domingo, 29 de janeiro de 2017

CORAÇÃO ENVENENADO



       


 
         – Aquele homem o cumprimentou...
         – Eu vi.
         – Não responde?
         – Para mim ele não existe. Quero que se dane!
         – Meu Deus! Que raiva é essa? Alguma desavença grave?
         – Muitas. É meu ex-chefe. Aborreceu-me por muito tempo.  Exigente demais, com mania de perfeição, sempre a cobrar maior empenho dos subordinados. Tivemos atritos homéricos…

         – Não parece má pessoa…
         – Quem vê cara não vê coração. Além do mais me perseguia. Quando surgiu a oportunidade de uma promoção preferiu indicar um colega menos qualificado. Foi tremendamente injusto comigo!
         – Isso é meio complicado, porquanto a visão de quem nos avalia pode ser diferente da nossa.
         – Sim, principalmente quando objetiva favorecer um protegido…
         – Não é mais seu subordinado?
         – Felizmente, não. Quero distância desse pilantra! Até tremo quando o vejo. Mau caráter!
         – Cuidado. Raiva é ácido no coração. Não é melhor esquecer?
         – Prefiro morrer envenenado a ensaiar qualquer gesto de boa vontade em favor dessa cobra peçonhenta que tanto me aborreceu!  Jamais esquecerei que fui prejudicado em minha carreira por culpa dele…
         – Pelo que sei você é um homem religioso, presta reverência a Deus…
         – Claro! Mas isso não tem nada a ver com o assunto de que falamos.
         – Está equivocado. Afinal, seu ex-chefe também é filho de Deus…
           – E daí?
           – Você é um homem inteligente. Não terá dificuldade em responder a uma pergunta elementar: É possível reverenciar um pai detestando seu filho?

                                     ***

         No Evangelho:
         Ouvistes o que foi dito:
         “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.
         Eu, porém, vos digo:
         Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos Céus.
Ele que faz levantar-se o sol sobre bons e maus e descer a chuva sobre justos e injustos.
Porque se amardes aos vos amam, que recompensa tereis?
Não fazem o mesmo os publicanos?
         E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial?
 Não fazem os gentios também o mesmo?
         Sede, portanto, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial (Mateus, 5:43-48).

2 comentários:

  1. Verdade! Somente quando estamos diante das provas que a vida nos oferece a oportunidade de experimentar, é que percebemos que muito ainda há para aprender. Julgar precipitadamente as pessoas, ou agir por impulso em retorno a um comportamento que reprovamos, são exemplos de que devemos melhorar. Percebo a cada nova vivência que ainda não aprendi quase nada da vida. E que é preciso sabedoria para seguir mesmo diante dos desapontamentos, entendendo que muitos ainda são movidos tão somente pela matéria, entendendo ainda que, muitas vezes, nós nos deixamos levar por ilusões que nós mesmos criamos junto a matéria também. Desafios da encarnação...

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