– Aquele homem o cumprimentou...
– Eu vi.
– Não responde?
– Para mim ele não existe. Quero que se
dane!
– Meu Deus! Que raiva é essa? Alguma
desavença grave?
– Muitas. É meu ex-chefe. Aborreceu-me
por muito tempo. Exigente demais, com
mania de perfeição, sempre a cobrar maior empenho dos subordinados. Tivemos
atritos homéricos…
– Não parece má pessoa…
– Quem vê cara não vê coração. Além do
mais me perseguia. Quando surgiu a oportunidade de uma promoção preferiu
indicar um colega menos qualificado. Foi tremendamente injusto comigo!
– Isso é meio complicado, porquanto a
visão de quem nos avalia pode ser diferente da nossa.
– Sim, principalmente quando objetiva
favorecer um protegido…
– Não é mais seu subordinado?
– Felizmente, não. Quero distância
desse pilantra! Até tremo quando o vejo. Mau caráter!
– Cuidado. Raiva é ácido no coração.
Não é melhor esquecer?
– Prefiro morrer envenenado a ensaiar
qualquer gesto de boa vontade em favor dessa cobra peçonhenta que tanto me
aborreceu! Jamais esquecerei que fui
prejudicado em minha carreira por culpa dele…
– Pelo que sei você é um homem
religioso, presta reverência a Deus…
– Claro! Mas isso não tem nada a ver
com o assunto de que falamos.
– Está equivocado. Afinal, seu ex-chefe
também é filho de Deus…
– E daí?
– Você é um homem inteligente. Não
terá dificuldade em responder a uma pergunta elementar: É possível reverenciar
um pai detestando seu filho?
***
No Evangelho:
Ouvistes
o que foi dito:
“Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.
Eu, porém, vos digo:
Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para
que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos Céus.
Ele que faz levantar-se
o sol sobre bons e maus e descer a chuva sobre justos e injustos.
Porque se amardes aos
vos amam, que recompensa tereis?
Não fazem o mesmo os
publicanos?
E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de
especial?
Não fazem os gentios também o mesmo?
Sede, portanto, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
Celestial (Mateus, 5:43-48).
Verdade! Somente quando estamos diante das provas que a vida nos oferece a oportunidade de experimentar, é que percebemos que muito ainda há para aprender. Julgar precipitadamente as pessoas, ou agir por impulso em retorno a um comportamento que reprovamos, são exemplos de que devemos melhorar. Percebo a cada nova vivência que ainda não aprendi quase nada da vida. E que é preciso sabedoria para seguir mesmo diante dos desapontamentos, entendendo que muitos ainda são movidos tão somente pela matéria, entendendo ainda que, muitas vezes, nós nos deixamos levar por ilusões que nós mesmos criamos junto a matéria também. Desafios da encarnação...
ResponderExcluirExcelente texto!!!!
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