Pular para o conteúdo principal

PALESTRANTE ESPÍRITA PELEGO NÃO MERECE APLAUSO

 


 Por Ana Cláudia Laurindo

Acreditamos seja pertinente refletir sobre narrativas mornas, reproduzidas por espíritas famosos beneficiados pelo conhecido “peleguismo” de quem tenta agradar todas as concepções, e para isso se prestam ao desserviço de palestrar dizendo que só existe um Espiritismo, classificando como nem de direita nem de esquerda, jogando na vala comum importantes pensamentos e posicionamentos, em hora tão grave da história espírita brasileira.

Levando em conta a insipiente formação política das populações que frequentam grandes eventos nacionais, geralmente pagos, o discurso genérico de que existem apenas diferenças de opinião é um recurso perverso, que busca e recebe aplausos, no cenário amaciado da falaciosa união dos escolhidos e iluminados, que sempre deixam os empobrecidos e humilhados postos no mesmo lugar, sem combater desigualdades estruturais, divulgando justificativas cármicas.

Para colorir ainda mais o cenário, ecoam palavras alargadas sobre aborto masculino e legitimidade LGBTQI+, como fina camada de manteiga sobre o pão; sem análises que possam comprometer o perfil da palestra, que durante todo o percurso dribla polêmicas e fala de amor panteísta, outro recurso de enfraquecimento do pensamento político.

Aplausos da direita!

Aplausos da esquerda!

Livros vendidos!

Palestras encomendadas!

Viva o comércio lustroso da classe média espírita, cada vez mais acalmada, amorosa e bela dentro dos redutos quentes; cada vez mais indiferente ao outro, promotora das crenças armamentistas, defensora de Bolsonaro.

De um único Espiritismo podem ter derivado inúmeras interpretações, atuações e vivências, e isto não pode continuar sendo visto como mero posicionamento opinativo, pois o que segura este perfil é uma aderência às ideias e interesses de classe, em franca afinidade com o poder dominante.

Se este poder manifesta em suas ações políticas, econômicas, culturais e relacionais, faíscas apenas do desamor liberal que exclui a maioria dos seres do usufruto dos direitos básicos que a encarnação pede, o Espiritismo não corrobora com o mal implícito e explícito nesta forma de organização social.

Portanto, as categorias direita e esquerda orientam espíritas, sim!

Porque estamos todos inseridos nos esquemas sociais que legitimam opressão ou libertação, autonomia ou escravização.

Aplausos perdidos, iludidos, foram incentivados por falácia frouxa, sem base racional, histórica, portanto, por um engodo.

Ah essa mania de eleger personagens famosos para representar ideias salvacionistas, isentas de conflitos e plenas de amor romântico, que muitos amigos e amigas ainda acalentam!

A hora é contundente, o erro grande já vitimou quase um milhão de nós em situação evitável.

Me coloco como case de um Espiritismo de esquerda, porque não poderia trair as oportunidades de estudo e conhecimento político que a vida me permitiu, apenas por ser espírita e não acreditar em intencionalidades políticas do poder.

Se você acredita em colônias espirituais que não está vendo, como pode desacreditar de apartheid social, político e econômico, que está exposto diante dos seus olhos?

O palestrante fala, mas o espírita tem o dever de filtrar e questionar o dito.

Estamos muito próximos das eleições presidenciais do Brasil para alimentar mais essa fantasia de apartidarismo ideológico espírita.

A cada um de nós, a responsabilidade do feito. Mas quando o interesse é coletivo, por certo, esta responsabilidade também cresce.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

A FÉ COMO CONTRAVENÇÃO

  Por Jorge Luiz               Quem não já ouviu a expressão “fazer uma fezinha”? A expressão já faz parte do vocabulário do brasileiro em todos os rincões. A sua história é simbiótica à história do “jogo do bicho” que surgiu a partir de uma brincadeira criada em 1892, pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro. No início, o zoológico não era muito popular, então o jogo surgiu para incentivar as visitas e evitar que o estabelecimento fechasse as portas. O “incentivo” promovido pelo zoológico deu certo, mas não da maneira que o barão imaginava. Em 1894, já era possível comprar vários bilhetes – motivando o surgimento do bicheiro, que os vendia pela cidade. Assim, o sorteio virou jogo de azar. No ano seguinte, o jogo foi proibido, mas aí já tinha virado febre. Até hoje o “jogo do bicho” é ilegal e considerado contravenção penal.

O CERNE DA QUESTÃO DOS SOFRIMENTOS FUTUROS

      Por Wilson Garcia Com o advento da concepção da autonomia moral e livre-arbítrio dos indivíduos, a questão das dores e provas futuras encontra uma nova noção, de acordo com o que se convencionou chamar justiça divina. ***   Inicialmente. O pior das discussões sobre os fundamentos do Espiritismo se dá quando nos afastamos do ponto central ou, tão prejudicial quanto, sequer alcançamos esse ponto, ou seja, permanecemos na periferia dos fatos, casos e acontecimentos justificadores. As discussões costumam, normalmente e para mal dos pecados, se desviarem do foco e alcançar um estágio tal de distanciamento que fica impossível um retorno. Em grande parte das vezes, o acirramento dos ânimos se faz inevitável.

"ANDA COM FÉ EU VOU..."

  “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá” , diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

“TUDO O QUE ACONTECER À TERRA, ACONTECERÁ AOS FILHOS DA TERRA.”

    Por Doris Gandres Esta afirmação faz parte da carta que o chefe índio Seattle enviou ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854! Se não soubéssemos de quem e de quando é essa declaração poder-se-ia dizer que foi escrita hoje, por alguém com bastante lucidez para perceber a interdependência entre tudo e todos. O modo como vimos agindo na nossa relação com a Natureza em geral há muitos séculos, não apenas usando seus recursos, mas abusando, depredando, destruindo mananciais diversos, tem gerado consequências danosas e desastrosas cada vez mais evidentes. Por exemplo, atualmente sabemos que 10 milhões de toneladas de plásticos diversos são jogadas nos oceanos todo ano! E isso sem considerar todas as outras tantas coisas, como redes de pescadores, latas, sapatos etc. e até móveis! Contudo, parece que uma boa parte de nós, sobretudo aqueles que priorizam seus interesses pessoais, não está se dando conta da gravidade do que está acontecendo...

NÃO SÃO IGUAIS

  Por Orson P. Carrara Esse é um detalhe imprescindível da Ciência Espírita. Como acentuou Kardec no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos: “Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram”, sendo esse destacado no título um deles. Sim, porque esse detalhe influi diretamente na compreensão exata da imortalidade e comunicabilidade dos Espíritos. Aliás, vale dizer ainda que é no início do referido item que o Codificador também destaca: “(...) os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos (...)”.

FUNDAMENTALISMO AFETA FESTAS JUNINAS

  Por Ana Cláudia Laurindo   O fundamentalismo religioso tenta reconfigurar no Brasil, um país elaborado a partir de projetos de intolerância que grassam em pequenos blocos, mas de maneira contínua, em cada situação cotidiana, e por isso mesmo, tais ações passam despercebidas. Eles estão multiplicando, por isso precisamos conhecer a maneira com estas interferências culturais estão atuando sobre as novas gerações.

TEMOS FORÇA POLÍTICA ENQUANTO MULHERES ESPÍRITAS?

  Anália Franco - 1853-1919 Por Ana Cláudia Laurindo Quando Beauvoir lançou a célebre frase sobre não nascer mulher, mas tornar-se mulher, obviamente não se referia ao fato biológico, pois o nascimento corpóreo da mulher é na verdade, o primeiro passo para a modelagem comportamental que a sociedade machista/patriarcal elaborou. Deste modo, o sentido de se tornar mulher não é uma negação biológica, mas uma reafirmação do poder social que se constituiu dominante sobre este corpo, arrastando a uma determinação representativa dos vários papéis atribuídos ao gênero, de acordo com as convenções patriarcais, que sempre lucraram sobre este domínio.

JESUS TEM LADO... ONDE ESTOU?

   Por Jorge Luiz  A Ilusão do Apolitismo e a Inerência da Política Há certo pedantismo de indivíduos que se autodenominam apolíticos como se isso fosse possível. Melhor autoafirmarem-se apartidários, considerando a impossibilidade de se ser apolítico. A questão que leva a esse mal entendido é que parte das pessoas discordam da forma de se fazer política, principalmente pelo fato instrumentalizado da corrupção, que nada tem do abrangente significado de política. A política partidária é considerada quando o indivíduo é filiado a alguma agremiação religiosa, ou a ela se vincula ideologicamente. Quanto ao ser apolítico, pensa-se ser aquele indiferente ou alheio à política, esquecendo-se de que a própria negação da política faz o indivíduo ser político.