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MÃE ACIMA DE TODAS AS CONTROVÉRSIAS¹



  

 
Aquelas lágrimas caíram como uma tempestade quando questionada onde estava o habitante daquela barriga de meses passados. O questionador pensava que aquele bebê repousava em algum berço, pois a mulher se mostrava esquia quando antes exibia uma gravidez que precisava fazer força para mostrar, tão no princípio estava naquele momento que estiveram juntos. O choro ante a pergunta denunciava algo grave. No decorrer da 24ª semana descobrira que a sua criança, sexo masculino, trazia lesões cerebrais por malformação produzida por hipertensão do líquor (líquido que circula no cérebro e pelas meninges) com macrocefalia. A despeito da possibilidade de retirada do feto pelas circunstâncias de possível inviabilidade, a sua necessidade de concretizar a gestação a levou a tomar uma difícil decisão: iria levar aquela gravidez até o fim e se responsabilizaria em cuidar daquela criança. Fazia contas para a hora do nascimento, quando à altura da 34ª semana foi informada depois de um exame de rotina obstétrica que o seu menino havia falecido dentro do seu útero. Foi como se as paredes tivessem fechado sobre seu corpo. O médico pergunta como queria fazer a partir de então e ela, que até então sonhava com um parto normal, decidiu que não podia parir uma criança morta e pediu ao médico que marcasse para o dia seguinte a sua cirurgia. A data em que se despedira do seu filhinho já completara 4 meses e seu coração ainda chorava em silencio. Havia voltado ao trabalho, às atividades físicas, ao corpo esbelto, mas a sua alma padecia, queria urgentemente ajuda para sair da tristeza. 

            Ver o sorriso no rosto daquela pessoa depois de convencida de que fizera tudo que estava em seu poder para amar de forma incondicional aquele ser que acabou sendo vencido pelas suas limitações biológicas era um prêmio para aquele interrogador emocionado. Aquela valentia que chorava com a dignidade dos vencedores que sofreram um golpe cruel em suas entranhas precisava ser aconchegada e exaltada, enquanto os conceitos salvadores da imortalidade seriam o travesseiro para repousar a sua cabeça cansada e aflita.
            O Livro dos Espíritos veio em socorro (q.149): “em que se transforma a alma no instante da morte? – volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ela havia deixado temporariamente”. Saber que o seu filhinho continuava vivo e que possivelmente ambos haviam ajustado determinados compromissos, os quais poderiam ter sido sanados diante daquela experiência dolorosa, parecia fazer aquela mulher anestesiar a dor. Todo aquele que não tenha atingido a perfeição em desencarnando haverá de retornar (LE q.116), e quem sabe pudessem se encontrar noutra circunstância? Ela respirou, sorriu, mostrou--se aliviada. A reflexão em torno de tais conceitos trazia de volta o sentido da ideia de Deus.
Gratidão no ar. Justamente na semana que haveria de homenagear as mães, em artigo a ser publicado, o interlocutor recebe uma pérola de testemunho que desnudava a força que uma mulher pode exibir quando tem que brigar pela sua cria. Ali havia uma Mãe que a Natureza adiou e que poderia numa data como essa elevar uma prece em pedido de proteção ao filhinho que dormiu em seu regaço nem que tenha sido por apenas 8 meses de gestação. O fato é que a história de mãe com filho não acaba nunca, é amor para toda a existência.
Por tão grande amor aos filhos paridos, perdidos, crescidos. Muito obrigado às Mães. 

¹ editorial do programa Antena Espírita, de 14.05.2017.



Comentários

  1. Francisco Castro de Sousa14 de maio de 2017 às 17:17

    Excelente Homenagem às Mães do Brasil e do Mundo! O Editorial de Antena Espírita que só vai ser lido no programa daqui a algumas horas e Canteiro de Ideias já antecipa para as leitoras e leitores do Mundo Inteiro! Tudo com base na Doutrina Espírita, uma Doutrina que esclarece, orienta e consola! Que não pergunta qual a religião do leitor e que não segrega ninguém! Parabéns ao CANTEIRO DE IDEIAS por esse previlégio!

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