segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

PAI PRA TODA OBRA


 

       Nada mais revelador que a paternidade. A maternidade eleva a mulher a uma condição de deidade. Ser pai torna o postulante ainda mais humano. Se antes de sê-lo cometia erros, doravante os cometerá ainda mais, pois agora terá mais um motivo para errar, um novo ser que não fazia parte de sua rotina e que já chega modificando-a por completo. Afinal ninguém nasce sabendo exatamente o que fazer nesse particular até ser chamado para tal responsabilidade.

Coadjuvante no início da tarefa, respeitada a grandiosa missão nutridora da mãe, deve se iniciar na arte dos primeiros cuidados do bebê e dessa forma aprender os mecanismos das trocas de fraldas e a engenharia de segurar aquele corpinho frágil com habilidade crescente, sem ensaiar desculpas para adiar o treino. Enquanto à mulher coube uma adaptação natural de 9 meses, aquela criatura lhe caiu no colo de forma a contrariar todas as lições aprendidas no período de preparação do nascimento.
A “função-pai” precisa ser acionada tão logo se receba dos braços maternos o presente que conseguirá ser presente até o mais longínquo futuro que se possa planejar. Transforma-se numa relação direta, sem atravessadores e sequer depende da continuidade dos laços afetivos que permitiram a chegada do filho. O filho ou a filha é vínculo que o desgaste do tempo não permite definhar e no entra e sai dos relacionamentos modernos deve estar acima dos “amores eternos enquanto durem” que muitas vezes nem resistem ao tempo de uma gestação completa. O “compromisso-pai” vai além do compromisso esposo ou companheiro, uma vez posto a sua dissolução só acontece no desencarne de um dos elementos e ainda assim permanecerá durante toda a encarnação daquele que ficar no plano físico.
No campo das reciprocidades se diria que os filhos(as) são os maiores alimentadores das expectativas e perspectivas do seu pai. Cabe ao pai, no entanto planejar os passos daqueles até que tenham o controle de suas vidas. O Livro dos Espíritos (q. 208) trata dessa particularidade com o seguinte texto: “O Espírito dos pais não exerce influência sobre o do filho após o nascimento? – Exerce, e muito, pois, como já o dissemos, os Espíritos dos pais têm a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado”.
Humano que é, e mais se torna depois de transformar-se em pai, a pessoa investida dessa condição deve ter a tranquila consciência de que vai errar muitas vezes nos propósitos paternos. Mais que isso, precisa identificar os espaços de aprendizados que tais responsabilidades lhe dispõem, sem perder a noção do espaço que lhe cabe, principalmente pela clareza dos limites que a Natureza lhe confere, quando transforma os filhos, um dia crianças, em adultos que devem se tornar senhores de suas vidas.
É assim que a Bondade do Grande Pai empresta ao mundo uma mera cópia imperfeita, uma imagem desfigurada de sua Majestade, para a iniciação de todos os seres que chegam à Terra. Destacou para essa função a imagem do pai da terra, o provedor, o protetor, o educador, o palhaço e o equilibrista... pai para todas as obras.

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