terça-feira, 7 de julho de 2015

VISITANDO O FUTURO¹



Por Roberto Caldas (*)


            Deixar para amanhã é uma atitude que define um perfil de encanto pelo descanso antecipado. Toda vez que algo é adiado é porque provavelmente ficou difícil a sua realização e o momento que assim define parece mais agradável do que seria cumprir com o compromisso. Deixar de fazer algo que exija esforço, em troca de alguns momentos de relativo sossego, faz o tempo escoar sem mudança significativa. O que deixamos de produzir mantém a paisagem exatamente como a percebíamos antes da decisão de agir com procrastinação.
            Observando o quadro que está a nossa frente não é necessário muito esforço de compreensão para vermos que o que está posto nessa realidade é apenas uma consequência das atitudes que adotamos no passado. Fosse a vida finita e a linha do tempo tropeçaria numa instância de inoperância desastrosa e arrependimentos cruéis. Sendo a vida infinita, e múltiplas as oportunidades, fronteamos com repetições desagradáveis que consolidam a visão de que a preguiça é inimiga visceral do espírito de conquista. Individual e coletivamente colhemos o fruto de uma semeadura que nos responsabiliza pelos resultados atuais.

            Limpa e secamente, Allan Kardec questiona (LE, q. 167) “qual o objetivo da reencarnação?”, ao que respondem os Mentores, “Expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isso onde estaria a justiça?”. Significa que de toda forma haveremos de galgar platôs de evolução, notícia deveras agradável para uma civilização que agoniza com os horrores impostos pelo desfile de incompetência, desonestidade e violência. Apesar de tudo que vemos acontecer em todos os recantos do planeta, ainda é possível antever que outros dias de glória estão facultados ao planeta.
            Ressalte-se que a evolução dos mundos é mais lenta que aquela empreendida individualmente, pois há uma diferença de postura entre as pessoas que atrai para baixo a média do crescimento espiritual dos globos. A razão das convulsões morais que nos torna perplexos, como se estivéssemos em nau sem comando, está proposta na questão 932 (LE) que trata da clara influência dos maus sobre os bons: “É pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos; quando estes últimos quiserem, dominarão”.
            Buscar a vocação que grita alto em nossa consciência espiritual é a forma mais adequada de fazermos valer a encarnação que propicia esse nosso encontro com o mundo. Ter a coragem de parar os lamentos que nos fazem vitimados pela vida. Levantar a cabeça depois de resultados inesperados. Questionar a criatividade diante dos impedimentos de crescimento material, na busca de soluções. Assumir as próprias fraquezas resistindo à facilidade de inculpar a terceiros pelo infortúnio que nos rodeia.

            Os homens que fizeram a diferença em suas vidas e esculpiram as delícias que fruem na atualidade são aqueles que não tergiversaram a necessidade das lutas que enfrentavam e conquistaram a vitória, enquanto contribuíram com a humanidade em seu crescimento. Aqueles que anteviram o futuro, mas não esperaram por tempo melhor, lançando-se ao desafio. Saber fazer a hora é desejar o futuro sem descansar hoje. A construção exige noção de esperança e visão de amanhã, mas impõe a resistência em suportar as dores de agora.   

¹ editorial do programa Antena Espírita de 05.07.2015.

(*) escritor, palestrante, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

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