Pular para o conteúdo principal

FÉ INABALÁVEL E RAZÃO - O SIGNIFICADO DE RELIGIÃO PARA ALLAN KARDEC



Com esse artigo, iniciaremos SÉRIE ESPECIAL com origem no artigo científico elaborado por Brasil Fernandes de Barros, Mestre e Doutorando em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC MINAS. E-mail: brasil@netinfor.com.br, publicado originalmente na Revista Interações, Belo Horizonte, Brasil, jan./jun. 2019.

Reputamos de importância significativa para os espírita, considerando que o tema ainda divide o movimento espírita.

Para possibilitar melhor comodidade à leitura, as postagens serão em dia sim, dia não.

Boa leitura!

 

  

RESUMO

Mais de 150 anos depois da codificação da doutrina espírita, ainda são frequentes os debates entre os seus fiéis a respeito do aspecto religioso do Espiritismo. A doutrina, codificada por Allan Kardec no século XIX, surgiu em meio a uma profusão de novas teorias e concepções científicas e filosóficas, tendo sido fortemente marcada pelo legado iluminista e pelos pensadores de sua época. O objetivo deste artigo é estabelecer um diálogo entre o conceito de Kardec sobre religião e alguns autores, tais como Benson Saler, Clifford Geertz, dentre outros. Para isto, num primeiro momento, discutiremos as origens do termo “religião” e seu conceito. Procuraremos entender, por meio de pesquisa bibliográfica, o porquê de Kardec ter afirmado que o Espiritismo não era uma religião, bem como investigaremos a sua perspectiva secular. Concluiremos com a maneira pela qual Kardec posicionava o Espiritismo em termos de Religião.

 

1 - INTRODUÇÃO

A partir dos fenômenos de 1848, vivenciados pelas irmãs Fox em Hydesville, nos Estados Unidos1, o Espiritismo tornou-se uma fonte que prometia oferecer respostas para uma série de questões da Ciência, da Filosofia e da Religião. O fenômeno das mesas girantes2 tornou-se uma febre na Europa e servia como diversão nos salões da alta sociedade. Diversos observadores se dedicaram aos experimentos e esperavam obter uma fundamentação científica para tais fenômenos, o que significava, em meados do século XIX, encontrar uma prova irrefutável para a sobrevivência do espírito após a morte. (ARAUJO, 2010, p. 119)

Entre os observadores vamos encontrar Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), eminente pedagogo francês discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que se tornou muito conhecido por seu pseudônimo de Allan Kardec, nome que adotou quando publicou “O Livro dos Espíritos”, a obra basilar do Espiritismo. Esse livro traz, logo na contracapa, a declaração de que o mesmo se trata de filosofia espiritualista (KARDEC, 2008, p. 3), algo sobre o qual os seus adeptos não têm dúvidas. Apesar disso, porém, hoje a terceira maior religião brasileira (IBGE, 2010), com 3,8 milhões de seguidores, se debate com uma questão de identidade no que tange ao seu aspecto religioso. Um grande número de adeptos tem questionado se o Espiritismo é ou não uma religião, a ponto de existirem movimentos não reconhecidos pelos órgãos unificadores do Espiritismo3, como o chamado espiritismo-científico ou filosófico-científico (CHAVES, 2013). Um dos pontos centrais dessa discussão é decorrente da afirmação de Kardec, que diz que o Espiritismo não é religião:

O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem consequências religiosas, como qualquer filosofia espiritualista; por isso mesmo, vai ter forçosamente as bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu, o título de sacerdote ou de sumo sacerdote. (KARDEC, 2016, p. 232).

 

Não obstante Kardec tenha dito que a doutrina espírita não fosse uma religião, ele acreditava, como veremos mais à frente, que a mesma deveria servir como elemento aglutinante às diversas religiões. Mas disse também, anos depois da publicação de “O Livro dos Espíritos”, em seu discurso em reunião pública, na noite de 1° de novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que "O Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto.4" (KARDEC, [1868] 5/(2007c), p. 491).

Quando iniciamos as nossas pesquisas sobre o Espiritismo, havia um desejo particular de identificar um “conceito de religião” que pudesse harmonizar-se de forma clara com o Espiritismo e, assim, oferecer um possível “alento” a essa discussão, que por tanto tempo tem se desenvolvido no meio espírita em relação ao seu aspecto religioso. Porém, essa busca confrontou-se logo em seus primeiros passos, a partir da afirmação de Benson Saler:

 

Como indica a literatura acadêmica sobre religião, não há critérios seguros, bem definidos e universalmente aceitos para diferenciar a religião da não-religião. (Alguns acadêmicos, de fato, propuseram rótulos como "quase-religiões" ou "semi-religiões" para indicar que vários fenômenos complexos se assemelham às religiões de alguma forma, mas não o suficiente em seus aspectos para justificar o rótulo indefinido de "religião".) Além disso, algumas religiões apresentam um volume maior de características típicas às quais associamos no nosso modelo geral de religião do que outras, e talvez uma maior elaboração dessas características do que é o caso em outros lugares. Algumas religiões, por assim dizer, são "mais religiosas" do que outras. (SALER, 2000, p. xiv, tradução nossa).6

 

As afirmações de Saler nos levaram a constatações com significados inquietantes; primeiro, não há uma definição clara e universalmente aceita sobre o conceito de religião; segundo, há margens de discussão importantes para o assunto, as quais vislumbram a necessidade de compreender melhor o conceito de religião. Ao afirmar que possam existir religiões que são mais ou menos religiosas do que outras, Saler abre um leque para incluir o Espiritismo como uma religião, e de fato tem sido tratada como tal, conforme já afirmamos anteriormente, devido à maioria dos Espíritas, como demonstra o censo do IBGE de 2010. Apesar disso, existem discussões teológicas entre os seus seguidores que têm dificuldades de assumir essa postura de religião constituída, a partir das definições de Kardec, que não deixam clara a questão.

Com vistas a colaborar com essa discussão, este artigo tem a intenção de oferecer um referencial teórico, metodologicamente distanciado das paixões que envolvem aqueles que se dedicam à discussão do aspecto “religioso” do Espiritismo, de forma a fornecer reflexões a respeito do ambiente histórico em que essa doutrina foi cunhada. Para tentar compreender a questão, pretendemos, portanto, estabelecer um breve diálogo com os pensamentos de Kardec acerca do conceito de religião. É importante frisar, porém, que este diálogo será estabelecido em relação à época e também levando-se em consideração como a cultura7 influenciou o seu pensamento e o de seus contemporâneos. Falamos aqui de cultura, porque foi a partir de um modismo extremamente popular, denominado “as mesas girantes”, que surgiu o Espiritismo (KARDEC, 1987, p. 68).

 

 

1 Embora seja praticamente impossível determinar a data de início da história do Espiritismo, convencionou-se que o ano de 1848 constitui seu ponto de partida. A 31 de março, na casa da família Fox, na aldeia de Hydesville, condado de Wayne, Estado de Nova York, nos Estados Unidos da América do Norte, ruídos insólitos surgiram de maneira ostensiva e uma série de fenômenos chamou a atenção da sociedade da época. Das paredes vinham pancadas ou ruídos que pareciam provir de uma inteligência oculta desejosa de comunicar-se. As irmãs Katherine e Margareth Fox, duas meninas de 11 e 14 anos, que aparentemente eram a causa dos acontecimentos, foram dormir no quarto de seus pais, mas os ruídos aumentaram; a irmã mais nova começou a bater palmas e da parede ouviu-se o mesmo número de batidas. A menina fazia perguntas e a parede respondia com um golpe para dizer “sim” e com dois golpes para dizer “não”. A partir destes eventos, por todos os Estados Unidos, e posteriormente na Europa, espalhou-se a febre das evocações dos chamados espíritos batedores. (DOYLE, apud ARAUJO, 2010, p. 119).

2 Mesas girantes, mesas falantes ou dança das mesas eram um tipo de sessão espírita em que os participantes se sentavam ao redor de uma mesa, colocavam as mãos sobre ela e esperavam que ela se movimentasse. Populares no século XIX, acreditava-se que as mesas serviriam como meio de comunicação com supostos espíritos. Alfabetos também eram colocados sobre as mesas e elas se inclinavam para a letra adequada, soletrando palavras e frases.

3 Como órgãos unificadores do Espiritismo nos referimos ao movimento organizado pelos espíritas a partir da FEB – Federação Espírita Brasileira.

4 Há divergências nas diversas traduções, alguns usaram o verbo “ufanar”, outros, porém o verbo “vangloriar” ou ainda “gloriar”. No original em francês usou-se o vocábulo “glorifions”: Le lien établi par une religion, quel qu'en soit l'objet, est donc un lien essentiellement moral, qui relie les coeurs, qui identifie les pensées, les aspirations, et n'est pas seulement le fait d'engagements matériels qu'on brise à volonté, ou de l'accomplissement de formules qui parlent aux yeux plus qu'à l'esprit. L'effet de ce lien moral est d'établir entre ceux qu'il unit, comme conséquence de la communauté de vues et de sentiments, la fraternité et la solidarité, l'indulgence et la bienveillance mutuelles. C'est en ce sens qu'on dit aussi: la religion de l'amitié, la religion de la famille. S'il en est ainsi, dira-t-on, le Spiritisme est donc une religion? Eh bien, oui! sans doute, Messieurs; dans le sens philosophique, le Spiritisme est une religion, et nous nous en glorifions, parce que c'est la doctrine qui fonde les liens de la fraternité et de la communion de pensées, non pas sur une simple convention, mais sur les bases les plus solides: les lois mêmes de la nature. (KARDEC, 1868, p. 359).

5 As referências relativas à Revista Espírita, geralmente são tomadas pelo ano original de sua publicação, e isto torna-se relevante na medida em que, para o desenvolvimento de nosso trabalho, estamos em alguns momentos analisando o desenvolvimento do pensamento de Kardec, do ponto de vista cronológico. Portanto, doravante, quando se tratar da Revista Espírita editada por Kardec, citaremos o ano original da revista seguido do ano de sua versão atual (2007) publicada pela FEB com a(s) página(s) correspondente(s) na tradução de Evandro Noleto Bezerra, da qual foi tomada por referência. Este comportamento será adotado, inclusive nas referências ao final deste trabalho.

6 As the scholarly literature on religion indicates, there are no sure, sharp, and universally accepted criteria for marking off religion from not-religion. (Some scholars, indeed, have proposed such labels as "quasi-religions" or "semi-religions" to indicate that various complexes of phenomena resemble religions in some ways, but not sufficiently in other respects to justify the unqualified label "religion.") Further, some religions exhibit more of the typicality features that we associate with our general model of religion than do others, and perhaps greater elaboration of these features than is the case elsewhere. Some religions, in a manner of speaking, are "more religious" than others.

 

 

Comentários

  1. Caro amigo Jorge, parabenizo pela iniciativa de dispor aos leitores do canteiro discussão tão importante. Independente da conclusão do autor, o qual ainda não foi possível identificar o entendimento pessoal (e talvez nem o declare), julgo que trazer à baila mais um estudo a respeito é de extrema importância. Afinal em Espiritismo uma das mais importantes virtudes é se manter uma conduta crítica e que consegue discutir sobre qualquer tema sem receios de quaisquer naturezas. Roberto Caldas

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

“BANDIDO MORTO” É CRIME A MAIS

  Imagens da internet    Por Jorge Luiz   A sombra que há em mim          O Espírito Joanna de Ângelis, estudando o Espírito encarnado à luz da psicologia junguiana, considera que a sociedade moderna atinge sua culminância na desídia do homem consigo mesmo, que se enfraquece tanto pelos excessos quanto pelos desejos absurdos. Ao se curvar à sombra da insensatez, o indivíduo negligencia a ética, que é o alicerce da paz. O resultado é a anarquia destrutiva, uma tirania do desconcerto que visa apagar as memórias morais do passado. Os líderes desse movimento são vultos imaturos e alucinados, movidos por oportunismo e avidez.

"FOGO FÁTUO" E "DUPLO ETÉRICO" - O QUE É ISSO?

  Um amigo indagou-me o que era “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”. Outra explicação encontramos no dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

OS FANATISMOS QUE NOS RODEIAM E NOS PERSEGUEM E COMO RESISTIR A ELES: FANATISMO, LINGUAGEM E IMAGINAÇÃO.

  Por Marcelo Henrique Uma mensagem importante para os dias atuais, em que se busca impor uma/algumas ideia(s), filosofia(s) ou crença(s), como se todos devessem entender a realidade e o mundo de uma única maneira. O fanatismo. Inclusive é ainda mais perigoso e com efeitos devastadores quando a imposição de crenças alcança os cenários social e político. Corre-se sérios riscos. De ditaduras: religiosas, políticas, conviviais-sociais. *** Foge no tempo e na memória a primeira vez que ouvi a expressão “todos aprendemos uns com os outros”. Pode ter sido em alguma conversa familiar, naquelas lições que mães ou pais nos legam em conversas “descompromissadas”, entre garfadas ou ações corriqueiras no lar. Ou, então, entre algumas aulas enfadonhas, com a “decoreba” de fórmulas ou conceitos, em que um Mestre se destacava como ouro em meio a bijuterias.

REENCARNAÇÃO E O MUNDO DE REGENERAÇÃO

“Não te maravilhes de eu te dizer: É-vos necessário nascer de novo.” (Jesus, Jo:3:7) Por Jorge Luiz (*)             As evidências científicas alcançadas nas últimas décadas, no que diz respeito à reencarnação, já são suficientes para atestá-la como lei natural. O dogmatismo de cientistas materialistas vem sendo o grande óbice para a validação desse paradigma.             Indubitavelmente, o mundo de regeneração, como didaticamente classificou Allan Kardec o estágio para as transformações esperadas na Terra, exigirá novas crenças e valores para a Humanidade, radicalmente diferenciada das existentes e que somente a reencarnação poderá ofertar, em face da explosiva diversidade e complexidade da sociedade do mundo inteiro.             O professor, filósofo, jornalista, escritor espírita, J. Herc...

A PROPÓSITO DO PERISPÍRITO

1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos Há, no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida, gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo, corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao “perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao espírito”, [1] o qual, porque “possui certas propriedades da matéria, se une molécula por molécula com o corpo”, [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso de sua evolução, que “modela”, “aperfeiçoa”, “desenvolve”, “completa” e “talha” o corpo humano.[3] O conceito kardeciano da semimaterialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção mais densa do perispírito viabiliza sua união intramolecular com a matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção menos grosseira conserva mais flexibilidade e, d...