Pular para o conteúdo principal

RELIGIÃO OU ESPIRITUALIDADE?¹

            


Por Roberto Caldas (*)




                 O simples exercício de refletirmos acerca dos grandes reveladores que vieram à Terra é suficiente para nos demonstrar que eles se encontram muito acima das instituições que se criaram depois que deixaram a existência terrena. Assim aconteceu com Confúcio, Buda, Krishna, Moisés, Jesus. Não é necessário empreendermos muito esforço para compreender o que aconteceu nesses casos. Esses homens trouxeram à luz do mundo os conteúdos de espiritualidade que os seus patamares evolutivos permitiram, muito acima da compreensão da média, enquanto aqueles que os sucederam fundaram religiões em torno da interpretação de suas idéias. Com essa atitude empobreceram o pensamento profundo que eles deixaram conferindo caráter dogmático normativo aos seus ensinamentos.

            Nenhum desses seres superiores tinha a intenção de deixar instituições a lhe representar, senão a ideia da perpetuidade de suas idéias através da livre expressão, sem qualquer imposição doutrinária criada para fazer sombra ao pensamento genuíno de liberdade contida nas mensagens imorredouras que nos deixaram, mas não foi dessa forma que os seus ideais passaram para a posteridade. De forma que na atualidade os conceitos práticos de Religião e Espiritualidade são duas acepções completamente diferentes. Ser religioso não implica em ser espiritualizado, tanto quanto a sua recíproca. A atitude de rechaçar a crença do outro e ser intolerante com quem pensa diferente pode até ser uma posição religiosa, mas jamais poderá ser vista como uma decisão espiritualizada. Há quem se permita ser religioso e ao mesmo tempo déspota domiciliar e social pesando sobre os seus pares as suas opiniões fechadas o suficiente para ouvir o anseio dos outros, situação jamais adotada por quem de fato seja espiritualizado. Ser religioso tornou-se sinônimo de cobrar aos demais uma postura qualificada diante de algum dogma estabelecido pela doutrina a ser obedecida, enquanto ser espiritualizado significa lançar uma visão educativa, ao que pode trazer prejuízos, destituída de cobranças ou imposições.
            Na questão 785 de O Livro dos Espíritos é questionado qual o principal obstáculo ao progresso moral e coletivo, cuja resposta inicia incisiva: o egoísmo e o orgulho. Orgulhosos e egoístas é o que conseguimos ser quando nos tornamos religiosos sem nos tornarmos espiritualizados. Julgamo-nos detentores de conhecimentos e capacidades que supomos faltar ao outros e ousamos presunçosamente considerar-nos superiores a quem não nos comungue os pensamentos e idéias. Ousamos impor ao outro as nossas convicções sem a menor cerimônia com a sua liberdade de escolha.
            Jesus considerou-nos todos como se fôssemos ovelhas pertencentes a um só grupamento, que Ele denominou redil. Em suas palavras havia o tom profético de que no momento próprio todos se encontrariam, independente de quanto tempo tivéssemos percorrido por estradas diferentes. Esse era o convite para que nos desarmássemos diante do outro adotando uma atitude amiga, apesar das diferenças de crenças. As religiões passam, a espiritualidade fica e acompanha o Espírito até o seu completo despertar.


¹ editorial do programa Antena Espírita de 06.07.2014.
(*)  editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.


              

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.