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BRANDURA COM ENERGIA


       


         É inegável que Jesus agia de forma branda, porém enérgica. Branda porque destituída de ranços, ódios, senso de perseguição ou vingança. Enérgica porque não se permitia em momento algum fugir do roteiro ético que desenhara ao largo dos inumeráveis milênios de evolução e crescimento até atingir a condição de conduzir os primeiros momentos de um planeta tornando-se seu mentor e guia (LE – q. 625).

          Relata-se que expulsou os vendilhões do templo (João II; 13 a 25), pois negociavam com as profundas esperanças da fé, algo inaceitável dentro do respeito absoluto pela crença das pessoas, mas os incluiu entre os doentes da alma e se mostrou como o médico que vinha para curá-los (Marcos II; 17). Foi forte suficiente com Simão Pedro quando o impeliu a largar as redes do ofício humano, mas o candidatou a se tornar um pescador de homens. Discutiu com os doutores da lei sem perder tempo de mostrar-se como o preposto de Deus, muito além das palavras contidas nas escrituras. Admoestou sua mãe quanto ao pertencimento à família universal mantendo a gentileza filial e a reciprocidade ao seu carinho. Brandiu autoridade diante de Espíritos malévolos que atacavam o rapaz atormentado, contudo prometeu que nenhuma das almas se perderia do seu rebanho.  
          No atropelo do mundo em que vivemos não há como deixar de ser atingido pela onda de intolerância, desrespeito e disfarces. As forças que se digladiam no seio da civilização reproduzem as nossas imensas imperfeições internas. O ensejo de lutar contra as muitas distorções que reconhecemos nos discursos destituídos de essência que retratam os meios sociais e políticos que perfazem as nossas rotinas são apelos para buscar a técnica da brandura associada à energia testemunhada por Jesus. No espaço de evolução em que nos situamos são naturais as dificuldades desse exercício, mas é necessário que se inicie. Enquanto Jesus tinha uma profundidade que espelhava Deus em suas atitudes revelamos um reflexo ainda distorcido da divindade.
          Diante das falácias, que mostram um verbo dissociado da ação, é exigido que não haja acumpliciamento com a doença que degenera a ação humana, sequer aplausos àquele que deixe de empunhar a bandeira do bem comum. Impõe-se que tenhamos posição ativa no combate ao mal, desde que não nos tornemos perseguidor vingativo daqueles que pelejam na obscuridade do engodo e da fraude, senão como alimentadores do ódio esqueceremo-nos de cobrar renovação da própria atitude em nos constituindo em juiz do outro. Manter o raciocínio arejado é passo importante para quem pretende conhecer a si mesmo, para resistir aos arrastos das facilidades do mundo, ao mesmo tempo em que permite ver naquele que despenca pelas correntes da irreflexão alguém que luta com armas frágeis e se perdeu das expectativas de paz interior. Combater esse combate não nos faz exatamente melhores que o outro, apenas denuncia que estamos noutra sintonia.
          Jesus sabe o quanto teve que batalhar para alcançar a visão que compartilhou conosco há dois mil anos. Atingida a Sua Iluminação nos propôs a mesma estrada. Sinalizou que podemos agir com energia contra o mal que nos acomete, conquanto parametrizada pela brandura que nos ensinou. Podemos começar, a perfeição é o alvo que inicia já.       

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