum que se aludisse à mão pesada de Deus, a qual punia de forma abusiva alguém que desobedecesse às regras de crenças apregoadas por aqueles que estivessem no comando “espiritual” de determinadas cúpulas que representavam a opinião daquela religião. Por outro lado assistimos à festa sem porteira dos convivas do poder, desde as mais distantes épocas, que se divertiam sem medidas enquanto legislavam sobre a pobreza da população, certos de que as frágeis leis humanas jamais os alcançariam.

Consideradas as justiças – espiritual e humana – haveremos de compreender, sob a visão esclarecedora da Doutrina Espírita, que o mundo real é o Invisível enquanto a esfera material se encontra contida naquele (LE q. 85 – Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal na ordem das coisas? – O mundo espírita; ele preexiste e sobrevive a tudo). É possível deduzir daí que a justiça humana é passageira, desde que transitória a vida material, enquanto a justiça espiritual, essa tem a propriedade da perpetuidade e sem se iludir pelas especulações de poder nem pela facilitação da compra financeira.
Apesar de causar-nos indignação assistir aos espetáculos dantescos de burla da lei humana, pela falta de escrúpulo e cegueira das hordas de homens que lutam pela pobre riqueza que o status permite, convém alçar a uma apreciação mais elevada os tristes eventos que as mídias trazem ao nosso conhecimento seja no Brasil quanto além dos seus limites territoriais. Enquanto os tribunais humanos parecem claudicar diante da chantagem e da truculência, o tribunal divino habita na instância em que sempre se encontrou que é a consciência. Ali, nesse recesso íntimo, cada um sabe se está ou não ferindo os valores reais da existência, alguns têm que esperar pela morte do corpo e a perda de todos os valores perecíveis para cair em si. Diante desse tribunal sem juízes, sequer Deus haverá de cumprir esse papel, haja vista ter estabelecido Leis Imutáveis que a consciência livre, independente dos enganos passageiros tem esculpido em sua memória.
Diante do leque de oportunidades, cujo convite da facilidade induza à mente a transgredir o conceito do bem comum é fundamental que a nossa consciência questione quanto às consequências tardias das nossas escolhas. Podemos enganar e desviar as leis humanas, mas as leis espirituais são inegociáveis. Diante dessas a impunidade não existe. A transgressão às leis divinas, sempre que ferimos ao outro, é ato que cedo ou tarde haveremos de corrigir, pelo que é muito mais inteligente pensarmos tantas vezes sejam necessárias antes de agredirmos a própria consciência. Só o bem que fazemos é passaporte para a tranquilidade a que aspiramos no presente e no futuro. Fazer o bem faz bem, seja em pensamentos, palavras e atitudes. 

¹ editorial do programa Antena Espírita de 21.05.2017


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.