terça-feira, 10 de dezembro de 2013

UM EXEMPLO DE HOMEM DE BEM¹

           

Por Roberto Caldas (*)


            Dona Rita, mulher singular, idosa e analfabeta não conseguia entender o que a televisão tanto falava e repetia durante toda a manhã daquela quarta-feira, dia 05/12. Repetidas vezes ouvia que a “mãe dela” havia morrido e pessoas se revezavam falando a respeito do acontecimento. Dona Rita pensava que devia se tratar da mãe de alguém muito conhecido, talvez algumas dessas artistas que costumava acompanhar pelas novelas diárias que assistia depois de parar as suas atividades caseiras.

            Desconhecia a D. Rita que naquele dia o mundo dos encarnados se despedia de um dos maiores exponenciais de mudança e renovação de um povo, desde Gandhi. A Terra estava naquele dia dando adeus ao grande Nélson Mandela, sobrenome entendido como se tratasse da “mãe dela”. Homem que foi o ícone da derrubada de um dos mais cruéis regimes depois do Holocausto, Mandela resistiu a décadas de privação da liberdade física e colecionou perdas de amigos e familiares devastados pela incoerência de um governo que decretou a segregação e condenou a cor da pele negra sem respeitar a dignidade humana que nos torna iguais.
            Liberto é ovacionado pelo povo que defendia, mas tornado o primeiro mandatário da África do Sul, diferente do que temia o mundo e certamente desejavam muitos dos seus partidários que era a revanche, resgata o sonho de Martin Luther King e desfralda a bandeira da paz. No discurso de posse como presidente daquele país fala da construção de um novo tempo, sem ódios, sem vingança, uma aposta na cultura da igualdade racial e do respeito humano antes de qualquer alternativa. Suas palavras naqueles 10 de maio de 1994 não permitiam dúvidas quanto as suas intenções: “Chegou o momento de sarar as feridas. Chegou o momento de transpor os abismos que nos dividem. Chegou o momento de construir.” É certo que usou armas e comandou guerrilhas durante as agruras das perseguições, mas soube respirar a paz tão logo lhe coube as regalias de comandar a vida daquela nação, inaugurando uma nova era para o seu povo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo em seu capítulo XVII (Sede Perfeitos) assinala entre as muitas características do homem de bem que “Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.” Dessa forma e por outras tantas razões podemos distinguir o querido Nélson Mandela, que se despede dessa encarnação, com a qualidade de ter-se tornado um homem de bem.
Nosso respeito ao grande líder. Homem que nos deixou uma herança que pode fazer a humanidade caminhar num projeto de união e renovação. Suas palavras são precursoras de um novo tempo: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”
Eis um exemplo digno de ser seguido. À Mandela, dona Rita, as nossas saudações nessa noite.

    



 ¹ editorial do programa Antena Espírita de 07/12/2013.

(*) editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.

2 comentários:

  1. Caro Roberto!
    Inspirada e merecida homenagem. Que possamos nos inspirar no exemplo de Mandela, e deixarmos também o nosso legado de vivência espírita, no que conclama a Lei de Amor, Justiça e Caridade.
    Parabéns!

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  2. Parabéns Roberto pelo inspirado texto!

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