terça-feira, 11 de janeiro de 2022

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE I

Em março de 2019 iniciamos o nosso projeto de pesquisa de doutorado, no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, intitulado NA INTIMIDADE DO CORAÇÃO: a mística na vida e obra de Chico Xavier. Essa pesquisa pretende identificar se seria possível estabelecer, a partir da vida e da obra do famoso médium mineiro Chico Xavier, uma relação com as principais características de grandes místicos da história, identificando a presença de uma mística voltada para a prática do amor e da caridade, e se ela guarda influências que vão além do Espiritismo de Allan Kardec.

Embora, segundo relatos obtidos por pessoas de sua convivência, Chico Xavier não acreditasse na sua condição de místico, tentaremos provar tal hipótese, através de pesquisas bibliográficas, documentais e de entrevistas com pessoas que tiveram um contato pessoal com o médium mineiro. Essas entrevistas têm por fim dar voz a Chico Xavier, oferecendo-nos informações relevantes acerca de seus pensamentos e trazendo, sempre que possível, seus pontos de vista. Isso é importante, na medida que, na maioria das vezes, muito do que é atribuído como sua fala tem sido reportado como sendo as vozes dos espíritos através de sua psicografia.

Um dos registros históricos de cunho mais pessoal foi relatado na obra da médium e escritora mineira Suely Caldas Schubert intitulada Testemunhos de Chico Xavier (2010), na qual a autora entra em contato com a intimidade dele, trazendo a público as cartas pessoais que ele escrevia a Wantuil de Freitas, Presidente da Federação Espírita Brasileira na época. Essas cartas não eram as dos chamados espíritos, mas, sim, do cidadão Francisco Cândido Xavier, nas quais ele relatava suas lutas e dores na condução da missão espírita que assumiu para si mesmo. Dessa forma, em 17 de agosto de 2019, durante o 3° Congresso da Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, com o fim de atender aos objetivos de nossa pesquisa, gravamos uma entrevista1 com Suely Caldas Schubert.

Nascida em um berço espírita, em 9 de dezembro 1939, em Carangola, Minas Gerais, ainda na sua infância, a escritora passou a residir em Juiz de Fora, no mesmo estado. Schubert é escritora, médium e consagrada oradora, e tem se dedicado, no decorrer de sua vida, especialmente ao estudo da mediunidade e à divulgação do Espiritismo. Foi uma das fundadoras da Sociedade Espírita Joana de Angelis, em Juiz de Fora, e, desde 1971, trabalha na Aliança Municipal Espírita daquela cidade, onde é Diretora do Departamento de assuntos de Mediunidade. É autora de dezessete livros, dos quais destacamos: Dimensões Espirituais do Centro Espírita (2012); Divaldo Franco: uma vida com os Espíritos (2006a); Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e Terapêutica Espíritas (1999); Os Poderes da Mente (2010); O Semeador de Estrelas (1989); Testemunhos de Chico Xavier (2010) e Transtornos Mentais: uma leitura espírita (2006b).

 

A seguir, a entrevista com Suely Caldas Schubert:

 

1. Como a senhora conheceu Chico Xavier?

O meu conhecimento a respeito de Chico Xavier vem de muito antes de ir visitá-lo pela primeira vez. Sendo de família espírita, meu pai sempre esteve lendo e estudando, procurando ter um conhecimento maior da Doutrina, embora tenha feito somente até o terceiro ano primário. Mas ele era um leitor infatigável, e foi assim que tomei contato com os livros de Chico e outros mais da Doutrina.

Quando eu tinha 9 anos, eu comecei a ler os primeiros livros espíritas, que, no caso, foram alguns romances de um autor chamado Fernando do Ó. Preciso dizer que sou uma leitora compulsiva... Li todos os livros do meu pai, mesmo os não espíritas, coleções de vários autores. Minha vida é ler, depois, escrever.

E comecei lendo os romances, para depois começar a ler as obras doutrinárias, inclusive a própria Codificação e isso suscitou em mim – à medida que eu fui lendo, logo depois, a obra de André Luiz, Emmanuel – e, a partir daí, a vontade de conhecer o Chico. Eu tinha a impressão de que eu já o conhecia, que era alguma coisa assim muito familiar a mim, o que depois foi por ele confirmado. E então, no ano de 1960, resolvemos ir a Uberaba para o conhecer pessoalmente.

 

2. A senhora tinha quantos anos nessa época?

 

Eu estava com 21 anos. Eu já era casada já tinha uma filha, de poucos meses, casei-me aos 18 anos.

Antes eu vou contar o motivo pelo qual eu fui a Uberaba. Havia um motivo maior, eu já estava psicografando, porque a minha mediunidade despontou mesmo aos 16 anos de idade, quando comecei aplicar passes, no Centro Espírita Ivon Costa, de Juiz de Fora. Mais adiante, com 19 anos, já casada, sentindo presenças espirituais muito intensas, comecei a psicografar, em casa mesmo. Porque nós fazíamos o culto do lar, eu, o meu marido, meus pais, e nesse momento às vezes eu tinha vontade de escrever e comecei a psicografar, logo depois passamos a fazer uma reunião em nossa casa, e já com a filhinha de poucos meses, numa reuniãozinha pequena. Alguns Espíritos amigos escreviam, eram mensagens instrutivas. Posteriormente comecei a receber mensagens de um espírito que assinava o nome de Militão Pacheco. Eu não sabia quem era! Achei o nome muito estranho, mas assinava, porque a mensagem era muito boa!

Quando iniciei, as páginas psicografadas vinham com título, com conteúdo e com assinatura. Mas, Militão Pacheco, este chamou muito a minha atenção. Alguns dias depois, folheando um dos livros do meu pai com mensagens psicografadas por Chico Xavier, eu descobri uma de autoria de Militão Pacheco. Fiquei preocupada com aquilo, pois pensei que deveria ter lido tal livro e aquele nome teria ficado no meu subconsciente, por isso é que assinava Militão Pacheco... mas, vai ver que não é ele. São as dúvidas do médium iniciante, foi por isso que fomos a Uberaba.

Naquela época, Chico atendia na Comunhão Espírita Cristã de Uberaba, e sabendo disso fomos para lá. Mas combinamos que seríamos os últimos da fila, para poder ter um pouco mais tempo e não ficarmos naquela pressa de ter pessoas ainda para serem atendidas, o que faz com que a criatura comece a resumir muito a conversa, por isso ficamos por último.

Então, a poucos metros de distância do Chico, ele me olhou e disse: “Suely, minha filha, tanto tempo esperei que vocês viessem”, e muito surpresa e emocionada, mal conseguia andar, cheguei perto dele que me abraçou e disse: “Eu não sabia que vocês estavam aqui, nisto eu vi entrar o nosso doutor Militão Pacheco e abraçar uma pessoa, quando eu olhei, era você!” Meu Deus, eu já estava com todas as respostas! É, não precisava nem perguntar mais nada! Aí eu fiquei assim, perdi a fala. A gente nem consegue falar, né!

 

3. Perdeu a fala porque o Chico nunca tinha visto a senhora?

 

É, e eu nunca o tinha visto pessoalmente! É, então é um impacto aquela emoção!

E ele foi muito carinhoso também com o meu marido, foi uma coisa muito interessante. E daí em diante, ele começou a orientar a minha mediunidade. E que eu deveria mesmo psicografar diariamente e que, então, eu estava tendo uma proteção do doutor Militão Pacheco2, um médico homeopata que fez parte da Federação Espírita de São Paulo.

 

4. A senhora visitava o Chico regularmente? Como era? Quantas vezes esteve com ele até ele partir?

 

Olha, não era regularmente, porque logo depois, em 1960, eu tive o segundo filho. E com isso havia muita dificuldade de viajar, tínhamos dificuldades financeiras e isso também nos impedia. Nós fomos de ônibus para lá a primeira vez.

Fomos depois de carro também, nas outras oportunidades. Eu passava anos sem ir, mais de 2, 3 anos, porque não tinha condição. Porém, o Martins Peralva3, nosso amigo residente em Belo Horizonte, combinou comigo que quando Chico Xavier viesse de Uberaba para Pedro Leopoldo ele me avisaria ... porque como ele havia mudado há pouco tempo4, e estava indo e vindo para Pedro Leopoldo, para resolver problemas familiares, e muitas coisas, portanto...

 

5. Parece que ele tinha muitos problemas com a família, ele chegou a relatar alguma uma vez? Ele chegou a lhe falar desses problemas?

 

Não, não tínhamos esse tipo de conversa.

Foi quando o Martins Peralva falou comigo: “Quando ele vier a Pedro Leopoldo eu te aviso, para evitar de vocês irem a Uberaba, porque é muito longe e Pedro Leopoldo fica perto de Belo Horizonte.”

Na época que eu ia, havia muita aproximação e Chico me fez uma dedicatória (IMAGEM 1) que eu coloquei depois no meu livro Testemunhos de Chico Xavier, que até hoje me emociona, que até hoje me emociona, porque dá para notar o quanto havia de estima por parte dele, não é? Ele menciona isso.

A prezada irmã e distinta escritora Suely Caldas Schubert a cuja nobre inspiração e grande bondade passamos a dever os esclarecedores comentários que muito me sensibilizaram e instruíram nos textos deste livro, a homenagem do meu reconhecimento, rogando a Jesus continue a protegê-la e abençoá-la sempre em sua elevada missão de Paz e Amor, em nossa Seara de Luz.

Sempre reconhecidamente,

Chico Xavier

Uberaba, 27-3-87