Pular para o conteúdo principal

PAI PRA TODA OBRA


 

       Nada mais revelador que a paternidade. A maternidade eleva a mulher a uma condição de deidade. Ser pai torna o postulante ainda mais humano. Se antes de sê-lo cometia erros, doravante os cometerá ainda mais, pois agora terá mais um motivo para errar, um novo ser que não fazia parte de sua rotina e que já chega modificando-a por completo. Afinal ninguém nasce sabendo exatamente o que fazer nesse particular até ser chamado para tal responsabilidade.

Coadjuvante no início da tarefa, respeitada a grandiosa missão nutridora da mãe, deve se iniciar na arte dos primeiros cuidados do bebê e dessa forma aprender os mecanismos das trocas de fraldas e a engenharia de segurar aquele corpinho frágil com habilidade crescente, sem ensaiar desculpas para adiar o treino. Enquanto à mulher coube uma adaptação natural de 9 meses, aquela criatura lhe caiu no colo de forma a contrariar todas as lições aprendidas no período de preparação do nascimento.
A “função-pai” precisa ser acionada tão logo se receba dos braços maternos o presente que conseguirá ser presente até o mais longínquo futuro que se possa planejar. Transforma-se numa relação direta, sem atravessadores e sequer depende da continuidade dos laços afetivos que permitiram a chegada do filho. O filho ou a filha é vínculo que o desgaste do tempo não permite definhar e no entra e sai dos relacionamentos modernos deve estar acima dos “amores eternos enquanto durem” que muitas vezes nem resistem ao tempo de uma gestação completa. O “compromisso-pai” vai além do compromisso esposo ou companheiro, uma vez posto a sua dissolução só acontece no desencarne de um dos elementos e ainda assim permanecerá durante toda a encarnação daquele que ficar no plano físico.
No campo das reciprocidades se diria que os filhos(as) são os maiores alimentadores das expectativas e perspectivas do seu pai. Cabe ao pai, no entanto planejar os passos daqueles até que tenham o controle de suas vidas. O Livro dos Espíritos (q. 208) trata dessa particularidade com o seguinte texto: “O Espírito dos pais não exerce influência sobre o do filho após o nascimento? – Exerce, e muito, pois, como já o dissemos, os Espíritos dos pais têm a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado”.
Humano que é, e mais se torna depois de transformar-se em pai, a pessoa investida dessa condição deve ter a tranquila consciência de que vai errar muitas vezes nos propósitos paternos. Mais que isso, precisa identificar os espaços de aprendizados que tais responsabilidades lhe dispõem, sem perder a noção do espaço que lhe cabe, principalmente pela clareza dos limites que a Natureza lhe confere, quando transforma os filhos, um dia crianças, em adultos que devem se tornar senhores de suas vidas.
É assim que a Bondade do Grande Pai empresta ao mundo uma mera cópia imperfeita, uma imagem desfigurada de sua Majestade, para a iniciação de todos os seres que chegam à Terra. Destacou para essa função a imagem do pai da terra, o provedor, o protetor, o educador, o palhaço e o equilibrista... pai para todas as obras.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESTALOZZI E KARDEC - QUEM É MESTRE DE QUEM?¹

Por Dora Incontri (*) A relação de Pestalozzi com seu discípulo Rivail não está documentada, provavelmente por mais uma das conspirações do silêncio que pesquisadores e historiadores impõem aos praticantes da heresia espírita ou espiritualista. Digo isto, porque há 13 volumes de cartas de Pestalozzi a amigos, familiares, discípulos, reis, aristocratas, intelectuais da Europa inteira. Há um 14º volume, recentemente publicado, que são cartas de amigos a Pestalozzi. Em nenhum deles há uma única carta de Pestalozzi a Rivail ou vice-versa. Pestalozzi sonhava implantar seu método na França, a ponto de ter tido uma entrevista com o próprio Napoleão Bonaparte, que aliás se mostrou insensível aos seus planos. Escreveu em 1826 um pequeno folheto sobre suas ideias em francês. Seria quase impossível que não trocasse sequer um bilhete com Rivail, que se assinava seu discípulo e se esforçava por divulgar seu método em Paris. Pestalozzi, com seu caráter emotivo e amoroso, não era de ...

OS FILHOS DE BEZERRA DE MENEZES

                              As biografias escritas sobre Bezerra de Menezes apresentam lacunas em relação a sua vida familiar. Em quase duas décadas de pesquisas, rastreando as pegadas luminosas desse que é, indubitavelmente, a maior expressão do Espiritismo no Brasil do século XIX, obtivemos alguns documentos que nos permitem esclarecer um pouco mais esse enigma. Mais recentemente, com a ajuda do amigo Chrysógno Bezerra de Menezes, parente do Médico dos Pobres residente no Rio de Janeiro, do pesquisador Jorge Damas Martins e, particularmente, da querida amiga Lúcia Bezerra, sobrinha-bisneta de Bezerra, residente em Fortaleza, conseguimos montar a maior parte desse intricado quebra-cabeças, cujas informações compartilhamos neste mês em que relembramos os 180 anos de seu nascimento.             Bezerra casou-se...

ALLAN KARDEC, O DRUIDA REENCARNADO

Das reencarnações atribuídas ao Espírito Hipollyte Léon Denizard Rivail, a mais reconhecida é a de ter sido um sacerdote druida chamado Allan Kardec. A prova irrefutável dessa realidade é a adoção desse nome, como pseudônimo, utilizado por Rivail para autenticar as obras espíritas, objeto de suas pesquisas. Os registros acerca dessa encarnação estão na magnífica obra “O Livro dos Espíritos e sua Tradição História e Lendária” do Dr. Canuto de Abreu, obra que não deve faltar na estante do espírita que deseja bem conhecer o Espiritismo.