Pular para o conteúdo principal

EDUCAÇÃO: LIBERTAÇÃO E SEGURANÇA

 

Por Doris Gandres

“Um povo educado é fácil de governar, difícil de dominar e impossível de escravizar”. George Washington

“É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade”. Allan Kardec

Extremamente lúcida a afirmativa do nosso mestre espírita, Allan Kardec. A partir do momento em que conseguimos compreender a grande diferença entre instrução e educação, não podemos pensar diferentemente – instrução é o acúmulo de conhecimento, de dados em geral, de cultura; educação é a boa utilização de todo e qualquer conhecimento adquirido.

Nesse capítulo de Obras Póstumas, Kardec ainda afirma que “o progresso individual não consiste apenas no desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos (...) pois há homens que usam mal o seu saber. O progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existem (...) Muito mal pode fazer o homem de inteligência cultivada; aquele que se houver adiantado moralmente só o bem fará”.

Lamentavelmente temos constatado no decorrer do tempo, e ainda hoje, a veracidade dessas assertivas. Encontramos ainda, entre as mais diferentes categorias e situações, indivíduos ostentando altos cargos, títulos pomposos, diplomas diversos, senhores de vasta cultura, praticando atos os mais assombrosos, infringindo todo conceito de ética, de moral e de fraternidade.

E hoje ainda, aliás mais ainda, nosso empenho na implantação de meios de educação esclarecida e bem compreendida tem que se intensificar, em todas as áreas possíveis a cada um de nós, sempre que possível e ao máximo possível. Já compreendemos que a instrução, geralmente, cabe aos institutos de ensino de todos os níveis; porém a educação está intimamente ligada à família. Ao receber um reencarnante, os pais se acham comprometidos com a missão de ajudá-lo a desenvolver-se da melhor forma possível, tanto no domínio físico e intelectual, quanto, sobretudo, no moral. Diante dessa oportunidade, na qual muito frequentemente reencontramos desafetos, espíritos com os quais precisamos estabelecer relações afetuosas ou, pelo menos, amenas, dissipando ressentimentos e mágoas originadas no passado, cabe-nos não medir esforços para oferecer a esses irmãos as melhores condições ao nosso alcance para proporcionar-lhes a educação fundamental e indispensável ao seu crescimento espiritual, quaisquer sejam as suas tendências inatas.

A sábia declaração de George Washington, renomado e respeitado líder da nação norte-americana, leva-nos a considerar com mais atenção a questão da educação, particularmente em nosso País, sem levar em conta, neste estudo, tantos outros padecendo do mesmo problema. Durante séculos cultivou-se a ignorância das massas, primeiramente negando-lhes instrução adequada, pois só se ensinava a ler, a escrever e a contar, além do catecismo católico, visto serem os jesuítas que se dedicavam a essa tarefa. Foi somente após a chegada da família imperial ao Brasil (1808) que foi criada a primeira escola de nível reconhecidamente secundário e superior.

A educação propriamente dita, responsabilidade da família, ficava assim prejudicada, considerando-se que os próprios pais conservavam ainda fortes traços de entendimento embotado e alterado pelo medo enraizado através das violências sofridas durante séculos, ou melhor dizendo, milênios...

Como disse Washington, um povo educado é difícil de dominar e impossível de escravizar; portanto, ainda hoje, em muitíssimos casos, cultivar a ignorância dá uma aparente sensação de poder e segurança, dá a ilusória garantia de dominação sem risco de reação. Poder e garantia ilusórios sim, porque também aos que se julgam inatingíveis e poderosos chega o momento da verdade, que a imortalidade revela. Que se leia em nosso O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. II, item 8, o depoimento da uma rainha de França (Havre,1863): “Rainha fui entre os homens, e rainha pensei chegar ao reino dos céus. Mas que desilusão! E que humilhação(...)”.

Lembramos ainda Kardec, em O Livro dos Espíritos, q.685a, quando adverte: “Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? (...) Quando a arte da educação for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência (...) Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos”.

Nada mais sábio e coerente se pode acrescentar a essas assertivas ainda tão atuais, atuais em função do momento que estamos vivendo, da fase transitória em que estamos inseridos e que pede de nós muita reflexão, mas também muita ação, ação lúcida e fraterna, contudo prática, sem falsos subterfúgios de que “ignorar o mal é não alimentá-lo” – ignorasse Jesus o mal, não o enfrentasse, e estaríamos ainda nos arrastando entre conceitos e preconceitos arcaicos e frequentemente cruéis e injustos. Disse o Mestre: “Seja o vosso falar sim, sim – não, não”.

 

 

 

Nota: ver questão 573 de O Livro dos Espíritos

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

SOBRE A INSISTÊNCIA EM QUERER CONTROLAR AS MULHERES

  Gravura da série O Conto da Aia, disponível na Netflix Por Maurício Zanolini Mulheres precisam se casar com homens intelectualmente e financeiramente superiores a elas ou o casamento não vai durar. Para o homem, a esposa substitui a mãe nos cuidados que ele precisa receber (e isso inclui cozinhar, lavar, passar e limpar a casa). Ao homem, cabe o papel de prover para que nada falte no lar. O marido é portanto a cabeça do casal, enquanto a mulher é o corpo. Como corpo, a mulher deve ser virtuosa e doce, bela e recatada, sem nunca ansiar por independência. E para que o lar tenha uma atmosfera agradável, é importante que a mulher sempre cuide de sua aparência e sorria.

ANÁLISE DA FIGUEIRA ESTÉRIL E O ESTUDO DA RELIGIÃO

                 Por Jorge Luiz            O Estudo da Religião e a Contribuição de Rudolf Otto O interesse pela história das religiões   remonta a um passado muito distante e a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século XIX. Dentre os trabalhos mais robustos sobre a temática, notabiliza-se o de Émile Durkheim, As Formas Elementares da Via Religiosa.             Outro trabalhos que causou repercussão mundial foi o de Rudolf Otto, eminente teólogo luterano alemão, filósofo e erudito em religiões comparadas. Otto optou por ser original e abdicou de estudar as ideias sobre Deus e religião e aplicou suas análises das modalidades da experiência religiosa. Ao fazer isso, Otto conseguiu esclarecer o conteúdo e o caráter específico dessa experiência e negligenciou o lado racional e especulativo da religião, sempre...

PUREZA ENGESSADA

  Por Marcelo Teixeira Era o ano de 2010, a Cia. de teatro da qual Luís Estêvão faz parte iria apresentar, na capital de seu Estado, uma peça teatral que estava sendo muito elogiada. Várias cidades de dois Estados já haviam assistido e aplaudido a comovente história de perdão e redenção à luz dos ensinamentos espíritas. A peça estreara dez anos antes. Desde então, teatros lotados. Gente espírita e não espírita aplaudindo e se emocionando. E com a aprovação de gente conhecida no movimento espírita! Pessoas com anos de estrada que, inclusive, deram depoimento elogiando o trabalho da Cia. teatral.

UM POUCO DE CHICO XAVIER POR SUELY CALDAS SCHUBERT - PARTE II

  6. Sobre o livro Testemunhos de Chico Xavier, quando e como a senhora contou para ele do que estava escrevendo sobre as cartas?   Quando em 1980, eu lancei o meu livro Obsessão/Desobsessão, pela FEB, o presidente era Francisco Thiesen, e nós ficamos muito amigos. Como a FEB aprovou o meu primeiro livro, Thiesen teve a ideia de me convidar para escrever os comentários da correspondência do Chico. O Thiesen me convidou para ir à FEB para me apresentar uma proposta. Era uma pequena reunião, na qual estavam presentes, além dele, o Juvanir de Souza e o Zeus Wantuil. Fiquei ciente que me convidavam para escrever um livro com os comentários da correspondência entre Chico Xavier e o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas 5, desencarnado há bem tempo, pai do Zeus Wantuil, que ali estava presente. Zeus, cuidadosamente, catalogou aquelas cartas e conseguiu fazer delas um conjunto bem completo no formato de uma apostila, que, então, me entregaram.

TRÍPLICE ASPECTO: "O TRIÂNGULO DE EMMANUEL"

                Um dos primeiros conceitos que o profitente à fé espírita aprende é o tríplice aspecto do Espiritismo – ciência, filosofia e religião.             Esse conceito não se irá encontrar em nenhuma obra da codificação espírita. O conceito, na realidade, foi ditado pelo Espírito Emannuel, psicografia de Francisco C. Xavier e está na obra Fonte de Paz, em uma mensagem intitulada Sublime Triângulo, que assim se inicia:

ALLAN KARDEC E A DOUTRINA ESPÍRITA

  Por Doris Gandres Deolindo Amorim, ilustre espírita, profundo estudioso e divulgador da Codificação Espírita, fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, em dado momento, em seu livro Allan Kardec (1), pergunta qual o objetivo do estudo de uma biografia do codificador, ao que responde: “Naturalmente um objetivo didático: tirar a lição de que necessitamos aprender com ele, através de sua vida e de sua obra, aplicando essa lição às diversas circunstâncias da vida”.

O ESTUDO DA GLÂNDULA PINEAL NA OBRA MEDIÙNICA DE ANDRÉ LUIZ¹

Alvo de especulações filosóficas e considerada um “órgão sem função” pela Medicina até a década de 1960, a glândula pineal está presente – e com grande riqueza de detalhes – em seis dos treze livros da coleção A Vida no Mundo Espiritual(1), ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier. Dentre os livros, destaque para a obra Missionários da Luz, lançado em 1945, e que traz 16 páginas com informações sobre a glândula pineal que possibilitam correlações com o conhecimento científico, inclusive antecipando algumas descobertas do meio acadêmico. Tal conteúdo mereceu atenção dos pesquisadores Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, Décio Iandoli Júnior, Juliane P. B. Gonçalves e Alessandra L. G. Lucchetti, autores do artigo científico Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence (tradução: “Aspectos históricos e culturais da glândula ...

O DÓLMEN DE KARDEC

31 de março de 1869  A llan Kardec ultimava as providências de mudança de endereço. A partir de 01 de abril de 1869, o escritório de expedição e assinatura da Revista Espírita seria transferido para a sede da Livraria Espírita, à rua de Lille, nº 7 , onde também, provisoriamente, funcionaria a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Na mesma data, os escritórios da redação e o domicílio pessoal de Allan Kardec seriam transferidos para a Avenue et Vila Ségur, nº 39, onde Kardec tinha casa de sua propriedade desde 1860. Entremeando onze e doze horas, quando atendia um caixeiro de livraria, caiu pesadamente ao solo, fulminado pela ruptura de um aneurisma. Aos 65 anos incompletos, desencarnava em Paris, Allan Kardec.             Sr. Muller, amigo de Kardec, um dos primeiros a chegar à sua residência, assim descreve em trecho de telegrama enviado: “Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento d...