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CAMINHOS QUE LEVAM A JESUS


         
Paulo, na estrada de Damasco. Ilustração.

           Allan Kardec não se permite perder tempo em justificar a escolha da Doutrina Espírita quando estabelece Jesus como seu ícone espiritual, na qualidade de guia e modelo da humanidade. Na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo esclarece de pronto que havia aspectos envolvidos em sua passagem pela Terra que deveriam ser discutidos e até polemizados, mas a sua figura como líder espiritual deveria sobrepor a todas essas variáveis doutrinárias e admitir-se que o seu “ensino moral” não deixa margem de discussão entre as inúmeras abordagens cristãs, todas concordes a esse respeito.

          Nada mais aceito do que a sua afirmativa de “Caminho, Verdade e Vida”, com a assertiva de que “ninguém vai ao Pai senão por mim”, palavras que dispensam alusões. Tanto tempo depois ainda causa emoção lembrar a sua retórica tão rebuscada, que tanto serviu à compreensão daqueles tempos quanto ainda gera em nossas mentes a necessidade do esforço para o entendimento mais apropriado.
          É a falta desse entendimento que permite que o disputemos. Desejamos vestir camisas em seu discurso e com isso ferimos a essência de Sua mensagem. Por si só o Cristianismo é uma proposta humana, pouco tem a ver com o Cristo, aliás, foi exatamente essa compreensão que o fez predizer a necessidade de “um outro” Consolador que viria “ensinar todas as coisas e lembrar o que ele próprio havia dito, porque teria sido esquecido”. Jesus sabia que o quanto as interpretações fariam mal as suas sentenças.
          Apesar das limitações de interpretação das palavras que levam ao cumprimento de suas indicações de caminho, fator que geram livres opções de credo entre os muitos cristãos, a sua recomendação é clara. Determinou o respeito filial, a prece ao desafeto, o apoio ao desvalido, o perdão à ofensa, a outra face ao mal, o amor a Deus sobre Todas as Coisas e ao próximo como a Si Mesmo. Não deixou nenhum espaço para que se discutam doutrinas em torno dessas recomendações. As controvérsias que depositemos sob esse legado vêm na conta dos personalismos desnecessários presente naqueles que querem inventar a roda utilizando o Seu nome.
          O Jesus que nessa época se homenageia como o nascituro de vinte séculos precisa que essa comemoração se constitua no esforço continuado do seu nascimento diário. Certamente é uma boa idéia que a humanidade Ocidental se agrupe para as homenagens do dia 25 de dezembro, abre-se um portal para a sua presença entre nós. Se a palavra Natal remete a Jesus, o convite é para trocarmos o “bom dia” por “Feliz Natal” em cada amanhecer sem o receio de estar atrasado ou antecipado no calendário.
          E se quisermos uma forma de fazer frente ao seu convite de “Caminho, Verdade e Vida” fica a sugestão de agirmos com honestidade, generosidade, leveza, respeito, acolhimento, alegria, bom humor, disciplina, compaixão, seriedade, desprendimento, responsabilidade. Diante das vacilações nossas de cada dia lembremo-nos de sua orientação sempre eficaz de ser “o sal da terra e a luz do mundo”, de olhar “os pássaros do céu e os lírios dos campos”. O caminho ao encontro de Jesus é seguir os sinais que Ele deixou. Feliz natal. 

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