domingo, 14 de agosto de 2016

PAI É PARA SE GUARDAR NO LADO ESQUERDO DO PEITO¹



              



              Em A Canção da América, Milton Nascimento diz que amigo é para se guardar embaixo de sete chaves, no lado esquerdo do peito. Impossível discutir a essência da frase do magnífico compositor sem lhe dar razão em número, gênero e grau. Na agonia dos dias que se atropelam nada mais importante do que poder contar com um amigo na praça que, segundo a sabedoria popular, vale muito mais que dinheiro no bolso.
            Ser amigo é uma acepção que estabelece o mais profundo vínculo entre duas pessoas, muito acima das relações retratadas, de forma também importante, pelos papéis sociais aos quais todos nos adaptamos. Sucede que os papeis desempenhados não passarão de títulos sem significado se os nossos olhos não puderem alcançar, no outro que caminha ao lado, a figura espontânea do amigo.

            O amigo é alguém que se põe na estrada, não importa as circunstâncias em que esteja a estrada, quando percebe que pode atender a uma real necessidade daquele que é alvo de sua atenção e cuidado. Também é capaz de se expressar sem receio de ser mal interpretado quando discordar do motivo da ação do outro, apesar de jamais negar-se ao apoio construtivo àquele sempre que se fizer necessário.
            É fundamental compreender que o caminho da evolução sobre a Terra nos colocou na completa dependência do outro, visto que as nossas habilidades pessoais são limitadas para manter as necessidades da existência sem o concurso alheio. Precisamos do alimento, do vestuário, da construção civil, da educação, da energia elétrica e temos tantas outras demandas essenciais que seria impossível permanecermos vivos se não houvesse o outro para abastecer tantas prioridades, desde as mais simples àquelas mais complexas.
            O que pensar então, a respeito daquele que nos gerou, e tornou-se dessa forma o nosso genitor, tendo em seguida a coragem de receber-nos e amparar-nos... Tornando-se assim nosso pai. A figura do genitor, de extrema importância para a origem da nossa encarnação, se mistura com a luz essencial da amizade e o genitor amigo se transforma em PAI. Há genitores que não conseguem se transmudar em pai e isso é triste, mas há pais que não foram os genitores e isso é magnífico porque transcende ao amor inicial da procriação.
            Quando se fala da amizade, daquela que se guarda no lado esquerdo do peito, a lembrança do papel do pai dimensiona a importância de alguém que ofereceu a sua força de trabalho e superação em favor dos nossos dias de total dependência do aconchego afetivo e das necessidades básicas da sobrevivência, enquanto ainda não éramos competentes para nos cuidar sozinhos.
Aos nossos pais um tributo de respeito, carinho e também de saudade para aqueles que partiram de nossas vidas para o mundo espiritual. Obrigado pela bênção da existência e pelo zelo que nos permitiu chegar até aqui. Jamais os esqueceremos.

¹ editorial do programa Antena Espírita de 14.08.2016.




2 comentários:

  1. Francisco Castro de Sousa14 de agosto de 2016 às 12:16

    Roberto, você termina esse belo texto falando sobre os pais que já se foram, é o seu caso e o meu, mas nós também somos pais e fazemos tudo o que você conseguiu enumerar pelos nossos filhos e nos sentimos imensamente felizes por isso. Parabéns pela oportunidade e pelo belo texto em homenagen aos PAIS!

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  2. "Apesar de tão raro, não há nada melhor do que um grande amigo", diz a sabedoria da canção.

    Amizade + Paternidade é melhor ainda. Quanto a esse útil escrito, além de claro e objetivo, concito os autores e este canal a continuarem nos presenteando com reflexões sensatas e necessárias com essa.

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