Pular para o conteúdo principal

A SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO ESPÍRITA (II)

Por Jorge Luiz

    Dando sequência ao tema em questão, inicialmente abordado no “canteiro” de 24 de junho último, comentarei as três etapas criadas por Peter Drucker (1909-2005), com o propósito de responder as cinco clássicas perguntas: Qual a nossa missão? Quem é o nosso cliente? O que o nosso cliente valoriza? Quais são nossos resultados? e Qual é o nosso plano? Esse processo de autoavaliação foi desenvolvido por Drucker para as empresas do Terceiro Setor, no qual se inserem as Instituições Espíritas.
      O método parte do princípio que há mentes e corações envolvidos, portanto é uma aventura intelectual e emocional, e estabelece através do diálogo, uma discussão sobre o futuro e sobre como uma organização irá moldá-lo: é uma jornada para o futuro. Naturalmente que não tenho a intenção de abordar de forma detalhada todo o processo, mas pelo menos apresentar um esboço das etapas que compõem essa ferramenta.


            1ª Etapa – Preparando-se para a Autoavaliação:

            As providências dessa etapa são determinantes para a construção do processo bem-sucedido de autoavaliação. O principal Dirigente da Casa Espírita assumirá o compromisso com todos os passos que os delineia, desde as reuniões iniciais até a aprovação do Plano. Assim se constituirá essa etapa:


  • Passo 1: Obter o compromisso da Diretoria;
  • Passo 2: Escolher os participantes e definir o plano do processo;
  • Passo 3: Formar a equipe de avaliação;
  • Passo 4: Selecionar um facilitador e um redator;
  • Passo 5: Anunciar o processo, convidar os participantes e confirmar as datas principais;
  • Passo 6: Realizar uma sondagem ambiental e coletar os dados internos.
            É importante frisar que nessa etapa as abordagens dos membros da diretoria e dos colaboradores apresentaram os mais diversos graus de compreensão, entusiasmo e preocupação. O ideal, no entanto, é que todos os que forem chamados a participar apoiem incondicionalmente o desafio da autoavaliação.

            2ª Etapa – Conduzindo o processo de Autoavaliação:

            Nessa etapa a autoavaliação é levada para dentro da organização, tornando-a parte do dia-a-dia de muitos participantes, e para fora da organização, em busca do que seus frequentadores valorizam. Nessa fase as entrevistas e as discussões facilitadas orientam os participantes a responder às Cinco Perguntas e gerará um relatório de forma sintética com as conclusões dessa jornada. Vejam os passos:
  • Passo 1: Orientar os participantes; distribuir os formulários de pesquisa e um resumo da sondagem ambiental;
  • Passo 2: Conduzir uma discussão em grupo sobre as três perguntas primeiras perguntas;
  • Passo 3: Realizar pesquisa de opinião e entrevistas intensivas com os frequentadores;
  • Passo 4: Conduzir uma discussão em grupo sobre a quarta e a quinta perguntas;
  • Passo 5: Preparar e distribuir o relatório final.
 3ª Etapa – Concluindo o Plano

           Essa etapa é dedicada a finalizar a missão da Instituição e elaborar o plano. Termina com a oportunidade de avaliar como o processo intensificou seu senso de propósito, ajudou a esclarecer suas metas e provou ser uma aventura de autodescoberta organizacional.
São os seguintes os cinco passos dessa etapa:
  • Passo 1: Revisar a missão (caso necessário); confirmar metas e resultados;
  • Passo 2: Desenvolver os objetivos, os passos das ações e o orçamento (administração);
  • Passo 3: Preparar o plano para apresentar à Diretoria;
  • Passo 4: Apresentar a missão, as metas e o orçamento para aprovação da diretoria;
  • Passo 5: Distribuir o plano, confirmar as responsabilidade e as datas para a avaliação inicial.
            O que pretendo com isso? Pretendo demonstrar que ao longo do tempo as dificuldades inerentes à governança das Casas Espíritas forma estudadas, analisadas e avaliadas de forma pontual. Isso não quer dizer, no entanto, que a metodologia não trouxe resultados. Claro que trazem resultados.
             As reflexões com a teoria druckeriana abre a possibilidade que teremos de autoavaliar as Instituições Espíritas de uma forma integral, ouvindo todos os seus atores, na busca de se encontrar a Sustentabilidade de Gestão, não só econômico-financeira, mas organizacional, participativa, motivacional, mas acima de tudo Doutrinária.
            Repito, a administração espírita existe e busca uma identidade. O seu modelo ainda é baseado em um empirismo incompatível com a contemporaneidade e com os desafios que ela enfrenta.
            A administração dessas organizações pode ser feita por voluntários e profissionais contratados para tal fim que serão responsáveis pelos objetivos e pelo desempenho. Allan Kardec já contempla essa necessidade no item IX, das Vias e Meios, na Constituição do Espiritismo em “Obras Póstumas.” Leiam:

“... se não dispuserem de tempo, não poderão consagrá-lo àquelas funções. Importa, pois, que sejam retribuídos, assim como o pessoal administrativo. A Doutrina com isso ganhará em força, em estabilidade, em pontualidade, do mesmo passo que constituirá um meio de prestar serviços a pessoas que dela necessite.”

            Seguindo a linha de raciocínio de Kardec, Drucker atesta que a sustentabilidade financeira das Instituições do Terceiro Setor, ponto nevrálgico das nossas Instituições, tem que ser fomentada pelos seus clientes. No contexto espírita, os frequentadores, o que concordo, embora sabendo da polêmica que essa afirmativa possa gerar.
            Polêmica desnecessária. No Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, inserido no capítulo XXX em “O Livro dos Médiuns”, artigo 15, lê-se: “Para prover às despesas da Sociedade será cobrada uma cota anual de 24 francos dos titulares e de 20 francos dos sócios livres. Os membros titulares pagarão também uma joia de 10 francos quando de sua admissão. A cota é paga integralmente para o ano em curso.”
            Nos últimos anos a manutenção financeira de um expressivo número das Casas Espíritas passou a depender da campanha do Governo do Estado do Ceará “Sua Nota Vale Dinheiro”. Soube recentemente que a Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará está em via de mudar o procedimento dessa campanha. O CPF ou CNPJ será impostado pelo próprio contribuinte no momento da compra como já acontece em outros Estados. Um exemplo é o Distrito Federal onde os valores acumulados são compensados em Impostos do próprio contribuinte. No Sul do Estado quando ocorreu mudança na sistemática foi um “Deus nos acuda” para os Centros Espíritas.
            Como será em nossa realidade? Só o tempo dirá!
            Allan Kardec já advertia a esse respeito em Obras Póstumas, no capítulo já citado: “Assentar despesas permanentes e regulares sobre recursos eventuais, implicaria falta de previdência, que mais tarde haveria de deplorar.”
            Para um melhor entendimento sobre essas ideias sugiro a leitura da obra “Terceiro Setor – Ferramenta de Autoavaliação para empresas”, de Peter Drucker, editora Futura, bem como todo capítulo “Constituição do Espiritismo”, inserido em Obras Póstumas.

Comentários

  1. Excelente artigo! Principalmente no que diz respeito a questão da contribuição financeira dentro da Casa Espírita, assunto sempre polêmico e de dificil discussão.
    Parabéns pela escolha do tema!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

A DOR DO FEMINICÍDIO NÃO COMOVE A TODOS. O QUE EXPLICA?

    Por Ana Cláudia Laurindo A vida das mulheres foi tratada como propriedade do homem desde os primevos tempos, formadores da base social patriarcal, sob o alvará das religiões e as justificativas de posses materiais em suas amarras reprodutivas. A negação dos direitos civis era apenas um dos aspectos da opressão que domesticava o feminino para servir ao homem e à família. A coroação da rainha do lar fez parte da encenação formal que aprisionou a mulher de “vergonha” no papel de matriz e destituiu a mulher de “uso” de qualquer condição de dignidade social, fazendo de ambos os papéis algo extremamente útil aos interesses machistas.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

EU POSSO SER MANIPULADO. E VOCÊ, TAMBÉM PODE?

  Por Maurício Zanolini A jornalista investigativa Carole Cadwalladr voltou à sua cidade natal depois do referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia (Brexit). Ela queria entender o que havia levado a maior parte da população da pequena cidade de Ebbw Vale a optar pela saída do bloco econômico. Afinal muito do desenvolvimento urbanístico e cultural da cidade era resultado de ações da União Europeia. A resposta estava no Facebook e no pânico causado pela publicidade (postagens pagas) que apareciam quando as pessoas rolavam suas telas – memes, anúncios da campanha pró-Brexit e notícias falsas com bordões simplistas, xenofobia e discurso de ódio.

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

RECORDAR PARA ESQUECER

    Por Marcelo Teixeira Esquecimento, portanto, como muitos pensam, não é apagamento. É resolver as pendências pretéritas para seguirmos em paz, sem o peso do remorso ou o vazio da lacuna não preenchida pela falta de conteúdo histórico do lugar em que reencarnamos reiteradas vezes.   *** Em janeiro de 2023, Sandra Senna, amiga de movimento espírita, lançou, em badalada livraria de Petrópolis (RJ), o primeiro livro; um romance não espírita. Foi um evento bem concorrido, com vários amigos querendo saudar a entrada de Sandra no universo da literatura. Depois, que peguei meu exemplar autografado, fui bater um papo com alguns amigos espíritas presentes. Numa mesa próxima, havia vários exemplares do primeiro volume de “Escravidão”, magistral e premiada obra na qual o jornalista Laurentino Gomes esmiúça, com riqueza de detalhes, o que foram quase 400 anos de utilização de mão de obra escrava em terras brasileiras.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

O GRANDE PASSO

                    Os grandes princípios morais têm características de universalidade e eternidade, isto é, servem para todos os quadrantes do Universo, em todos os tempos.          O exercício do Bem como caminho para a felicidade é um exemplo marcante, sempre evocado em todas as culturas e religiões:          Budismo: O caminho do meio entre os conflitos e a dor está no exercício correto da compreensão, do pensamento, da palavra, da ação, da vida, do trabalho, da atenção e da meditação.          Confucionismo: Não se importe com o fato de o povo não conhecê-lo, porém esforce-se de modo que possa ser digno de ser conhecido.          Judaísmo: Não faça ao próximo o que não deseja para si.     ...

A ESTUPIDEZ DA INTELIGÊNCIA: COMO O CAPITALISMO E A IDIOSSUBJETIVAÇÃO SEQUESTRAM A ESSÊNCIA HUMANA

      Por Jorge Luiz                  A Criança e a Objetividade                Um vídeo que me chegou retrata o diálogo de um pai com uma criança de, acredito, no máximo 3 anos de idade. Ele lhe oferece um passeio em um carro moderno e em um modelo antigo, daqueles que marcaram época – tudo indica que é carro de colecionador. O pai, de maneira pedagógica, retrata-os simbolicamente como o amor (o antigo) e o luxo (o novo). A criança, sem titubear, escolhe o antigo – acredita-se que já é de uso da família – enquanto recusa entrar no veículo novo, o que lhe é atendido. Esse processo didático é rico em miríades que contemplam o processo de subjetivação dos sujeitos em uma sociedade marcada pela reprodução da forma da mercadoria.