Pular para o conteúdo principal

SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS¹




Por Roberto Caldas (*)



       
Depois de anunciado o advento da Doutrina Espírita com a publicação de “O Livro dos Espíritos”, eis que Allan Kardec inicia o ano de 1858 com o lançamento da Revista Espírita numa nítida atitude científica que exigia que as informações colhidas nas investigações mediúnicas fossem colocadas para avaliação pública em tal periódico. Desde algum tempo o Codificador deixara de frequentar os salões, onde preponderava a curiosidade fútil e se reunia em sua residência com um grupo de pessoas sérias e comprometidas com o estudo e a pesquisa da nova doutrina, cujo espaço se tornara acanhado para receber tantos participantes.

Allan Kardec tinha a firme pretensão de oferecer aos interessados pelas idéias espíritas, um local apropriado para o aprendizado, pois percebia que havia passado o tempo da prática mediúnica empírica, com a finalidade de oferecer um espaço de estudos para interessados de toda a Europa. Naquele ano, em decorrência de uma tentativa de golpe para derrubar o imperador Napoleão III, a França vivia sob a Lei de Segurança Geral que impedia, sem justificativa prévia, que mais de 20 pessoas se reunissem em ambiente fechado, razão que o obrigou a buscar a aprovação do Prefeito de Polícia de Paris e do Ministro do Interior e de Segurança Geral da França para, em 1º de abril de 1858, fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, instituição que pode ser considerada o primeiro Centro Espírita do mundo. A frase que se segue mostra a compreensão do Codificador, ao fincar o primeiro tijolo do que se tornaria o Movimento Espírita do futuro, transcrita no livro “Obras Póstumas” (Projeto 1868): “Dois elementos devem concorrer para o progresso do Espiritismo; estes são: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de popularizá-la”.
A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas nascia comprometida com a missão de ensinar a teoria espírita, sem a qual ninguém pode se declarar espírita e ao mesmo com o papel de tornar-se uma divulgadora desses conhecimentos com a finalidade de torná-los conhecidos além de suas paredes. Allan Kardec sabia que informações inadequadas, em matéria de Espiritismo, “teriam sido desastrosos, pela impressão que teriam produzido sobre o público e o desencorajamento que disso resultaria entre os adeptos” (Obras Póstumas). Tal o legado que deixou para os grupamentos espíritas da atualidade.
A manutenção dos cuidados com a divulgação dos conhecimentos espíritas no mundo repousa hoje sobre os ombros de milhares de instituições congêneres à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as quais encontraram no Brasil terreno fértil para a multiplicação. É fundamental que os dirigentes dessas instituições estejam em completa consonância com as orientações propostas pelo Codificador e que figuram principalmente em “O Livro dos Médiuns” e “Obras Póstumas”, se quiserem, de fato, caminharem de maneira firme e séria no caminho da expansão responsável do Espiritismo.
Assim como não existe Espiritismo sem Kardec, não há centro espírita fidedigno senão aquele que segue as orientações da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. 
 
 ¹ editorial do programa Antena Espírita de 30.03.2014.

(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.